Política

Dono da Exergia diz à CPI ser amigo de Lulinha, mas nega tráfico de influência

Redação Folha Vitória

Brasília - O empresário Taiguara Rodrigues dos Santos, dono da empresa de engenharia Exergia Brasil, confirmou nesta quinta-feira, 15, ser amigo do filho do ex-presidente Lula, Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, mas negou que o ex-presidente ou seu filho tenham exercido tráfico de influência para que sua companhia conseguisse contratos em Angola, na África. Em depoimento na CPI do BNDES na Câmara, o executivo disse ter contato com Lula, mas não se considera amigo, embora seu pai, que foi cunhado do ex-presidente, tenha sido "muito amigo" do petista.

Aos deputados do colegiado, Santos confirmou também que a Exergia Brasil firmou dois contratos com a Odebrecht, empreiteira envolvida nas investigações da Operação Lava Jato: um no valor de US$ 280 mil, para prestar serviços em Angola, e outro contrato de US$ 750 mil. O empresário negou, contudo, ter fechado um contrato de US$ 1 milhão, como circulou na imprensa. No depoimento, o executivo ainda negou conhecer alguém do BNDES e disse que não sabia que a obra executada por sua empresa no país africano possuía financiamento do banco de fomento. O empresário recebeu entre US$ 1,8 milhão e US$ 2 milhões pelos serviços prestados à Odebrecht em Angola

Taiguara foi convocado à CPI do BNDES após reportagem publicada pela revista Veja, em fevereiro deste ano, insinuar que Lula e seu filho teriam exercido influência política para a Exergia Brasil conseguir contratos em Angola. A matéria afirmava que a empresa teria sido contratada pela Odebrecht para trabalhar na ampliação e modernização da hidrelétrica de Cambambe, no país africano. O acordo entre a Exergia e a Odebrecht, segundo a reportagem, teria sido formalizado no mesmo ano em que a empreiteira conseguiu um financiamento no BNDES para realizar um projeto na África.

"Lula foi casado com minha tia, irmã do meu pai", afirmou Taiguara, negando que isso signifique que ele seja sobrinho do ex-presidente, como a imprensa vem noticiando. O executivo afirmou, contudo, que é amigo de Lulinha, com o qual o empresário confirma ter feito uma viagem a Cuba. Segundo ele, a viagem teve como objetivo prospectar negócios, mas que nenhum contrato teria sido firmado. Taiguara afirmou que, se tivesse havido tráfico de influência a seu favor pela parte de Lula ou de seu filho, ele teria fechado "30 em cada 31 contratos".

Em relação a Angola, o dono da Exergia Brasil afirmou que as oportunidades de trabalho naquele país apareceram "com o passar dos anos". O executivo contou que, em 2007, foi convidado pelo empresário paulista Nivaldo Moreira, da companhia Morelate, para atuar no fornecimento de peças para ônibus e caminhões no país africano juntamente com o empresário português João Germano. De acordo com Taiguara, somente em 2009 a Exergia foi aberta, da qual ele detinha 49% da sociedade, sendo o restante da participação do empresário português.

Questionado por integrantes da CPI como o grupo português topou sociedade com ele, sem que ele tenha entrado com qualquer capital inicial, o executivo afirmou que foi escolhido pela sua habilidade como bom vendedor, uma vez que seu principal papel na companhia seria "vender" a empresa. Ele disse atuar como vendedor desde os 14 anos. Parlamentares de oposição se mostraram irritados com a resposta do proprietário da Exergia Brasil, que confirmou ser sócio de outras três empresas. Segundo ele, as companhias não estão em operação, bem como não atuaram em Angola.

O empresário disse ainda que a Exergia é uma empresa pequena. Segundo ele, de 2011 a 2015, o faturamento da companhia não chegou a R$ 2 milhões por ano. "Infelizmente não sou um grande empresário", disse. Taiguara confirmou que comprou um apartamento duplex com financiamento da Caixa Econômica Federal e um veículo de luxo da marca Land Rover. Ele alegou, contudo, que, desde meados do ano passado, vive em situação econômica difícil, tendo "muitas dívidas". De acordo com o empresário, seu apartamento corre o risco de ir a leilão. "A Exergia Brasil está há muito tempo sem contratos", disse.

Durante o depoimento, que durou cerca de 4 horas, Taiguara aceitou a quebra dos sigilos fiscal, telefônico e bancário de sua empresa, solicitada pelo deputado Betinho Gomes (PSDB-PE). O empresário comentou ainda que não recebeu nenhuma notificação ou intimação do Ministério Público no âmbito de investigação a seu respeito. O executivo disse estar sabendo apenas pela imprensa que está sendo investigado pelo MP. "Está me incomodando aqui o menosprezo à minha pessoa o tempo todo", disse.

Pontos moeda