Política

Em Londres, brasileiro viaja mais de 6 horas para votar

Muitos vieram de longe e sozinhos para participar, em Londres, da eleição do primeiro turno para a Presidência - a cidade é o único colégio eleitoral no Reino Unido. Outros vieram em família e, os que quiseram declarar seus votos, mostraram que têm o mesmo candidato em seu núcleo familiar. No consulado, há quase 26 mil inscritos para esta eleição, que começou às 8 horas e está prevista para encerrar às 17 horas, com a previsão para a divulgação do resultado local por volta das 18 horas - o Reino Unido está quatro horas à frente do Brasil, atualmente.

Irineu de Oliveira mora há 10 anos no Reino Unido. Tirou o título em 2001 e nunca votou, nem aqui, nem no Brasil. "Nunca tive vontade de escolher nenhum presidente e nessa eleição vim votar no 30, no João Amoêdo (Novo)", declarou. "Acho que as ideias dele são coerentes com o que acredito", continuou. O professor, escritor e linguista disse que, como são hoje, os partidos políticos não funcionam e defendeu que quem se tornasse um candidato recebesse apenas ajuda de custo, e não um salário, muito menos de alto valor. "(O político) Deveria trabalhar de graça", argumentou.

Questionado sobre a baixa probabilidade de Amoêdo chegar ao segundo turno, como apontam as pesquisas, Oliveira disse que acredita que o apoio ao candidato do Novo é maior do que o que mostram os levantamentos. "Mesmo que ele não ganhe agora, acho que vale para daqui a quatro anos. A ideia dele vale muito", afirmou, dizendo que não apoia o PT ou o MDB, do presidente Michel Temer, nem o candidato do PSL, Jair Bolsonaro. "Se no segundo turno só tiver esses dois eu não venho votar, eu justifico", disse, rindo. O são-paulino que vestia a camisa de seu time mora em Glasgow, na Escócia, e levou pouco mais de seis horas de ônibus para se deslocar até Londres nesta manhã.

Também de outra cidade vieram as irmãs Glynys e Cecília Page, que são donas de casa em Ergham. As duas declararam que votaram no candidato do PSL, Jair Bolsonaro. "Agora eu posso falar", disse Glynys, que vive há 18 anos no Reino Unido. Questionada por que agora se sentia liberada a dizer seu voto, respondeu: "Meu bem, você sabe a controvérsia que está causando, não é? Então, para evitar confronto, eu preferi manter o voto secreto até agora". Ela não pretende mais voltar para o Brasil, disse que o filho já nasceu na Inglaterra e sua vida se consolidou no exterior. "Mas eu venho votar, brasileiro tem que votar. Meu filho, daqui a dois anos, vai votar também", disse.

A irmã mora no Reino Unido há quase 12 anos e avalia que o Brasil perdeu o rumo "de tudo". "Está faltando respeito, a gente está sem nada no Brasil", pontuou. Cecília lembrou que atualmente não é mais possível manter um hábito que mantinha no passado, que era o de se sentar em frente a sua casa, a partir das 7 horas da noite. Questionada sobre se Bolsonaro terá condições de resolver questões como esta, disse: "Não acredito que imediatamente, mas estou torcendo para que sim". O que ela defende, argumentou, é o respeito ao "cidadão direito". Ela argumentou que se algum malfeito é cometido, surgem advogados e representantes dos direitos humanos para a defesa, mas que um trabalhador que é assassinado e deixa uma família não recebe o mesmo acompanhamento. "E ainda dão razão para quem me matou", concluiu.

Daíse Rodrigues também escolheu o candidato do PSL. "O Brasil precisa de uma sacudida bem forte, de disciplina. O brasileiro não tem disciplina, e um militar faz falta", argumentou ela, que trabalha com serviço de comida brasileira e portuguesa e está há 22 anos na Inglaterra e vive em Windlesham. Para a eleitora, Bolsonaro não representa, no entanto, um "miliar da época dos militares". "Isso nunca vai voltar, não é possível. O que tem que voltar é a disciplina. O brasileiro precisa voltar à família, a respeito e o brasileiro esqueceu isso." Ela disse que poderia haver mais opções de lugar para votar fora de Londres, facilitando a vida dos brasileiros que estão no país. De pé às 6 horas para votar, a intenção foi chegar cedo ao centro da capital britânica, a embaixada fica perto de Trafalgar Square, um dos pontos turísticos da cidade. "É bom chegar cedo porque não pegamos muita confusão. Londres é confusão", afirmou. A intenção de votar, segundo ela, se dá pela vontade de fazer alguma coisa pelo País. "A família está lá, o coração está lá", disse.

Fernando, de 38 anos e que cuida do próprio negócio na Inglaterra, já tinha se despedido da reportagem quando voltou para pedir que seu sobrenome não fosse mencionado. "A eleição está muito pulverizada, e não quero virar meme", argumentou. Eleitor do Bolsonaro hoje, disse que seu candidato inicial era Geraldo Alckmin (PSDB), mas que faria qualquer coisa para que o PT não voltasse ao poder, então fez a escolha pelo candidato do PSL. Rapidamente ele respondeu que "não" quando questionado sobre se acreditava que Bolsonaro poderia resolver os problemas do País. "A escolha é entre a extrema-direita e a máfia", afirmou ele, que mora no Reino Unido desde 2002 e que vota em Londres desde 2006. "Se o moderado não é capaz de entender e votar em um cara com experiência, a gente se vê obrigado a isso", explicou.

Já a família Formighieri veio do litoral, de Bournemouth, a 170 quilômetro a sudoeste de Londres para votar unida no candidato do PT, Fernando Haddad. O pai Luiz, a mãe Terezinha, o filho Pedro e a filha Ângela acreditam que o candidato é o mais preparado para o cargo atualmente. "Falam que na época da ditadura não tinha bandido? Eu servi em Brasília como soldado no quartel e tinha roubo de carro, tinha de tudo", afirmou. Ângela acredita ser possível vencer Bolsonaro no segundo turno, talvez com avanço de Ciro Gomes (PDT) no resultado de hoje. Sobre o comentário de que foram os primeiros encontrados em duas horas que votariam no PT, Luiz comentou. "Aqui em Londres, tradicionalmente o partido perde", comparou.