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Mais da metade das cidades do ES não tem plano para reduzir riscos de desastres

Auditoria do Tribunal de Contas também mostra que 43 cidades não possuem servidores o suficiente e uma não tem órgão para prevenir desastres

Mais da metade das cidades do ES não tem plano para reduzir riscos de desastres Mais da metade das cidades do ES não tem plano para reduzir riscos de desastres Mais da metade das cidades do ES não tem plano para reduzir riscos de desastres Mais da metade das cidades do ES não tem plano para reduzir riscos de desastres
Tribunal de Contas do Espírito Santo.
Tribunal de Contas do Espírito Santo. Foto: Thiago Soares/Folha Vitória

Dos 78 municípios capixabas, 53 não possuem o Plano Municipal de Redução de Risco de Desastres (PMRR), instrumento que garante o planejamento municipal de ações de proteção e defesa civil, conforme auditoria realizada pelo Tribunal de Contas do Espírito Santo (TCE-ES)

O PMRR estabelece metas a fim de minimizar as ameaças de tragédias nas cidades e contempla medidas estruturais e não estruturais.

Como mostra o estudo da corte, o Espírito Santo tem 328.354 habitantes em áreas de risco alto ou muito alto de alagamentos e inundações, erosão, estiagem ou deslizamentos de terra.

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A ausência do Plano em 68% das cidades do Estado revela “a expressiva deficiência no planejamento das ações de prevenção e redução do risco de desastres nos municípios capixabas”, afirma o relatório.

O auditor de Controle Externo do TCE-ES, Raffael Nunes, explicou à reportagem do Folha Vitória como foi feito o estudo, realizado a partir das respostas dos próprios municípios a um formulário elaborado pela equipe de auditoria.

“A primeira avaliação era para saber se existe um setor responsável pela Defesa Civil no município. A partir desse levantamento do questionário dos municípios, nós criamos um método para identificar quais eram aqueles com mais risco, uma vez que a Defesa Civil no município não estaria organizada, não teria pessoal suficiente, normas e nem conhecia as informações básicas”.

Importante ressaltar que o estudo foi realizado em 2023, mas o processo só foi encerrado neste ano, com assinatura do acórdão que resultou em determinações a cinco municípios e diversas outras recomendações às demais cidades capixabas.

A auditoria buscou fiscalizar se os municípios estão cumprindo o artigo 8 da Lei que institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (12.608/2012). Este tópico trata especificamente sobre as obrigações municipais, que envolvem, entre outras, as seguintes medidas:

  • identificar e mapear as áreas de risco de desastres;
  • promover a fiscalização das áreas de risco de desastre e vedar novas ocupações nessas áreas;
  • produzir, em articulação com a União e os Estados, alertas antecipados sobre a possibilidade de ocorrência de desastres;
  • declarar situação de emergência e estado de calamidade pública.

Dos 53 municípios que não possuem o PMRR, 33 deles responderam que, de fato, não o têm. Já 20 deles declararam ter o plano, mas com outro nome, o que, conforme a corte, demonstra “profundo desconhecimento por parte dos jurisdicionados acerca da importância do PMRR como ferramenta de planejamento municipal para a prevenção e redução do risco de desastres”.

Os auditores também identificaram que entre as cidades que têm o PMRR, apenas 8 deles elaboraram por conta própria o plano. São eles Água Doce do Norte, Aracruz, Cariacica, Colatina, São Mateus, Serra, Vila Velha e Vitória. 

Nos demais municípios, a responsável por formular a medida foi a Secretaria de Estado de Saneamento, Habitação e Desenvolvimento Urbano (Sedurb), o que “demonstra a dependência de apoio técnico e financeiro, do Estado e/ou da União, para sua execução”.

Defesa Civil e servidores

A auditoria também fiscalizou a existência de órgão responsável pela execução das ações de prevenção, mitigação e ações de gerenciamento de riscos e de desastres. 

  • Uma cidade capixaba, Brejetuba, respondeu que não possuía setor responsável.
  • Montanha, Mucurici e Ponto Belo declararam não possuir áreas de risco. 
  • Conceição do Castelo, Guarapari e Montanha informaram não possuir Plano de Contingência, previsto em lei.

Por mais que 77 municípios tenham alegado possuir órgão responsável pelo controle de desastres, 55% deles (43) afirmaram que não têm a quantidade necessária de servidores para realizar as ações. 

Segundo o Raffael Nunes, “não existe normativo definindo o quantitativo ideal de servidores para a Defesa Civil”. Sendo assim, cabe ao próprio município julgar se a equipe é suficiente.

O relatório da auditoria, no entanto, revela que das cidades que consideram o número de servidores adequado, 11 delas têm até 3 servidores e 7 possuem mais de mil habitantes em áreas de risco.

Municípios notificados

Com base em diversos critérios analisados (crescimento populacional, quantidade de habitantes em situação de risco muito alto; percentual da população total que habita em áreas de risco; avaliação da atuação da Defesa Civil com base nas respostas dos questionários), a equipe de auditoria classificou os cinco municípios com mais riscos de desastres.

Brejetuba, Conceição do Castelo, Guarapari, Ibatiba e Marechal Floriano apresentaram deficiências na governança municipal, nas ações de proteção e defesa civil, na fiscalização de áreas de risco e no protocolo de prevenção e alerta sobre a possibilidade de ocorrência de tragédias.

Por isso, o Tribunal expediu determinações às cinco cidades exigindo a elaboração de norma municipal para definir os responsáveis por executar a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil; elaborar, em até 180 dias, o Plano Municipal de Redução de Riscos de Desastres; adotar, medidas de planejamento necessárias para reduzir riscos e minimizar os efeitos dos desastres.

As cidades ainda terão de realizar os exercícios simulados previstos no Plano de Contingência de Proteção e Defesa Civil e vistoriar edificações em áreas de risco.

A reportagem do Folha Vitória procurou as prefeituras, mas não obteve resposta.

Julia Camim

Editora de Política

Atuou como repórter de política nos veículos Estadão e A Gazeta. Jornalista pela Universidade Federal de Viçosa, é formada no 13º Curso de Jornalismo Econômico do Estadão em parceria com a Fundação Getúlio Vargas.

Atuou como repórter de política nos veículos Estadão e A Gazeta. Jornalista pela Universidade Federal de Viçosa, é formada no 13º Curso de Jornalismo Econômico do Estadão em parceria com a Fundação Getúlio Vargas.