Política

'Nunca suspeitei', diz Paes sobre desvios de obras apontados pelo MPF

Redação Folha Vitória

O ex-prefeito do Rio Eduardo Paes disse que nunca soube nem "nunca suspeitou" de desvios, nem do suposto pagamento de propinas, relacionados à Secretaria Municipal de Obras durante seu governo (2009-2016). O secretário que controlava a pasta na época, Alexandre Pinto, está preso. O ex-funcionário é acusado de participar de um suposto esquema de desvio de R$ 36 milhões nas obras municipais da Transcarioca e de Recuperação Ambiental da Bacia de Jacarepaguá.

Paes prestou depoimento, na tarde desta quinta-feira, 8, ao juiz Marcelo Bretas da 7ª Vara Federal Criminal, na condição de testemunha de defesa de Pinto, depois de pedido da defesa do ex-secretário. O ex-prefeito disse que nunca ouviu falar de denúncia contra Pinto, e que, se soubesse, teria demitido o funcionário.

"Não houve nenhuma denúncia da imprensa ou pelos órgãos de controle. Como prefeito, eu era responsável por nomear e exonerar. Se eu achasse que alguém fosse incompetente, ou tivesse fazendo algo errado, eu pediria a cabeça dessa pessoa", disse.

O ex-prefeito, que flerta com PP e PDT, disse também que todas as obras de seu governo eram acompanhadas com "uma certa lupa". Esclareceu, porém, que a lupa não era dele.

"Todas as obras que nós realizamos eram acompanhadas com uma certa lupa pelo fato das Olímpicas. Você tinha o acompanhamento dos órgãos de controle, TCU, TCM, CGU, a imprensa, a Força-Tarefa da Lava Jato do Ministério Público A lupa não era minha porque não entendo de obra, mal sei fazer as quatro operações", afirmou.

Paes voltou a sustentar que nomeou Pinto porque ele era um servidor da prefeitura e um "quadro técnico". Declarou também que não tinha relações pessoais com o seu ex-funcionário, nem com empreiteiros envolvidos nas obras.

"Eu não estabeleço relações pessoais com ninguém. Meus amigos são os amigos da vida inteira. Nunca tive relação pessoal com ninguém que prestasse serviços à prefeitura. Empreiteiro tem duas manias, uma de chamar todo mundo de chefe, que é uma situação muito esquisita, e a outra de achar sempre que está tomando prejuízo", afirmou.

Paes também disse que não era responsável pela escolha de estruturas da prefeitura subordinadas a Secretaria de Obras, como a Rio-Urbe, Rio-Águas e Geo-Rio e, sim o ex-secretário. Questionado por Bretas se teve conhecimento de solicitação de contribuição para campanha a empreiteiros, prática relevada por colaboradores da Lava Jato, o ex-prefeito disse que não.

"Veja bem, Excelência, o secretário de Obras era um servidor da prefeitura e não tinha nenhuma relação com a política justamente por isso", justificou.

Em rápida entrevista para a imprensa após o depoimento, Paes voltou a dizer que em nenhum momento houve qualquer denúncia contra o desvio de verbas em obras da prefeitura.

"Espero que não seja de verdade, mas se for, também não chegou ao meu conhecimento", disse.

Paes disse também que "imaginar que um prefeito vai entender do detalhe da obra e vai ficar acompanhando detalhe de obra é impossível". "Você tem órgãos de controle, e nesse caso são muitos, internos e externos, que são os responsáveis por isso. Prefeito não se dedica a isso, prefeito se dedica a governar, cuidar de diversas áreas. Se você tem um time dedicado a isso e nada encontrou, não era eu que não entendo e detalhe de obra que ia encontrar", argumentou.

Quando lhe perguntaram se acha que Pinto é inocente, ele disse que "não acha nada". "Quem tem que achar é a Justiça", disse. "É minha obrigação prestar depoimento. Eu quero, mais do que ninguém, que as coisas sejam esclarecidas. Quanto mais rápido a Justiça for feita, melhor", disse.

Sobre o fato de ter ex-aliados políticos de partido e palanque presos, como o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) e o presidente afastado da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Jorge Picciani, Paes disse que "a Justiça está tomando as decisões que acha adequada".

Apesar de negar, Paes deve se candidatar neste ano para o governo do Rio. Hoje, o ex-prefeito está inelegível por decisão tomada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ), por abuso de poder político-econômico.

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