Tendências: próximo presidente terá que fazer ajustes
Buenos Aires - Em qualquer cenário político aberto depois das eleições no Brasil, o próximo presidente terá que fazer ajustes na política econômica para recuperar a credibilidade do País e fazer a economia crescer. A avaliação é do economista chefe da consultoria brasileira Tendências, Juan Jensen, durante apresentação em Buenos Aires, nesta quarta-feira, 28, de lançamento da Aliança Latino-Americana de Consultorias Econômicas (Laeco), formada pela própria Tendências, Ecolatina (Argentina), Macroconsult (Peru), EConcept (Colômbia), Gemines (Chile) e Ecoanalítica (Venezuela).
Jensen repassou a trajetória da gestão da presidente Dilma Rousseff, que mudou o tripé da política de câmbio flutuante, superávit primário e metas de inflação. "O que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, chama de nova matriz econômica, com o objetivo de gerar maior crescimento econômico, não conseguiu o resultado desejado", criticou. Ele recordou que a presidente queria taxa real de juros de 2% anuais e chegou a conseguir 1,4%, mas acabou cedendo até chegar aos atuais 11% nominais, devido à alta inflação, que subiu de uma média anualizada de 4% para cerca de 6%. Enquanto isso, o crescimento econômico baixou de uma média de 4% para 2% ao ano.
O economista afirmou que as mudanças empreendidas pelo governo Dilma, além de não levarem o País ao crescimento, provocaram a desconfiança dos mercados. "Os ajustes devem começar a partir do ano que vem, seja quem for o eleito em outubro", apontou. Ele reconheceu que Dilma é favorita à reeleição, apesar do baixo crescimento econômico e da alta inflação, mas o quadro político é ainda indefinido e a oposição tem chance de ganhar as eleições.
"Pesquisa DataFolha mostrou que 74% dos eleitores desejam mudar a política do governo e este nível é similar ao de 2002, quando Fernando Henrique Cardoso não conseguiu eleger seu sucessor", recordou. "É uma eleição para dois turnos e o cenário é aberto." O economista disse que, se o próximo governo ajustar um pouco os fundamentos econômicos, o País pode crescer 3% ao ano. Se realizar reformas profundas, o Produto Interno Bruto (PIB) alcançaria 4%.
Em caso de uma vitória de Dilma, a cotação do câmbio voltaria rapidamente a R$ 2,45. Se a oposição ganhar, o dólar ficaria em R$ 2,10, estimou. "O governo tem muito baixa credibilidade na questão fiscal e para não perder o grau de investimento tem de recorrer à contabilidade criativa", afirmou. Jensen disse que o Brasil vai passar por um quadro complicado nos próximos meses e, a partir de 2015, Mantega não será mais ministro da Fazenda, mesmo em caso de vitória de Dilma.