Saúde

'Cancelamentos': saiba como cuidar da saúde mental dos mais jovens

Especialista reforça a importância do diálogo entre pais e filhos sobre os temas atuais que envolvem as redes sociais: bullying, homofobia e cancelamento, por exemplo

Bianca Santana Vailant

Redação Folha Vitória
Foto: Divulgação

O ambiente das redes sociais está se tornando cada vez mais nocivo para os adolescentes. Em todo o mundo, milhares de jovens cometem suicídio, seja por conta da enxurrada de discursos de ódio na internet ou por diversos outros motivos de sofrimento emocional.

No início do mês de agosto, aos 16 anos, Lucas Santos tirou sua própria vida após receber comentários homofíbicos por um vídeo que publicou no Tik Tok. Independente da motivação, a psicóloga e psicoterapeuta Sabrina Matias alerta que estamos vivendo uma pandemia de suicídio. 

Situações como essa estão cada vez mais comuns não só no Brasil, mas em todo o mundo. Em uma rápida pesquisa na internet é possível encontrar diversas notícias relatando o mesmo contexto: adolescentes suicidando por uso decorrente da rede social.

Segundo o neurocientista Fabiano de Abreu, “o que acontece no cérebro é essa intercepção, uma falta de controle emocional que desencadeia disfunções que acarretam atitudes impulsivas”. 

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que o suicídio continua sendo uma das principais causas de morte em todo o mundo. 

Em 2019, foram mais de 700 mil pessoas. Um boletim divulgado pelo Ministério da Saúde em 2019, também mostrou um aumento expressivo das tentativas de suicídio em relação ao total de violência autoprovocada - casos de ideação suicida, automutilações e tentativas - entre os jovens de 15 a 29 anos, passando de 18,3% em 2011, para 39,9% em 2018.

Precisamos falar sobre suicídio, diz especialista

A psicóloga e psicoterapeuta explica que, embora números e casos de suicídio não possam ser divulgados, não devemos tapar os olhos e ouvidos diante do assunto, principalmente quando se tratam de crianças ou adolescentes. 

É nessa fase que são adquiridas as habilidades socioemocionais, ou seja, o cérebro ainda não está 100% maturado para tomar as rédeas da própria vida e ter discernimento sobre muitos sentimentos, emoções. 

“Os pais precisam trazer esse assunto à tona, conhecer seus filhos com profundidade, falar de valores, opiniões, colocar limites. Os pais precisam fazer a autorregulação da vida dos seus filhos para melhor prepará-los para o futuro. Sem limites, esses adolescentes lá na frente não vão ter a capacidade de se colocar limites e/ou aceitar limites, regras. Terão dificuldade de receber um não, não vão saber lidar com as frustações”, explica a psicóloga.

Internet faz com que crianças e adolescentes não saibam lidar com a frustração. Entenda

A psicóloga alerta para mais uma questão. A depressão não é mais o mal do século. Os adolescentes estão perdendo cada vez mais a capacidade de entrar em contato com a frustração. E isso tem se potencializado com a internet. 

Segundo Sabrina, isso acontece porque com a internet não se criam laços profundos, ao primeiro sinal de aborrecimento, a relação é cortada. Não há uma resolução do problema, as pessoas simplesmente se desconectam. “Com isso, os adolescentes estão perdendo a capacidade de resolver seus conflitos sociais", disse a especialista. 

Leia também: Entenda os riscos das redes sociais para a saúde mental de crianças e adolescentes

Comentários virtuais agravam o problema

Além disso, a sensação de anonimidade traz problemas graves. "Esses adolescentes, por estarem ocultos, se sentem no direito de falarem o que querem, de se expressarem de uma forma até irracional. Na internet ela descarrega e não mede as palavras", alertou a psicóloga. 

"Suas palavras se tornam verdadeiramente violentas em relação ao outro, que também não está preparado para receber aquilo, pois não está treinado em uma relação real, onde você consegue resolver com o outro as suas questões”, completou.

"Vida perfeita" mostrada nas redes pode causar gatilhos

Ainda sobre como a internet tem afetado cada vez mais as pessoas, e principalmente os jovens. Trata-se da sensação de que a vida do outro é perfeita,  e que aquelas pessoas que tem a vida perfeita é que são amadas. 

“Então para eu ser amada eu tenho que ter a vida perfeita, corpo perfeito, comer nos melhores restaurantes, ter muitos likes, engajamento. Hoje, o like mostra o quanto você é verdadeiramente amado ou não. Ou seja, eu preciso ser validado pelo outro o tempo todo. Essa validação se traduz em amor pelo adolescente e quando ele não tem isso ele se frustra, surge a ansiedade e muitos outros problemas”, explica.

Diálogo entre pais e filhos é fundamental para evitar o suicídio

A psicóloga reforça mais uma vez a importância do diálogo entre pais e filhos sobre os temas atuais que envolvem as redes sociais: bullying, homofobia e cancelamento, por exemplo. É fundamental orientar esse jovem sobre como lidar caso alguma dessas situações aconteça. 

Em muitos casos de suicídio em jovens, os pais não sabem explicar o motivo que teria levado a filho a cometer tal ato, pois para eles, o filho não demonstrava sinais claros e característicos que podem antecipar um suicídio como:

- tristeza profunda;

- irritabilidade;

- isolamento exagerado;

- apatia.

“Muitos adolescentes sentem vergonha de expor seus sentimentos e emoções aos pais. Sofrem calados. Por isso, os pais precisam demonstrar todos os dias que eles estão ali lado a lado dele, ganhar confiança, proximidade, tentar compreender o que seu filho passa. É uma questão séria que devemos cada vez mais discutir em comunidade e dentro das nossas casas”, conclui Sabrina.
Pontos moeda