Rigoni elogia Casagrande mas diz que ciclo do socialista está chegando ao fim

O deputado federal Felipe Rigoni nem hesita ao ser questionado se sua pré-candidatura ao governo do Estado é definitiva. Afirma categoricamente que o projeto não é só dele, mas também do seu novo partido, o União Brasil. E que já tem equipe e planos para rodar o Estado num processo de “escuta” para formar seu plano de governo.

Quer um governo mais digital e dinâmico, com uma economia liberal, mas que também forneça proteção social. Assim como no seu mandato de deputado, deve fazer da educação sua principal bandeira durante uma possível campanha e, pelo tom que se referiu à atual gestão do governo do Estado, não deve partir para o “vale-tudo” eleitoral e nem baixar o nível nas críticas a Casagrande.

Rigoni saiu do PSB magoado. Ele se considera injustiçado e perseguido pela suspensão que recebeu do partido após ter votado a favor da reforma da Previdência. “Foi desmedida a reação”, disse Rigoni. Ele também afirmou que se enganou “sumariamente” com o partido. “Achava que o PSB seria o PSB que Eduardo Campos estava construindo: muito mais de centro”, justificou.

Mas o ressentimento à legenda não se estende a Casagrande, a quem chama de “amigo” e de “bom governador”. Ele é próximo da família do socialista também. Rigoni chegou a empregar, em seu gabinete, o filho do governador, Victor Casagrande, de quem é amigo desde 2013.

Ou seja, se vingar mesmo sua pré-candidatura ao Palácio Anchieta, Rigoni deve ter como estratégia valorizar as boas ações das gestões anteriores, mas mostrar que é preciso iniciar um novo ciclo na política capixaba. Foi isso que deixou claro na entrevista que deu ao programa “De Olho no Poder com Fabi Tostes” na rádio JP News Vitória (90.5 MHz) nesta quinta-feira (20).

“O que me motivou a lançar uma candidatura é que nós estamos no fim de um ciclo político. O Espírito Santo pode ser dividido no tempo em vários ciclos políticos de 20 anos. Esse ciclo do Paulo Hartung e do Casagrande foi um ciclo muito bom. A gente saiu da série D, do campeonato, para a série A. A gente ajeitou as contas públicas, melhorou as instituições, aumentou a transparência do governo, melhorou uma série de políticas públicas. Mas esse ciclo está acabando. Mesmo que se estenda, num possível segundo mandato do Renato, vai acabar no máximo em 2026 e falta um projeto de Estado para o próximo ciclo. Essa é nossa grande tarefa”.

O formato desse novo ciclo ainda não está bem claro. Rigoni quer construí-lo junto com uma equipe técnica e política e ouvindo os capixabas – algo que outros pré-candidatos também já estão fazendo. A estratégia não é nova. Ouvir o povo para montar o plano de governo é algo prometido por muitos políticos, até os de carreira. A questão é como transformar o desejo popular em ação, tirá-lo do papel – ou, no caso de Rigoni, do arquivo digital – e transformá-lo em realidade.

Esse, porém, é um desafio secundário. Antes, o deputado terá de vencer alguns desafios para conseguir se viabilizar como candidato ao governo do Estado. Eis alguns:

Rumo do partido

Rigoni e ACM Neto na filiação ao União Brasil

Questionado sobre que rumo o União Brasil iria tomar nacionalmente, Rigoni disse que o partido ainda não definiu e que está conversando com todos os pré-candidatos à Presidência da República, com exceção de Lula e Bolsonaro. É bom lembrar que o União Brasil é a junção do DEM e do PSL e tem, em seus quadros, muitos apoiadores de Bolsonaro. Rigoni alega, porém, que os bolsonaristas devem deixar a nova legenda. “Quando o partido se formar, vai abrir uma janela e vai ter várias dissidências”, acredita.

Quanto aos estados, o partido já definiu, segundo Rigoni, que vai ter 15 candidaturas próprias ao governo – sendo uma delas a de Rigoni, no Espírito Santo. O deputado afirmou que vai fazer parte do comando estadual da nova sigla e vai ajudar a decidir. Mas como está a nova legenda hoje?

O PSL capixaba, comandado pelo coronel Alexandre Quintino, faz parte da base aliada do governador Casagrande. Tanto que, os deputados bolsonaristas que se elegeram pela legenda – como Capitão Assumção, Torino Marques e Danilo Bahiense – ou já saíram ou estão prestes a trocar de partido.

Já o DEM, comandado pelo ex-senador Ricardo Ferraço, não faz parte da base do governo. Mas isso pode ser questão de tempo. Ricardo e Casagrande têm feito movimentos de aproximação, embora o pai, Theodorico Ferraço, ande meio arisco com o governo. Ricardo será o futuro presidente do União Brasil no Estado, sendo que Rigoni e Quintino farão parte da nova executiva.

Rigoni foi questionado sobre essas aproximações e se isso já não seria um indicativo de que o União Brasil poderá apoiar Casagrande à reeleição. “O União Brasil capixaba quer ter uma candidatura própria. Estamos conduzindo esse projeto, não só eu, o partido está conduzindo esse projeto. Se lá na frente não se tornar uma candidatura própria, é óbvio que vai discutir com muita gente, não só com Casagrande. Mas isso vai ser decidido muito lá na frente”. Rigoni disse que não há, hoje, nenhuma objeção a Casagrande.

Reduto disputado

Guerino é prefeito de Linhares

Outro ponto é que Rigoni é de Linhares, o mesmo município comandado pelo prefeito Guerino Zanon, que também é pré-candidato ao governo. Guerino está em busca de uma legenda que banque sua candidatura ao governo já que, no MDB, parece não ter conseguido espaço.

Rigoni já se reuniu e debateu com o prefeito. Ele, porém, descartou que ter dois candidatos do mesmo reduto pudesse atrapalhar os seus planos. “Essa candidatura é para o estado do Espírito Santo, não é só para Linhares”, disse Rigoni.

Linhares deu mais de 25 mil votos para Rigoni, ou seja, 30,4% da votação que o deputado recebeu em todo o Estado (84.405). Se tiver que competir contra o prefeito que hoje tem a máquina na mão, muito provável que os votos sejam, no mínimo, divididos.

Convergência x Divergência

Embora o deputado tenha frisado muito que o União é um partido novo, seus dirigentes são políticos já de longa carreira – ACM Neto (DEM) e Luciano Bivar (PSL) nacionalmente e, aqui, a família Ferraço. Segundo Rigoni, o partido será de centro, com orientação liberal na política e na economia e vai apresentar um novo projeto para o país e para o Estado.

Para o deputado, os filiados que não se adequarem ao novo posicionamento do partido vão sair durante a janela aberta para dissidências. O bolsonarista-raiz, aquele que defende o Presidente independente de qualquer coisa, deve deixar a legenda, segundo Rigoni. Mas, e se não deixar? E se, lá na frente, os dirigentes nacionais sinalizarem que podem fechar apoio à reeleição de Bolsonaro, ainda que no segundo turno? E se, no final das contas, os arranjos nacionais interferirem nas decisões regionais? Rigoni continuaria na legenda? E nela, estaria confortável para apresentar seu projeto de governo? A conferir.

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“Vai ser um caos!”

Não se tem notícia de que o deputado federal Felipe Rigoni (PSL) seja vidente. Mas ele prevê um cenário difícil para as eleições desse ano, principalmente por conta do que já tem visto de campanhas de desinformação. Questionado pela coluna De Olho no Poder sobre como imagina que estará o cenário das eleições, Rigoni respondeu: “Ah, vai ser um caos!”.

“Não tem jeito, cada vez mais os produtores de fake news de qualquer um dos lados da política estão se profissionalizando. E muito. E a inteligência artificial os ajuda muito na disseminação. O grande problema de uma desinformação é que a informação, de fato, não chega a todo mundo que a desinformação chegou. Isso é um dilema muito dificil de resolver. Então você nunca consegue rebater uma desinformação da maneira correta”, explicou Rigoni.

Perguntado, então, se seria uma guerra já perdida, o deputado respondeu: “Existem maneiras de mitigar, não sei se vai ser uma guerra perdida, mas vai ser muito difícil. TSE e outros terão muito trabalho”.

Rigoni é autor de um projeto de lei de regulação da moderação de conteúdo na internet, que ficou conhecido como o projeto de combate às fake news – embora, segundo Rigoni, nem cite esse termo no projeto. Questionado em que pé ele estaria, o deputado respondeu que está parado.

“Tem uma comissão especial discutindo ele (projeto) porque, de fato, é um assunto muito delicado. É um projeto de moderação de conteúdo, justamente para proteger o indivíduo, porque as redes sociais estão fazendo isso (moderando conteúdo). Mas é um assunto delicado, que exige muito tempo de discussão”, explicou Rigoni.

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Na íntegra

O deputado federal Felipe Rigoni também falou sobre Educação, citando que no governo Bolsonaro a educação brasileira regrediu muito, também falou sobre a condução da Economia, sobre polarização, cenário nacional, terceira via e contou um pouco de sua história, de como ficou cego e como fez para superar um momento tão difícil. A entrevista na íntegra pode ser conferida aqui: