Artigo: A arte de viver a dois por quase meio século!

vida a dois

No mundo de hoje, onde o superficial e o descartável fazem a festa, completar 40 anos de casamento torna-se um fato raro, difícil até de acreditar. Mas eu tenho o privilégio de viver esse inusitado. E lá se vão 10 anos de namoro e 30 de casamento, e se enfrentando tempestades e se deliciando de calmarias. 

Tive a oportunidade de conhecer muitas mulheres em mim e muitos homens no Paulo, meu companheiro durante esse tempo. 

Tivemos muitas fases de turbulências, como qualquer casal, mas isso não nos impediu de experimentar uma vida rica em superações, desafios, alegrias, crescimento e celebrações.

Nunca tive dúvidas do amor que sinto pelo companheiro.

Mas confesso que algumas vezes pensei em desistir, motivada por uma incômoda sensação de incompletude… 

Eu me sentia incompetente e infeliz. E a maior dificuldade estava na comunicação. Eu falava uma coisa e ele entendia outra: Experiências de vida diferentes, mapas mentais diferentes. É lógico que a interpretação dos fatos também teria que ser diferente em ambas as partes. 

Esse é um silogismo simples, mas que a turbulência emocional, que envolve as crises conjugais, não nos permite perceber de imediato. 

A escritora Lya Luft traduz esse conflito com maestria quando diz: 

“Construir um ser humano em nós, é um trabalho que não dá férias nem concede descanso: haverá paredes frágeis, cálculos malfeitos, rachaduras. Quem sabe, um pedaço que vai desabar? Mas se abrirão também janelas para a paisagem e varandas para o sol” 

Varandas para o sol… Esta era a imagem que eu mantinha bem guardada dentro de mim.

E foi essa mesma mensagem que certamente me deu forças para prosseguir no propósito de viver um amor profundo e verdadeiro que sobrevivesse ao tempo e às adversidades.

Decidi, então, seguir em frente, olhando sempre na direção da luz do sol, dando menor importância para as pedras do caminho. 

Foi quando senti uma grande necessidade de me conhecer melhor, aprender a me amar mais para amar melhor o meu companheiro. 

Fui em busca de mim mesma, ouvindo atentamente o que me aconselhava o coração.

Mergulhei em estudos e processos, cursos e treinamentos com as ferramentas de autoconhecimento. Decidi, inclusive, me afastar do universo de tantos afazeres como mãe, profissional, esposa, para criar um espaço só meu, onde eu pudesse silenciar a mente para me perceber melhor. 

A gestação do novo ser que começava a nascer dentro de mim foi lenta, com algumas rachaduras, temperaturas elevadas, insegurança das mais diversas ordens, igual em qualquer parto. 

Havia muitas dores, apreensões, mas também a certeza de que aquilo que está por vir compensará toda a turbulência inicial. 

Depois da tempestade, vem o arco-íris! 

Na minha caminhada rumo ao autoconhecimento me deparei com a Programação Neurolinguística, um assunto novo no Brasil nos anos 80. 

Nascida na Universidade da Califórnia no final dos anos 60, a PNL é considerada um dos modelos mais eficientes em processos de mudanças eficazes, rápidas e objetivas. E era tudo que eu estava buscando. 

Sem pensar duas vezes, mergulhei de cabeça nos ensinamentos de Richard Bandler e John Grinder, os criadores da PNL, colocando minha vida conjugal como prioridade. 

Não querendo de forma alguma desmerecer os demais processos de autoconhecimento, foi com a Programação Neurolinguística que eu encontrei o meu “manual de instrução”

Isso me permitiu fazer uma comunicação mais eficiente, não apenas comigo mesma, mas também com o Paulo e com inúmeras pessoas. 

Se você está vivendo algum momento de incerteza, se todos os caminhos que você vislumbra não parecem chegar a lugar algum, pode ser que a minha experiência possa te ajudar de alguma forma. 

Selecionei algumas dicas que podem auxiliar na sua busca pelo autoconhecimento. 

1. Troque lamentação por solicitação: 

As lamentações criam uma substância tóxica que impede uma comunicação clara e objetiva. No casamento, ao invés de lamentar, experimente dizer: “Gostaria de convidar você para ficar comigo e as crianças hoje à noite, pode ser?” Ou “Quero te pedir para almoçar com e gente hoje, pode ser?” 

Tudo que possa ser transformado em pedido, tem a chance de trazer melhores resultados.

2. Troque críticas por apreciação: 

Evite falar mal, julgar, fazer brincadeiras de mau gosto. Procure se observar. 

Valorize o que está funcionando, maximize os pontos fortes, elogie e pare de reforçar os defeitos e os erros do seu companheiro. 

Aprenda a desenvolver a comunicação amorosa pois ela expande o coração e quebra a barreira entre as pessoas. 

Não foi por acaso que Madre Teresa de Calcutá proferiu antes de morrer: 

“As pessoas precisam mais de apreciação do que de pão.” 

3. Respire profundamente sempre:

A respiração interrompe o fluxo frenético dos pensamentos, reduz a raiva, apazigua o coração. 

Antes de reagir a qualquer provocação, se pergunte: O que eu vou falar é verdadeiro, útil e bom? Vai ajudar na relação? Quando ampliamos a percepção do outro, refinamos o nosso olhar, abandonamos o julgamento e criamos um campo seguro para a conexão. 

Pare com as críticas e aumente os gestos de gentileza na convivência familiar. As pessoas aprendem vendo… O seu exemplo opera grandes transformações na forma de pensar e agir do outro. 

4. Não acumule lixo debaixo do tapete: 

A maioria dos casais acumula mágoas e ressentimentos e o clima fica ruim, podendo causar intolerância e um comportamento hostil, inclusive com as crianças. 

O interessante é ficar atento ao que deixa o outro chateado e criar um clima favorável para conversar e aparar as arestas antes do leite derramar. 

Ao invés de dizer: “Você chegou tarde e não está nem aí para mim e para os nossos filhos, age como se estivesse solteiro”, experimente focar no fato, falar com honestidade de seu sentimento sem acusar o outro: “Quando eu olhei no relógio e vi que você não tinha chegado, senti medo e me comportei daquela forma reativa”. Essa é uma boa forma de ser específico na comunicação sem agredir criando harmonia e conexão. 

Meus pais utilizavam uma frase muito comum em Minas Gerais: “Espere o barro secar”. Ou seja, respire fundo, conte até 10 e crie um clima favorável para você falar de suas emoções e das coisas que estão incomodando. 

Evite agir movido pela dor, raiva, mágoa ou ressentimento. 

5. Não durma com o problema. Visualize a solução. 

Se você tentou conversar e não foi possível, coloque num papel o motivo do seu incômodo.

Escreva detalhadamente, esvazie-se de todo mal estar e depois jogue o papel fora. Isso certamente vai ajudar a diluir a mágoa e você entrará num espaço de conforto interno, que vai lhe permitir integrar melhor a situação. 

A alternativa é sair do problema e vê-lo do lado de fora. Procure dormir com a solução na mente. 

6. Coloque-se no lugar do outro para só depois conduzir a situação. 

Este fenômeno é conhecido na PNL como Rapport: Não tem tradução em português, mas essa palavra francesa pode ser entendida como “relação de confiança”. 

Na PNL o Rapport é a arte de acompanhar e construir a confiança mútua. 

Para o escritor Anthony Robbins, Rapport é a capacidade de entrar no mundo de alguém e fazê-lo sentir que você o compreende e que vocês têm um forte traço em comum. Significa ir do seu mapa mental para o mapa mental do seu interlocutor. 

Rapport é acima de tudo um ato de amor.

Imagine esta cena: O casal está se preparando para ir a uma festa. A mulher se atrasa e deixa o marido esperando no carro. Quando ela chega, ele reclama num tom áspero: “Poxa vida, parece que você é a dona da festa. Precisava se atrasar tanto?”.

Nesse momento o ideal é a mulher não reagir, aceitar e respeitar o ponto de vista dele, falando apenas: “É verdade. Realmente demorei muito! Peço desculpas. Vou procurar ser mais cuidadosa e gerenciar melhor o tempo. Mas quero te agradecer por ter me esperado, ainda assim”. Isso deixará o marido mais calmo e os dois poderão desfrutar da festa sem qualquer problema. 

Em algumas situações, é preferível ser feliz do que ter razão. 

7. Tenha um lugar reservado para conversar e “lavar a roupa suja”.

Penso que as repreensões e os ajustes de conduta devem ser feitos em voz baixa, quase um sussurro, enquanto os elogios devem ser ditos em alto e bom som. 

Se existe um problema sério a ser resolvido entre o casal, os filhos não devem participar. A conversa tem que ser reservada em nome da saúde mental e emocional de toda a família.

Ela também não deve ser feita no quarto do casal, no quarto dos filhos ou no local onde são feitas as refeições. De preferência, que aconteça ao ar livre. E se tiver vegetação no ambiente, melhor ainda. É que palavras de baixa vibração acabam intoxicando os ambientes internos. Do lado de fora, a força da natureza ajuda a diluir as energias densas. 

8. Elimine as críticas e jamais ridicularize o seu companheiro.

Se você faz um comentário e expõe uma fraqueza qualquer de seu parceiro, essa atitude certamente vai produzir uma reação agressiva por parte dele. A relação vai sofrer com isso.

Nem sempre o que parece uma brincadeira inocente é interpretada assim pela pessoa atingida por ela. 

Os verbos ideais em qualquer contexto das relações humanas são apreciar, elogiar, enaltecer, compreender, compartilhar, amar! 

Se você fez tudo isso e não está conseguindo reestruturar o seu relacionamento, pode ser interessante pensar na ajuda de um(a) especialista em terapia de casais. 

Ter alguém imparcial com quem o casal possa se abrir, com certeza vai ampliar as possibilidades de um entendimento maior. 

Na Índia, existe uma máxima que diz: “O que não vira palavra, vira sintoma”. As doenças surgem quando trancamos emoções mal resolvidas dentro de nós. Falar, na maioria das vezes, é o melhor remédio. 

É bom lembrar que não existem fórmulas mágicas para se construir um casamento feliz.

Também não acredito em casamento feliz o tempo todo. 

Felicidade é uma construção que leva tempo, dá trabalho, exige empenho, dedicação e uma grande dose de paciência. 

Mas quer saber? Em nome do amor vale a pena tentar de tudo! 

Eu penso que não se deve soltar a mão da pessoa amada diante de alguma dificuldade.

Isso porque é no momento em que uma pessoa menos merece o nosso amor, que ela mais precisa dele. 

Nas palavras de Mahatma Gandhi:

“Só o amor cura, nutre, une, entusiasma, faz nascer, alivia, materializa, motiva… possibilita a vida!

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