Saúde

Com fake news e tabus, vacinação de adolescentes se torna desafio de saúde pública no Brasil

Fake news, grupos antivacinas e tabus sobre imunização afastam esse público dos postos de saúde

Foto: Reprodução/Pexels

Manter a carteira de vacinação do adolescente em dia é um desafio e uma questão de saúde pública. Composta por sete diferentes vacinas, a caderneta de imunização do adolescente vem apresentando baixas coberturas vacinais. A propagação de fake news e tabus sobre algumas vacinas, como a de HPV, são alguns dos motivos que afastam os pais e responsáveis e os adolescentes dos postos de saúde. Para discutir o tema, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) realizou no dia 31/10 o webmeeting ‘Vacinação de Adolescentes: importância para a saúde pública’. Participaram do debate a pediatra do Programa Nacional de Imunizações (PNI), Ana Goretti; o presidente da SBIm, Juarez Cunha; e outros especialistas no assunto.

A representante do PNI, Ana Goretti, ressaltou a importância da vacinação para essa faixa etária. “O adolescente é afetado por ambientes externos. A idade de experimentação o deixa vulnerável e, além disso, há a crença de que nada afeta a saúde do adolescente, ou seja, eles acreditam que não estão expostos às doenças e por isso são resistentes à vacinação”, explicou. A especialista alertou que doenças como o sarampo, a meningite e a rubéola afetam a saúde dos adolescentes, que podem ser também importantes transmissores dessas doenças dentro de casa.

A Sociedade Brasileira de Imunizações chamou a atenção para o desafio que é manter em dia a carteira vacinal do adolescente. Isso porque, além dos tabus em relação às vacinas que compõem da caderneta do adolescente, hoje em dia os jovens são o alvo principal das fake news.

Existem ainda os mitos sobre a vacina contra o HPV. Ana Goretti ressaltou que “essa importante vacina é a mais atingida pelos grupos antivacinas”. O imunizante é indicado para meninas de 9 a 14 anos de idade e meninos de 11 a 14 anos de idade. Atualmente essa vacina atinge 70% de cobertura na primeira dose e 45% na segunda para o público feminino. A especialista explicou que entre os meninos esse índice é ainda mais baixo. “A primeira dose da vacina do HPV não chega a 50% no público masculino”, disse.

A vacina do Papilomavírus Humano protege contra diferentes tipos de cânceres, como o de pênis, de ânus, de boca, e, principalmente, o de colo de útero. “Se queremos que eles tenham um futuro livre de cânceres relacionados ao HPV, nós precisamos vacinar os nossos adolescentes. Se queremos uma geração de mulheres livres do câncer de colo de útero, precisamos vacinar essa faixa etária”, alertou Ana Goretti.

Além disso, a pediatra do PNI lembrou da importância de outras vacinas do calendário do adolescente como a vacina contra a febre amarela, a hepatite B e a tríplice viral, esta última fundamental para a prevenção do sarampo, caxumba e rubéola. Ana Goretti lembrou ainda da incorporação da vacina ACWY no Sistema Único de Saúde, neste ano, para a prevenção da meningite meningocócica . “Essas vacinas são seguras, eficazes e são uma importante estratégia para um futuro livre de diversas doenças imunopreveníveis”, ressaltou.

CADERNETA VACINAL DO ADOLESCENTE

Atualmente, no Programa Nacional de Imunizações, são ofertadas sete vacinas para os adolescentes, são elas: hepatite B, dT (contra difteria e tétano), febre amarela, tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola), HPV (contra o Papilomavírus Humano), pneumocócica (contra meningites) e a meningocócica ACWY (contra a meningite ACWY).

A especialista reforçou que uma estratégia para atualizar a caderneta desse público-alvo é aproveitar a oportunidade quando o adolescente procura o posto de saúde por qualquer motivo, seja por uma emergência, seja por consulta de rotina. Ela destacou também a Campanha Nacional de multivacinação, realizada para a atualização do Calendário do Adolescente. Ana Goretti reforçou ainda que “o Estatuto da Criança e do Adolescente garante o direito da criança e do adolescente de serem vacinados e protegidos”.

QUEDA NA COBERTURA VACINAL

A queda na cobertura vacinal durante a pandemia da Covid-19 é uma realidade global de acordo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Apesar do Brasil possuir o maior programa de vacinação mundial, desde 2016 os indicadores de vacinação vêm apresentando queda. A propagação de notícias falsas, o desconhecimento sobre a importância e os benefícios das vacinas e o medo a eventos adversos pós-vacinação podem estar contribuindo para essa redução.

No Brasil, o Governo Federal tem adotado medidas para ampliar o acesso à vacinação dos brasileiros de forma segura e efetiva. O Ministério da Saúde tem ampliado as estratégias de conscientização da população, bem como ações junto a profissionais de saúde, com o objetivo de manter as altas e homogêneas coberturas vacinais e, consequentemente, reduzir os riscos de introdução e transmissão de doenças imunopreveníveis no país.

O Calendário Nacional de Vacinação atende toda a população brasileira, sendo 15 vacinas para crianças, 7 para adolescentes e adultos e 5 para idosos. Além disso, atende grupos especiais por meio dos 52 Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE).

SAÚDE SEM FAKE NEWS

Para combater as fake news, o Ministério da Saúde, de forma inovadora, disponibiliza um número de WhatsApp para envio de mensagens da população. Trata-se de um espaço exclusivo para receber informações virais, que são apuradas pelas áreas técnicas e respondidas oficialmente se são verdade ou mentira.

O projeto, criado em agosto de 2018, já recebeu cerca de 100 mil mensagens. Qualquer cidadão pode enviar gratuitamente mensagens com imagens ou textos que tenha recebido pelas redes sociais para confirmar se a informação procede, antes de continuar compartilhando.

*Ministério da Saúde

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