Economia

Samarco anuncia que 5 mil funcionários no ES e MG podem ser demitidos em 2016

Estoque de minério da unidade de Ubu deve durar até o fim de semana. Após isso, trabalhadores entrarão em licença remunerada e em terão férias coletivas em dezembro

Produção de minério na Samarco já foi interrompida e o estoque deverá durar somente até este fim de semana Foto: TV Vitória

Cinco mil funcionários da Samarco, responsável pelas duas barragens que romperam, na semana passada, em Mariana-MG, podem ser demitidos a partir do início do ano que vem. A possível onda de demissão afetaria 3 mil funcionários da mineradora no Espírito Santo e 2 mil em Minas Gerais.

De acordo com a Samarco todo estoque de minério da unidade de Ubu, em Anchieta, deve durar apenas até este fim desta semana, já que toda a mineração da empresa já foi interrompida. Após o término do estoque, os trabalhos da Samarco em Anchieta serão suspensos e os trabalhadores entrarão em licença remunerada. A medida vale também para os funcionários da unidade industrial de Germano (MG).

Em dezembro, a Samarco concederá férias coletivas aos trabalhadores, já que ainda não há prazo para que a empresa retome suas atividades. Caso elas estejam paralisadas ao término das férias coletivas, em janeiro, os 5 mil funcionários terão de ser demitidos.

"Os trabalhadores da Samarco estão recebendo, a partir do dia de hoje, licença remunerada com todos os benefícios e recebendo seus salários. A partir do mês que vem eles entram em férias coletivas até o dia 4 de janeiro, também com todos os direitos garantidos", destacou o diretor de operações da empresa, Kléber Terra.

Diretores da Samarco participaram da coletiva por meio de videoconferência, nesta terça-feira Foto: TV Vitória

Para esclarecer essa situação e falar sobre as medidas que a mineradora vem adotando para auxiliar as vítimas do rompimento das duas barragens em Minas Gerais, diretores da Samarco receberam a imprensa, nesta terça-feira, em Anchieta. A coletiva foi realizada por meio de videoconferência. Segundo os executivos, as famílias atingidas pelo desastre em Mariana estão em hotéis, pagos pela empresa, e recebendo toda a assistência.

Os diretores da Samarco evitaram falar sobre as causas do acidente e disseram somente que o fato ainda está sendo investigado. Durante a coletiva eles foram perguntados várias vezes sobre as condições das barragem de Fundão e Santarém, na unidade industrial de Germano, já que há denúncias de que elas não estariam adequadas. Em todas as vezes, eles responderam que a Samarco está com todas as licenças em dia e regularizada junto às autoridades competentes.

Os representantes da mineradora garantiram também que a empresa está cumprindo a decisão da Justiça, que determinou que a Samarco deveria fornecer um helicóptero para ajudar a Defesa Civil a monitorar o Rio Doce, além de providenciar água para as cidades onde o abastecimento for suspenso. 

Poluição de lama atingiu o Rio Doce e já chegou a municípios do Espírito Santo Foto: Giovani Pagotto

Os diretores disseram ainda que a mineradora tem seguro, mas não quiseram divulgar o valor. Informaram também que ainda não avaliaram os prejuízos, porque o foco agora é ajudar as famílias atingidas pela tragédia.

Nesta segunda-feira (09), uma equipe da TV Vitória sobrevoou o Rio Doce, próximo à divisa de Minas com o Espírito Santo, para avaliar a situação. Segundo a Defesa Civil e o Serviço Geológico do Brasil, a lama que polui o rio deve chegar a Baixo Guandu entre a noite de sexta-feira (13) e a manhã de sábado (14). A água, no entanto, já está turva no município e também em Colatina. De acordo com a Prefeitura de Colatina, testes estão sendo realizados constantemente, confirmando a qualidade da água, razão pela qual ainda não foram suspensos os abastecimentos.

Como o abastecimento de água em Baixo Guandu e Colatina não foi interrompido, por conta da passagem da lama pelo Rio Doce, a Secretaria de Estado da Educação (Sedu) informou que as aulas nas 16 escolas estaduais nos dois municípios serão normalizadas nesta quarta-feira (11). O funcionamento das instituições havia sido prejudicado, já que havia a expectativa de corte no abastecimento de água, motivado pela chegada dos rejeitos de minério.

Empresa vai distribuir água para população carente

Na tarde desta terça-feira (10) representantes da Samarco e do Ministério Público Estadual (MPES) se reuniram para traçarem planos emergenciais para os municípios capixabas afetados pela lama de resíduos de minério que polui o Rio Doce. Por causa da dificuldade em encontrar água potável e pelo valor alto que estão sendo vendidos os galões em Baixo Guandu e Colatina, a mineiradora se comprometeu em distriubir água para a população mais carente das duas cidades. 

Durante a reunião, ficou acordado ainda que a empresa terá de apresentar ao Ministério Público, até a próxima sexta-feira (13), um plano de distribuição de água para 16 bairros em Colatina e 13 em Baixo Guandu. Após a apresentação do plano emergencial, o MPES e a Samarco assinarão um termo de compromisso.

Monitoramento

Equipes estão monitorando a situação do Rio Doce, atingido pela lama tóxica, nos municípios capixabas Foto: Divulgação/Governo

As equipes do Núcleo de Operações de Transporte Aéreo (Notaer) estão, desde o último sábado (07), auxiliando nas ações de mapeamento dos possíveis locais de risco e também no monitoramento da chegada dos rejeitos da lama da barragem da Samarco aos municípios de Baixo Guandu, Colatina e Linhares. Neste período, 36 capixabas foram orientados a sair das margens do rio Doce, evitando, assim, a possibilidade de vítimas em solo capixaba. 

Os militares estão de prontidão em um posto de comando montado próximo ao Estádio Justiniano de Mello e Silva, em Colatina, apoiando as ações da Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh); Secretaria de Estado para Assuntos do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Seama); Secretaria de Estado de Saneamento, Habitação e Desenvolvimento Urbano (Sedurb); Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag); e Defesa Civil Municipal e Estadual. 

Dentre as ações, estão os sobrevoos, que já foram efetuados por toda a extensão do Rio Doce, de Baixo Guandu até Regência, para monitorar e dar apoio à população. "Durante as ações, abordamos pessoas que se encontravam nas regiões ribeirinhas para informar dessa possível situação de perigo e alertar para que elas se afastem e se previnam em relação a essa lama que está vindo pelo Rio Doce", explicou o Capitão Cristian Moreira.

O major Daniel Quintela declara que as equipes do Notaer estão em alerta. "Se houver necessidade de resgate quando a lama chegar ao Estado estaremos preparados com os nossos equipamentos de segurança, cesto e rapel".

Em conjunto com a Defesa Civil, a equipe do Notaer realizou três sobrevoos, nesta terça-feira, às regiões capixabas afetadas com a chegada da lama, para monitorar a situação. As informações são repassadas para o posto do comando da Defesa Civil em Colatina e para Vitória. Os trabalhos da equipe começam cedo em Colatina, com um briefing da Defesa Civil com as demandas mais urgentes, e se desenvolve no decorrer do dia, visando minimizar os possíveis estragos desta lama. 

"O Núcleo de Operações e Transporte Aéreo (Notaer), composto por pessoas da Polícia Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros, ou seja, a máquina de segurança do Estado está disponível e disponibilizada para atuar nessas ocasiões de catástrofes. O Notaer está sempre à disposição para amparar a população capixaba, sendo um braço do Governo nestas localidades que precisam do apoio governamental", ressaltou o Capitão Cristian Moreira.

Uma equipe K9 de operações com cães do Corpo de Bombeiros Militar do Espírito Santo chegou, na última segunda-feira (09), ao município de Mariana, Minas Gerais, e já começou o trabalho de buscas por desaparecidos na cidade mineira. A equipe é especializada neste tipo de operação e está atuando no reforço ao efetivo do Corpo de Bombeiros de Mariana, que conta no momento com dois cães. 

Segundo o tenente Felipe Mello, que comanda a equipe na cidade mineira, o trabalho é muito arriscado, pois a lama limita o deslocamento e está impedindo a detecção do odor das vítimas pelos cães. Os animais indicaram alguns pontos, mas ainda é muito difícil remover a lama para vasculhar o local indicado, finalizou o tenente.

Em Vitória, o Corpo de Bombeiros contabilizou a doação de mais de 6,2 mil litros de água mineral, que serão enviados para Baixo Guandu e Colatina até o final desta semana, de acordo com o coordenador da campanha, major Anderson Pimenta. Quarenta e sete carros-pipa estão à disposição dos municípios, sendo 39 em Colatina e oito em Baixo Guandu.

Coletas

Na segunda-feira e nesta terça-feira, foram realizadas pelo Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) coletas de amostras chamadas "brancas", ou seja, em locais que não foram afetadas pela onda de lama de rejeitos. A atividade está sendo realizada pelo próprio Instituto, que possui contrato com um laboratório de análises. O objetivo é produzir contra-análises. 

Já as coletas realizadas pela empresa Samarco, que foi intimada pelo Iema a realizar monitoramento tanto da água do Rio Doce quanto do mar, também já começaram e estão sendo acompanhadas pela equipe de Fiscalização do Iema.  

O instituto também está em diálogo com a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) para uma parceria que irá viabilizar a realização de estudos e monitoramento da água do mar por meio do Governo do Estado. Ainda com relação aos impactos na foz, o Iema emitiu autorização ambiental para a Prefeitura de Linhares fazer a abertura da "boca da  barra", na foz do manancial. A ação teve início na segunda-feira, e vai servir para dar vazão a lama, considerando também que o mar tem mais capacidade de diluí-la.  

Pontos moeda