
Os cânceres de vagina e vulva são doenças que afetam a região genital feminina, mas com diferenças importantes em sua anatomia, sintomas, fatores de risco e abordagens terapêuticas.
Embora ambas as condições se originem em áreas anatômicas próximas, são tipos distintos de câncer, com características próprias e tratamentos específicos.
De acordo com o Dr. Caetano da Silva Cardeal, ginecologista da Comissão Nacional Especializada em Ginecologia Oncológica da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), a primeira grande diferença está na anatomia da região genital feminina.
A vulva é a parte externa, visível, do sistema genital feminino, composta pelo monte de Vênus, os grandes lábios, os pequenos lábios, o clitóris e a abertura vaginal. Já a vagina é o canal interno que conecta a vulva ao colo do útero, sendo uma estrutura tubular que possui um papel fundamental na relação sexual e no parto.
Quando se fala em câncer de vulva, estamos nos referindo aos tumores que afetam essa região externa do corpo. Já o câncer de vagina afeta o canal vaginal. Apesar de as duas doenças estarem localizadas na mesma região anatômica, os sintomas, fatores de risco, diagnóstico e tratamento de cada um são bastante distintos.
CÂNCER DE VULVA: CARACTERÍSTICAS E SINTOMAS
O câncer de vulva é um tipo raro de câncer, que ocorre na parte externa da genitália feminina. Embora seja menos comum em comparação com outros tipos de câncer ginecológicos, como o câncer de colo de útero, ele ainda representa uma preocupação para a saúde feminina e merece atenção constante.
Uma das principais características do câncer de vulva é o seu crescimento relativamente lento. Em muitos casos, o tumor pode levar anos para se desenvolver e se espalhar. Os sintomas iniciais podem ser sutis e, muitas vezes, confundidos com condições mais comuns, como infecções ou alterações hormonais. O principal sintoma do câncer de vulva é uma coceira persistente na região genital, que pode ser acompanhada de manchas, nódulos ou feridas que não cicatrizam. Outras manifestações incluem ardor ao urinar, dor durante a relação sexual e inchaço na região genital.
A maioria dos casos de câncer de vulva está associada à infecção pelo HPV (Papilomavírus Humano), especialmente os subtipos 16 e 18, que são conhecidos por causarem alterações celulares que podem levar ao câncer. Além do HPV, o líquen escleroso, uma doença autoimune que causa atrofia e prurido intenso na vulva, é um fator importante no aumento do risco do câncer vulvar. Mulheres pós-menopausa têm uma maior predisposição a desenvolver essa condição.
Outros fatores de risco incluem o tabagismo, o uso prolongado de medicamentos imunossupressores, e um histórico de radioterapia na região pélvica, como tratamento para outros tipos de câncer. Mulheres com lesões precursoras na vulva, como o líquen escleroso, devem ser acompanhadas de perto por um ginecologista para detectar possíveis mudanças precoces que possam evoluir para um câncer de vulva.
CÂNCER DE VAGINA: SINTOMAS INICIAIS E DETECÇÃO
Embora o câncer de vagina seja mais raro que o câncer de vulva, ele tende a ser mais agressivo e muitas vezes é diagnosticado apenas em estágios mais avançados. Ao contrário do câncer de vulva, que apresenta sintomas mais evidentes, o câncer de vagina pode se desenvolver sem causar sinais clínicos óbvios nas fases iniciais. Por isso, o diagnóstico precoce costuma ser mais difícil.
Os sintomas do câncer de vagina incluem sangramentos anormais, como sangramento fora do período menstrual ou sangramento após a menopausa, corrimento vaginal com cheiro forte ou alteração na aparência, dor durante a relação sexual e sensação de massa ou nódulo na região pélvica. Estes sinais podem ser facilmente confundidos com outras condições benignas, como infecções vaginais ou alterações hormonais, o que torna o diagnóstico precoce um desafio.
Assim como o câncer de vulva, o câncer de vagina também tem forte associação com o HPV. Mulheres que já tiveram neoplasia intraepitelial cervical (NIC), uma condição precursora do câncer de colo do útero, ou outras neoplasias vaginais estão mais propensas a desenvolver câncer de vagina. Além disso, a infecção por HPV é o maior fator de risco para o câncer vaginal, especialmente os subtipos de alto risco, como o HPV 16 e 18.
FATORES DE RISCO E PREVENÇÃO
Tanto o câncer de vulva quanto o de vagina estão intimamente ligados à infecção pelo HPV, o que torna a vacinação contra o vírus uma das principais medidas preventivas para ambas as condições. A vacina contra o HPV está disponível e é recomendada para meninas e meninos de 9 a 14 anos, mas mulheres até 45 anos também podem se vacinar, especialmente aquelas que ainda não foram expostas aos tipos de HPV que causam câncer.
Além da vacinação, outros fatores de risco devem ser observados. O câncer de vulva, por exemplo, está frequentemente associado ao tabagismo, à presença de lesões precursoras, como o líquen escleroso, e ao histórico de radioterapia na região pélvica. Mulheres que têm esses fatores de risco devem realizar exames ginecológicos de rotina, incluindo a inspeção da vulva, para detectar precocemente possíveis lesões.
Para o câncer de vagina, o principal fator de risco continua sendo a infecção persistente pelo HPV, especialmente em mulheres com histórico de lesões cervicais. A realização de exames ginecológicos regulares, que incluam a coleta de células para o exame preventivo de Papanicolau (Pap smear), também é fundamental para a detecção precoce de alterações celulares no canal vaginal.
O DIAGNÓSTICO DO CÂNCER DE VULVA E VAGINA
O diagnóstico de câncer de vulva é feito com base em uma avaliação clínica detalhada. O ginecologista pode identificar manchas, lesões, nódulos ou úlceras na vulva durante um exame físico. Caso haja suspeita de câncer, exames complementares, como a vulvoscopia, podem ser realizados para visualizar melhor a área afetada. Em alguns casos, uma biópsia da lesão pode ser necessária para confirmar o diagnóstico.
Já o câncer de vagina é diagnosticado por meio do exame especular, que permite ao médico visualizar a região interna do canal vaginal. Se houver alguma anormalidade ou suspeita de tumor, exames como a colposcopia e a biópsia são realizados. Além disso, exames de imagem, como ultrassonografia, ressonância magnética e tomografia computadorizada, são usados para estadiar a doença e planejar o tratamento.
TRATAMENTOS E PROGNÓSTICO
O tratamento do câncer de vulva e vagina varia conforme o estágio da doença, a localização do tumor e a saúde geral da paciente. Para o câncer de vulva, a cirurgia é o tratamento padrão nos estágios iniciais e pode envolver a remoção da lesão ou até dos linfonodos inguinais, caso haja comprometimento dos gânglios. Para tumores maiores, o tratamento pode envolver uma combinação de radioterapia e quimioterapia, que podem ser usadas para reduzir o tamanho do tumor antes da cirurgia.
No caso do câncer de vagina, os tumores pequenos, com menos de 2 cm, podem ser tratados com cirurgia. Porém, para tumores maiores ou mais avançados, o tratamento geralmente envolve radioterapia associada à quimioterapia. A combinação de ambos os tratamentos é a opção mais comum, pois a radioterapia tem um efeito local, enquanto a quimioterapia age de forma sistêmica, combatendo células cancerosas em outras partes do corpo.
O prognóstico do câncer de vulva e vagina depende do estágio em que a doença é diagnosticada. Tumores iniciais, especialmente no caso do câncer de vulva, têm uma taxa de cura alta, que pode chegar a 80-90%. Já em estágios mais avançados, quando os linfonodos estão comprometidos ou há metástases para outras regiões, as taxas de cura podem cair, mas o tratamento continua sendo possível e eficaz, com o uso de imunoterapia começando a mostrar resultados promissores