Título de cidadão para 'candidatos'
São Paulo - O que Ciro Gomes (PDT-CE) fez por Osasco (SP); João Doria (PSDB-SP) por Natal; Jair Bolsonaro (PSC-RJ) por Niterói (RJ); e Geraldo Alckmin (PSDB-SP) pelo Estado da Paraíba? Para os cotados a disputar as eleições presidenciais ano que vem e seus aliados, essa resposta não é primordial. Com um roteiro de caravanas já iniciadas em busca de apoio e voto, o que vale é a exposição obtida com o recebimento de títulos de cidadão honorário País afora.
Para preencher a agenda de políticos em campanha e justificar viagens para além dos Estados de origem, vale até desengavetar projeto aprovado há quase 20 anos. No dia 26, em João Pessoa, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai finalmente ser declarado cidadão pessoense pelo Legislativo local. Proposta pelo então vereador Júlio Rafael, já falecido, a ideia foi resgatada pelo petista Marcos Henriques, que teve de aguardar o início da caravana de Lula pelo Nordeste, marcada para esta quinta-feira, 17, para fazer seu agrado.
"O plenário da Câmara vai estar lotado para receber Lula, que merece essa homenagem por tudo o que fez pelo Brasil e pela nossa cidade. As políticas de inclusão social desenvolvidas por seu governo provocaram um resultado muito positivo na nossa cidade", disse Henriques. "Lula não precisa disso para visitar suas bases no Nordeste. Para ele, isso é cotidiano."
Entre as homenagens concedidas por vereadores e deputados aliados, o prefeito paulistano é, por enquanto, o mais agraciado. Desde que assumiu o cargo, em janeiro, Doria já recebeu títulos propostos por aliados em Florianópolis, Salvador, Rio e Natal - este entregue ontem em um teatro lotado. A escolha do endereço na capital do Rio Grande do Norte evitou a aproximação de manifestantes contrários ao prêmio, diferentemente do que ocorreu em Salvador, quando o tucano foi recebido com uma ovada.
O presidente em exercício da Câmara Municipal de Natal, Ney Lopes Júnior (PSD), atribuiu a homenagem à gestão de Doria frente à Embratur, na década de 1980. "Foi Vossa Excelência quem permitiu que Natal se tornasse destino turístico nacional e internacional", afirmou o vereador ao prefeito.
A caravana de Doria continua. Tem festa planejada para ele em Campina Grande, na Paraíba, e em Goiás, onde, na dúvida de quem será o candidato do PSDB ao Planalto, o deputado estadual tucano José Vitti resolveu apresentar proposta para homenagear o prefeito e também Alckmin como "cidadãos goianos", e teve o apoio dos colegas. Agora, só falta marcar as datas.
Assim como seu afilhado político, Alckmin também está na fila para ser homenageado em Campina Grande. O deputado Guilherme Almeida (PSC-PB) apresentou o projeto depois do empréstimo no início deste ano, pelo governo paulista, de bombas dágua da Sabesp para serem usadas no processo de transposição do Rio São Francisco. A justificativa é nova, mas o título não. No ano passado, a homenagem foi entregue pelo tucano Rômulo Gouveia.
Já o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) tem rodado o País mesmo sem o compromisso de tornar-se "cidadão honorário", mas pode ter essa oportunidade em Niterói, caso o projeto de seu colega de partido Carlos Jody seja colocado em votação. "Isso pode ocorrer ainda nesta semana. Só não foi votado ainda porque o prefeito Rodrigues Neves, que era do PT, tenta impedir sempre. Mas não vou desistir, não. O capitão merece essa homenagem. Fez muito por Niterói, destinando emendas parlamentares, e presta serviços relevantes à democracia e ao País", disse Jody.
Em Osasco, a proposta de homenagear Ciro Gomes já virou decreto legislativo. De autoria do vereador Alex Sá (PDT), o título de cidadão osasquense está na fila para ser entregue, dependendo apenas da confirmação da data pelo ex-ministro. Sá, em sua justificativa, diz que "homenagear o companheiro Ciro Gomes é retribuir o seu comprometimento com a vida pública". Nenhuma ligação com Osasco é mencionada, mas a proposta passou com facilidade - apenas um parlamentar não compareceu à votação, os demais votaram favoravelmente.
Contribuinte
O cientista político Marco Antonio Teixeira, da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP), observa que existe uma espécie de acordo entre os parlamentares para aprovar projetos desse tipo. "As homenagens custam dinheiro, gasto não apenas na confecção das placas, mas no pagamento da equipe do cerimonial. São eventos políticos, nos quais quem propõe e quem recebe faturam, mas quem paga é o contribuinte." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.