Tesoureiro do PT carrega 'um peso nos ombros', afirma Paulo Ferreira
Salvador - Ex-tesoureiro do PT que assumiu as contas do partido após a queda de Delúbio Soares, em meio ao escândalo do mensalão, Paulo Ferreira disse que, hoje, Márcio Macedo sente o mesmo "peso sobre os ombros" que ele sentiu na ocasião.
"É evidente que esse peso sobre os ombros recai sobre ele também. É uma responsabilidade extraordinária estar à frente das contas do PT, ainda mais quando há uma vigilância e até uma militância jurídica e midiática diferenciada entre PT e demais partidos", disse Ferreira ao Broadcast Político, serviço em tempo real da Agência Estado.
O ex-tesoureiro diz ser amigo de Macedo e acreditar que ele saberá "enfrentar o desafio". Ferreira também sai em defesa de João Vaccari - preso em meio às investigações da Lava Jato - e diz ver uma ação política das investigações.
"O que o Vaccari fez, o PT, é semelhante ao que outros partidos fazem, são condições simétricas. Há é uma disputa política aguda que recai sobre o PT. Por que recai sobre o PT e não sobre o PSDB?", questionou nesta quinta-feira, 11.
Ele alegou ainda que as movimentações de Vaccari e da filha, assim como a evolução patrimonial, já foram "esclarecidas" e que acredita que ele conseguirá em breve um habeas-corpus. "O Vaccari era conselheiro da Itaipu, ganhava US$ 30 mil por mês, você acha que não teria como justificar a origem desses valores?"
Ferreira participa dos debates do 5º Congresso do PT, que começa hoje em Salvador. Ele é um dos coordenadores da principal corrente interna da legenda, a Construindo um Novo Brasil (CNB). Um dos pontos delicados a serem tratados no encontro é o financiamento empresarial aos diretórios petistas. Para Ferreira, a única solução é a que vem sendo defendida pelo partido: acabar com as doações empresariais.
Em resolução de abril, o partido definiu que não receberia doações empresariais para os diretórios e deixou em aberto a questão da doações para candidaturas. Uma proposta de emenda constitucional (PEC) aprovada na Câmara - que ainda depende de tramitação no Legislativo e está sendo alvo de ações no Judiciário - vai na direção oposta, liberando doação a partidos e vetando transferência de empresas para campanhas eleitorais.
A movimentação articulada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pode obrigar o PT a recuar. As pressões internas crescem, principalmente de diretórios endividados, como o de São Paulo, que tem dívidas de R$ 55 milhões ainda da campanha de Alexandre Padilha ao Palácio dos Bandeirantes.
Ferreira admite que o partido precisará rever a posição de vetar as doações empresariais. "Quando essa resolução foi aprovada, dois meses atrás, o cenário era outro, agora não tem sentido proibir se a legislação for na direção oposta."