“Bolsonaro é um desastre”, diz presidenciável do Novo em visita ao Estado

Credito: Iuri Aguiar

No primeiro evento público após o anúncio de sua pré-candidatura à Presidência da República pelo partido Novo – na última quarta-feira (03) –, o cientista político Felipe d’Avila participou do 9º Fórum Liberdade e Democracia (ontem, 05, em Vitória) e, em entrevista para a coluna, falou de suas bandeiras voltadas à pauta econômica, sobre a construção de uma terceira via em meio a tantos nomes e chamou o governo federal e o Presidente de “desastre”.

O tom de Felipe sinalizou que o Novo deve engrossar as críticas ao governo federal – a oposição unânime à PEC dos Precatórios já seria o primeiro passo – e não apoiá-lo num eventual segundo turno em que Bolsonaro passe e Felipe, não. Ao contrário do que ocorreu em 2018.

Porém, ele não critica o comportamento do partido – que foi base de apoio do Presidente em muitas votações, ganhando até o apelido de “bolsonarismo de sapatênis” – até aqui. “Acho que é muito difícil julgar obra feita, o que tem que entender é qual a decisão que se toma hoje”. Ex-tucano, criador do Centro de Liderança Política (CLP) e escritor, ele também atacou a pauta “PCC” (patrimonialismo, corporativismo e clientelismo) mantida pelo Congresso.

Leia a entrevista:

De Olho no Poder – Sua candidatura vem após uma turbulência interna do partido, que teve o ensaio da pré-candidatura do João Amoêdo. Como está a situação agora, o Novo está rachado?

Felipe d’Avila – Não, agora o Novo está unido. Nós tivemos conversas com os mandatários, diretórios e isso ajudou a reunir o partido, que está no processo final de candidatura para começarmos nossa marcha pelo Brasil, para ouvir o brasileiro.

Sua candidatura passou por um processo seletivo?

Sim e gostei muito. É um processo que dá muita segurança da qualidade dos candidatos que são escolhidos, aliás, acho que isso é um diferencial do Novo com relação aos demais partidos.

Para a próxima eleição (2022), o Novo vai mudar a postura com relação ao uso de recursos públicos para a campanha?

Não. Não vai ter utilização dos fundos públicos. Isso foi decidido pelo diretório nacional do partido.

Quais as principais bandeiras que serão abordadas na campanha?

Felipe palestrou em evento
Crédito: Iuri Aguiar

O principal ponto é a economia. O Brasil precisa voltar a crescer, a gerar emprego, gerar renda. O Brasil precisa combater a miséria, resolver a questão da inflação. A pauta econômica é a pauta central para o resgate de um país que está há 10 anos atolado numa recessão econômica, que tem mais de 20 milhões de brasileiros que voltaram à miséria e mais de 15 milhões de desempregados. O problema urgente do Brasil é voltar a ter investimento, renda, emprego e combater a inflação e é essa a pauta inicial que iremos atacar, porque sem isso não há sequer recursos para fazer programas sociais de forma responsável. Precisamos criar um Brasil para os empreendedores.

E de que forma?

Abrindo a economia, vendendo as estatais, seguindo as reformas do estado, resgatando a confiança nas leis e nas regras do jogo, porque hoje os investidores fogem do Brasil por causa da instabilidade política e econômica, e da insegurança jurídica. Vamos atacar esses problema.

Como outros pré-candidatos, o senhor entra para tentar pavimentar a 3ª via. Já são vários nomes. O senhor defende uma união entre todos, ou quanto mais opções melhor?

São dois momentos. Nesse momento é melhor ter o maior número de candidatos, por quê? Porque quem vai escolher o melhor candidato, aquele que conecta, que se interessa pelos reais problemas, é o povo. Não é uma escolha feita entre partidos e caciques. Temos que expor os candidatos, para debater suas ideias, aí o povo que vai escolher. E quando isso acontecer, vai subir nas pesquisas, aí sim vamos ter união.

Mas sua candidatura é irreversível? Ou o senhor pode abrir mão para apoiar alguém lá na frente?

Nós estamos todos competindo para ser esse candidato (da 3ª via), não tem ninguém que entre numa disputa presidencial para abrir mão da candidatura lá na frente. Quem vai decidir é o eleitor. Lá na frente nós sabemos que um vai prevalecer sobre os demais, se nós tivermos no início da eleição todos os candidatos iguais, vai ser muito ruim para o Brasil, porque uma terceira via dividida ajuda na perpetuação da polarização, que é um verdadeiro desastre para o país.

O senhor já foi do PSDB, por que deixou o partido?

Saí do PSDB há mais de 3 anos. Acho que o PSDB é um partido que está tendo enorme dificuldade de se reinventar, renovar e responder aos anseios da população.

Como o senhor vê a postura do Congresso com relação a Bolsonaro?

Felipe criticou a pauta “PCC” no Congresso: patrimonialismo, corporativismo e clientelismo

Um governo sem rumo só sobram três pautas no Congresso: a do patrimonialismo, do corporativismo e do clientelismo. Então, estão todos lá tentando salvar essas pautas e dando as costas para o povo brasileiro. Essa pauta do corporativismo só vai ajudar a aumentar a miséria, o desemprego, e manter o Brasil atolado no baixo crescimento econômico. É uma vergonha! São pautas de um governo incompetente, sem rumo e sem capacidade de escolher as suas prioridades.

Mas o senhor inclui, na sua crítica, também os parlamentares do Novo?

Não, veja a votação dos parlamentares do Novo. Na PEC dos Precatórios, o partido votou 100% contra esse absurdo, um dos pilares essenciais da liberdade, do Estado de Direito é honrar contratos. O que a PEC está fazendo é constitucionalizar a quebra de contrato. Isso é um desastre para o país. Imagina um país que precisa investir em infraestrutura e saneamento básico, em estradas e portos. Como alguém vai colocar dinheiro a longo prazo se contratos não são respeitados? Principalmente ações judiciais transitadas e julgadas, que o governo perdeu e não vai pagar. Como é que é isso? É um absurdo total.

Há alguma possibilidade de o Novo num eventual segundo turno apoiar Bolsonaro?

Não, o partido Novo está justamente apresentando candidato a presidente da República porque nós repudiamos o populismo de direita e de esquerda, que é um desastre para o país, para a democracia, para as questões social, política e econômica.

O senhor acha que o Novo fez mal em apoiar Bolsonaro, isso pode pesar para o partido nas próximas eleições?

Acho que é muito difícil julgar obra feita. O que tem que entender é qual a decisão que se toma hoje, à luz da história é uma outra história. Todo mundo queria dar o benefício da dúvida a Bolsonaro em 2018, porque achava que ele seria o cara que iria derrotar o PT, mas agora não tem benefício da dúvida, você já sabe como ele é, e é um desastre. Não tem como agora apoiar um sujeito que mostrou um track record (trajetória) desastroso nesses últimos três anos. É outra história. a política é isso.

O senhor votou nele?

Não.

Como o senhor vê a candidatura do Aridelmo ao governo do Espírito Santo?

Vejo muito bem. É uma pessoa que tem espírito público, tocou esse projeto do “ES em Ação”, hoje é secretário (da Fazenda, em Vitória), vem fazendo mudanças importantes nesse governo, como a regularização fundiária. Ele tem a capacidade de fazer uma boa gestão das finanças. Está preparado para disputar o governo do Estado.