'1/3 dos eleitores ainda não cita candidato. A eleição está aberta'
Para a diretora executiva do Ibope Inteligência, Marcia Cavallari, responsável pelas pesquisas de opinião que indicam as chances de êxito de cada candidato, a probabilidade de uma vitória de Jair Bolsonaro (PSL) no primeiro turno é muito pequena, apesar de ele ter crescido no mais recente levantamento do instituto.
Na pesquisa divulgada na segunda-feira, dia 1º, Bolsonaro apareceu com 31% das intenções de voto, quatro pontos a mais do que tinha cinco dias antes.
Quais as chances de uma eventual vitória de Bolsonaro já no primeiro turno?
Essa possibilidade existe. Mas é uma probabilidade muito pequena. Bolsonaro tem 38% de votos válidos, segundo nossa pesquisa mais recente. Ele teria de crescer 12 pontos porcentuais até o dia da eleição, já que precisaria de 50% mais um. E não estamos vendo movimentação, pelo menos até a pesquisa de segunda-feira, de perda de votos dos demais candidatos. Isso reduz o espaço para crescer 12 pontos nessa semana. Se outros candidatos estivessem em curva descendente, o Ciro, o Alckmin, o próprio Haddad Mas não é o que estamos vendo. Ciro está estável com 11% há muito tempo, Alckmin oscila em torno de 8% há muito tempo.
Haveria espaço para movimentação entre os eleitores não convictos?
Na pesquisa espontânea, ainda há um terço dos eleitores que não cita nenhum nome. Há 19% de indecisos e mais 14% que votam branco e nulo. Esses 33%, ao longo dessa última semana, podem tomar decisões diferenciadas, o que deixa a eleição ainda aberta.
De onde vieram os novos eleitores de Bolsonaro?
O que está diminuindo é a quantidade de eleitores indecisos. Esse crescimento do Bolsonaro vem muito daí. Gente que está votando branco e nulo pode ir para ele. A possibilidade de vitória no primeiro turno não é zero. Ela existe. Mas, com o resultado da pesquisa de ontem, essa probabilidade é pequena, porque o movimento teria de ser muito rápido e significativo. Para crescer 12 pontos, ele teria de tirar dos demais candidatos ou reduzir branco e nulo.
Há quem veja a possibilidade de haver no quadro nacional uma repetição do que aconteceu com João Doria, que em 2016 surpreendeu ao vencer a Prefeitura de São Paulo já no primeiro turno.
Essas movimentações mais rápidas em um município são mais fáceis de ocorrer que em um país com as dimensões do Brasil. Em um município há um universo pequeno, que se movimenta rápido. O Brasil inteiro se movimentar nessa velocidade? Pode acontecer, mas é mais difícil.
Há uma diferença grande de intenção de votos em Bolsonaro entre quem acessa a internet e quem não acessa.
Há uma clivagem social forte. Eleitores com nível de escolaridade mais alta votam em maior proporção em Bolsonaro, assim como os eleitores com renda mais alta. São perfis antagônicos nessa polarização entre Bolsonaro e Haddad. Essa questão de acesso à internet está ligada a isso. O eleitor do Bolsonaro tem também uma militância espontânea nas redes sociais, é mais jovem, é muito mais ativo na internet.
Voltaremos a ter uma divisão geográfica na votação?
Sim, mas será diferente da divisão que ocorria nas disputas entre PT e PSDB. Antigamente tínhamos uma divisão geográfica mais acentuada. Agora Bolsonaro lidera em todas as regiões, exceto no Nordeste.
Por que Marina está em queda desde o início da campanha?
Isso também aconteceu com ela na eleição de 2014, quando entrou como candidata, substituindo Eduardo Campos. Ela entrou bem forte, quase alcançando Dilma Rousseff, e depois, ao longo da campanha, foi caindo. Na eleição de agora ela está em uma situação mais complicada ainda em termos de estrutura de campanha, de quantidade de deputados, estrutura partidária. O nome dela tinha um recall, mas, à medida que a campanha foi avançando, ela não conseguiu segurar aquele eleitorado, seja pela questão da polarização que se apresenta na eleição, seja por outros motivos.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.