CORONAVÍRUS

Saúde

Alzheimer: problemas podem ser agravados durante a pandemia, alertam especialistas

Segundo eles, as mudanças na rotina provocadas pela quarentena também podem deixar os pacientes mais ansiosos e agitados

Foto: Divulgação

Falhas de memória e confusão mental podem se agravar em pacientes diagnosticados com o mal de Alzheimer durante a pandemia do novo coronavírus, por causa das mudanças na rotina impostas pela quarentena. O alerta é feito por especialistas, que destacam ainda que a nova rotina também pode deixar os pacientes mais ansiosos e agitados.

"Não recebe visita dos bisnetos, não pode dar aquela caminhadinha na rua — que era normal para ele fazer com seu cuidador —, não está mais indo nos centros de convivência, não está indo fazer sua hidroginástica. Essa mudança de rotina, para um paciente com Alzheimer, com certeza muda também essa questão dele estar ou não mais agitado", destacou a médica geriatra Waleska Binda.

O mal de Alzheimer é uma doença progressiva, de causa ainda desconhecida, que provoca perda de memória. Na maioria dos casos, atinge idosos com mais de 65 anos. "Vai havendo um acometimento neuroglial e a pessoa vai tendo circuito de memória afetado. Daí em diante, outras questões vão acontecendo com o corpo", explicou o médico psiquiatra Vicente Ramatis.

É o caso da aposentada Maria de Lourdes do Sacramento Falcão, de 74 anos, moradora do bairro Nova Palestina, em Vitória. Ela foi diagnosticada com Alzheimer há cerca de três anos.

A aposentada vive na comunidade há mais de 20 anos e conhece todo mundo na região. Ela conta que adora caminhar pelas ruas e fazer visitas aos vizinhos. "Gosto de ver como eles estão. Um dia vou numa casa, outro dia vou em outra".

Por causa do novo coronavirus, a aposentada de 74 anos não tem mais saído de casa. As filhas dela não permitem e ficam de olho para evitar escapulidas. No entanto, precisam explicar várias vezes o motivo.

"Quando alguém liga, ela fala 'eu vou na sua casa', mas aí é difícil você explicar que não pode agora. Ela repete. Então eu digo 'mãe, não pode abraçar'. Ela esquece. Ela quer abraçar, porque ela sempre foi assim, muito carismática", contou uma das filhas da aposentada, a professora e dona de casa Rosilene Maria Falcão Amorim.

Para se distrair, dona Maria de Lourdes ajuda as filhas nas tarefas domésticas e voltou a fazer bordado nas últimas semanas. Rosilene comprou o tecido e também revistas de colorir, para a mãe passar o tempo. "Comprei aqueles livrinhos de atividade para ela fazer, comprei uns panos para ela poder fazer as atividades. Ela falou que gosta de bordar", disse a professora.

As atividades são simples, mas, de acordo com a geriatra, ajudam a deixar os idosos com Alzheimer mais tranquilos. O contato com pessoas queridas também é importante, mesmo que por telefone.

"Fazer as videochamadas com os familiares que ficaram distantes, que não podem ir fazer a visita regular ao idoso. Que eles possam ter esse contato, que seja virtual, com os netos, bisnetos", ressaltou Waleska Binda.

Apesar das mudanças, é preciso manter certos hábitos durante a quarentena para que os pacientes não se sintam tão perdidos e não sejam tão afetados. Segundo o psiquiatra, carinho e paciência também não podem faltar.

"É importante falar de uma forma calma, amável, no sentido positivo de dizer o que pode e o que não pode fazer. Se possível até segurando a mão dele, dando a ele uma ideia de proteção, de cuidado", orientou Ramatis.

Assistência na Grande Vitória

Alguns municípios da Grande Vitória oferecem assistência a pacientes com Alzheimer. A Prefeitura da Serra informou que tem lançado mão da telemedicina para atender os moradores idosos.

A Prefeitura de Vila Velha disse que os portadores de Alzheimer são acompanhados por geriatras do Centro de Especialidades do município. No entanto, as oficinas nos postos de saúde foram suspensas.

A Prefeitura de Vitória destacou que oferece serviço especializado no Centro de Referência de Atendimento ao Idoso (Crai). Disse ainda que o serviço está acontecendo por telefone, tanto pela equipe do Crai quanto pela equipe de saúde das unidades básicas de referência da residência do idoso. No entanto, segundo a prefeitura, se houver necessidade de atendimento presencial, a pessoa idosa pode se dirigir às unidade básicas de saúde ou ser atendida em sua própria residência, caso necessário.

Já a Secretaria de Saúde de Cariacica afirmou que é responsável apenas pela atenção básica à saúde e que especialidades médicas, entre elas o tratamento de Alzheimer, são responsabilidade do Estado.

A produção da TV Vitória/Record TV questionou a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) sobre o que tem sido feito para atender a pacientes com a doença. No entanto, até a noite desta quinta-feira, não houve retorno. 

Com informações da repórter Fernanda Batista, da TV Vitória/Record TV 

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