Crítica | Identidade em diálogo na 35ª Bienal de São Paulo

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Hugo Fortes

A 35ª Bienal de São Paulo, ocorrida em 2023, sob curadoria de Diane Lima, Grada Kilomba, Hélio Menezes e Manuel Borja-Villel reuniu artistas sob o tema “Coreografias do Impossível”.

Relacionando elementos ligados ao corpo, ao movimento, à política, à espiritualidade e à materialidade, a exposição procurou destacar artistas que discutem questões identitárias para além da hegemonia do homem branco heterossexual, jogando luz principalmente sobre o trabalho de artistas negros, indígenas, não-binários ou fora dos grandes centros de poder.

Embora estas questões não sejam expressamente mencionadas no texto curatorial, percebe-se claramente esta opção ao se analisar a lista de artistas selecionados.

Esta abordagem decolonialista poderia gerar desconforto caso os artistas fossem escolhidos apenas por sua cor de pele, origem ou gênero, sem considerar a qualidade de suas obras.

Todavia, não foi isso que ocorreu, já que a maior parte dos artistas escolhidos possui uma pesquisa poética sólida e obras de grande impacto visual e conteúdos significativos para a contemporaneidade.

Vários trabalhos tocavam em questões políticas, porém não de forma vazia ou panfletária, mas com apuro de linguagem e envolvimento sensorial e estético.

As aproximações proporcionadas pela arquitetura expositiva e distribuição das obras no espaço valorizou o diálogo entre as poéticas de cada artista, proporcionando uma fruição agradável e reflexiva para o espectador.

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Hugo Fortes

Artista visual, curador, designer e professor associado da Universidade de São Paulo, Brasil. Como artista, já apresentou seu trabalho em mais de 15 países, em locais como George-Kolbe Museum Berlin, Ludwig Museum Koblenz Alemanha, Galerie Artcore Paris, entre outros. Em 2016 tornou-se livre-docente com a tese "Sobrevoos entre Homens, Animais, Tempos e Espaços: Pensamentos sobre Arte e Natureza", na Universidade de São Paulo, onde atua como professor desde 2008. Sua pesquisa como artista e como docente é voltada pelas relações entre arte e natureza, com destaque para questões relativas à paisagem, aos animais e à água.