
Em discurso de abertura da Cúpula de Líderes que antecede a Conferência do Clima da ONU (COP 30), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu, nesta quinta-feira (6), construir um “mapa do caminho” para substituir os combustíveis fósseis e falou em “superar o descasamento entre contexto geopolítico e urgência climática”.
O governo federal tenta se projetar como um mediador das negociações climáticas, em um cenário de esvaziamento da agenda verde na comunidade internacional. Lula tem sido cobrado, porém, por contradições internas na sua própria agenda ambiental.
Uma das críticas de ambientalistas tem sido a licença dada para a exploração de petróleo na Margem Equatorial da Foz do Amazonas diante dos riscos de vazamentos.
O governo afirma que há segurança técnica na atividade, apontada como importante para financiar a própria transição energética do País e o combate às desigualdades na região.
“Na Amazônia, vivem com falso dilema entre prosperidade e preservação”, afirmou Lula. “É justo amazônidas indagarem o que está sendo feito para evitar o colapso climático”, continuou.
Financiamento da adaptação climática
Na sua fala para outros chefes de Estado, o presidente do Brasil voltou a reivindicar a quantia de US$ 1,3 trilhão (cerca de R$ 6,9 trilhões) para financiar a adaptação climática, sobretudo para os países mais vulneráveis.
Essa tem sido uma cobrança história de Lula nas COPs, após promessas das nações desenvolvidas de impulsionar o repasse de recursos desde a conferência de 2009. Não há consenso, porém, sobre esse montante e de que forma os países ricos podem fazer esse repasse.
Também há divergências sobre quem deve financiar a transição verde – a China, por exemplo, ainda se coloca como país em desenvolvimento, em uma classificação dos anos 1990.
Aquecimento global e “descompassos”
O presidente afirmou que para o mundo avançar no combate ao aquecimento global é preciso superar “descompassos” entre os debates diplomáticos e o mundo real, assim como entre o cenário geopolítico global e a urgência climática.
“Rivalidades estratégicas e conflitos armados desviam a atenção e drenam os recursos que deveriam ser canalizados para o enfrentamento do aquecimento global”, disse.
Entre os fatores que desviaram a atenção e as verbas da agenda climática, estão as guerras – principalmente na Ucrânia -, que desmobilizou os líderes europeus.
“Mais de 250 mil pessoas poderão morrer ao ano com aquecimento global. Não podemos abandonar o objetivo do Acordo de Paris de aquecimento de 1,5°”, afirmou o presidente.
Lula mencionou ainda a postura do que chamou de “forças extremistas”, que, segundo ele, veiculam mentiras sobre o tema.
“Forças extremistas fabricam inverdades para obter ganhos eleitorais e aprisionar as gerações futuras a um modelo ultrapassado que perpetua disparidades sociais e econômicas e degradação ambiental”, disse ele, sem citar nomes.
Após ler um discurso de cerca de 14 minutos, Lula improvisou. De cara, trocou o Pará pelo Amazonas e defendeu a realização da conferência em Belém, apesar do atraso em obras, que estão sendo finalizadas de última hora, e da crise de hospedagem que afetou a participação de delegações e, há meses, pôs em risco a legitimidade das decisões.
“A Amazônia para o mundo é como se fosse uma bíblia: todo mundo sabe que existe e cada um interpreta da sua forma. Queríamos que as pessoas viessem aqui para ver o que é a Amazônia, o povo da Amazônia, a natureza da Amazônia e a culinária da Amazônia”, disse.
Antes de Lula, o secretário geral das Nações Unidas, António Guterres defendeu que os países coloquem em prática o que já foi acordado. “Não é hora de negociação, é hora de implementação, implementação, implementação”, frisou.
Guterres defendeu ainda os esforços para manter a temperatura dentro do que o Acordo de Paris indica como necessário – limitar o aquecimento do planeta, até 2100, a 2ºC acima dos níveis pré-industriais (meados do século 19).
Conforme os cientistas, o mais seguro é manter essa alta a 1,5ºC para evitar eventos climáticos – como ondas de calor e tempestades – cada vez mais extremos e frequentes.
No mês passado, Guterres chegou a admitir que não seria mais possível ficar abaixo desse teto de temperatura. Nesta quinta, porém, ele fez um novo apelo para ficar abaixo desse patamar. “A ONU não vai desistir da meta de 1,5ºC, disse.
Próximos passos da Cúpula
Este dia de abertura será marcado por dezenas de discursos de representantes de países e organizações, além de membros da sociedade civil. Estão previstos 72 discursos para esta quinta.
Como o Estadão mostrou, Lula busca o apoio dos outros chefes de Estado a seis propostas, entre elas o TFFF, fundo de proteção de florestas proposto pelo governo brasileiro.
Até agora, só a Indonésia sinalizou apoio de US$ 1 bilhão ao mecanismo, que tem sido estruturado pelo Brasil desde 2023.