Chefe do MP diz que prefeito não a procurou para denunciar supostos casos de corrupção no governo

Procuradora-geral de Justiça, Luciana Andrade / crédito: Ana Salles/Ales

A procuradora-geral de Justiça, Luciana Andrade, em entrevista para a coluna “De Olho no Poder”, disse que não foi procurada pelo prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini, para denunciar supostos casos de corrupção no governo do Estado. Ao ser questionada se o prefeito teria procurado o Ministério Público, ela disse “desconhecer”. “A mim, diretamente, não procurou e eu desconheço que ele tenha procurado alguma promotoria ou unidade”.

Em ofício encaminhado por email ao prefeito na última terça-feira (17), a procuradora deu um prazo de cinco dias para que o prefeito dê mais detalhes e esclarecimentos sobre as acusações que fez de suposta corrupção na sede do governo do Estado.

“Eu ouvi atentamente a manifestação do prefeito, no vídeo, mais de uma vez até, e realmente, além da ilação do local do fato, o Palácio Anchieta – que é o que eu presumi, óbvio, um palácio no centro da cidade, que tem o nome de uma autoridade eclesiástica – mas, além disso, quem foi? Como foi? Quando foi? O objeto da denúncia até para estabelecer: é cível? É criminal? Quem é o colega que vai atuar? Sou eu mesma? Outro colega? Eu não consegui maiores elementos para chegar numa conclusão. Nessas condições, o que a gente faz? A gente solicita, então, nova manifestação do denunciante”, explicou Luciana.

No último sábado, durante a entrega de uma escola no bairro Jardim Camburi, o prefeito disse que participou de uma reunião, no ano passado, num palácio no centro de Vitória, com nome de uma autoridade católica, e que nessa reunião uma “autoridade X” ofereceu investir em Vitória, mas com a condição de que uma determinada empresa iria realizar a obra. “A licitação já tinha ganhador”, disse ele, sem citar o nome da autoridade, o nome da empresa e nem quando teria ocorrido a tal reunião. Pazolini disse também ter provas sobre as acusações, embora não as tenha apresentado no dia.

No mesmo sábado, a Procuradoria Geral do Estado (PGE) entrou com uma representação no Ministério Público Estadual (MP-ES) para que o prefeito informasse imediatamente a quem estava se referindo e que apresentasse provas “sob pena de ser processado criminalmente por ofensa à honra provocada por imputações inverídicas”.

Desde então, Pazolini então tem sido questionado sobre as supostas provas e também se teria denunciado o suposto ato ilícito quando ele ocorreu. O prefeito e sua assessoria têm optado pelo silêncio. A chefe do MP-ES, porém, confirmou que não recebeu nenhuma denúncia.

Ontem, durante sessão na Câmara de Vitória, houve um debate acalorado, entre a base e a oposição, sobre se o prefeito teria ou não prevaricado ao não ter denunciado o suposto fato ilícito aos órgãos competentes e ter esperado para trazer a “revelação” no período pré-eleitoral.

Na manhã de segunda-feira (16), dois dias após ter feito as acusações, Pazolini foi até a sede da Polícia Federal e esteve com o superintendente, delegado Eugênio Ricas, a quem teria entregue documentos contendo informações sobre a possível prática de crimes. O material foi encaminhado à Corregedoria para análise. A PF não informou, porém, nada sobre o conteúdo dos documentos, nem se teria relação com as acusações feitas por Pazolini no sábado.

A procuradora vai aguardar a manifestação do prefeito para determinar os próximos passos. Até a noite de ontem, ela não tinha conhecimento se Pazolini já tinha respondido ao ofício. Questionada se havia alguma agenda marcada com o prefeito para hoje ou próximos dias, ela disse que não. “Eu despachei o procedimento e estou oportunizando que ele me apresente por escrito. Imagino que os elementos sejam por escrito. Estou aguardando o posicionamento, a manifestação. Não agendei com ele e não posso precisar se ele já respondeu algo”, disse Luciana, explicando que há várias entradas para se protocolar documentos no Ministério Público.

A chefe do MP disse que ainda não entrou no mérito da questão e que o ofício ao prefeito não significa acolhimento à demanda da PGE. “Quando eu peço as informações, não é porque eu estou deferindo o pedido da Procuradoria Geral do Estado, não. Para eu poder analisar qualquer coisa, para tomar qualquer atitude, inclusive de encaminhamento para um órgão de execução que possa apreciar o pedido da PGE, eu preciso de alguns elementos a mais, e ali (o vídeo) realmente não é suficiente para eu poder dar prosseguimento”.