Cidade como sala de aula: ensine e crie vínculo com seus filhos

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Cristiano Carvalho

Quantas vezes, no trajeto de casa para a escola, ou enquanto viajamos para a casa dos avós ou para um passeio no interior, paramos para ensinar e aprender com nossos arredores? 

Tenho observado, com preocupação, a falta de conhecimento que muitas crianças e jovens têm sobre sua própria cidade. Algumas falam com mais facilidade sobre monumentos no exterior do que sobre um marco em suas cidades natais. 

Outras voltam de viagens com muitas compras na bagagem, mas poucas histórias para contar sobre as cidades que visitaram.

Será que nós, adultos e educadores, estamos utilizando, adequadamente, os momentos de convívio para discutir o que vemos ou, simplesmente, deixamos esse precioso tempo ser consumido pelas telas?

Lembro-me, claramente, da primeira vez que minha filha foi ao Rio de Janeiro, em uma viagem de família, dois meses após o falecimento do meu pai. 

Bem antes da viagem, contamos histórias sobre a cidade, mostramos importantes marcos, como o Cristo Redentor e o Pão de Açúcar. Ouvimos Vinícius e Tom e falamos da “Garota de Ipanema”. 

Não por acaso, ao tocar o solo carioca, ela logo cantou: “Minha alma canta, vejo o Rio de Janeiro, estou morrendo de saudade…”. Saudade de uma cidade que ela ainda iria conhecer, mas que já ocupava um lugar em seu coração e mente. 

Uma de nossas peculiaridades como seres humanos é o fato de que nos conectamos por meio das histórias que contamos uns aos outros. Por meio delas, construímos nossas relações e ampliamos nosso conhecimento. 

Os momentos de deslocamento pela cidade representam uma oportunidade de ensinar nossos filhos a serem cidadãos conscientes e cuidadosos, contribuindo também para que se tornem alunos mais aptos a aprender disciplinas como história e geografia.

A cidade também é uma grande escola de cidadania. Ensinamos a respeitar a faixa de pedestres? Lembro-me das vezes que instruí minha filha a atravessar somente na faixa e após verificar que todos os veículos haviam parado. 

Agora, à beira de tirar sua carteira de motorista, discutimos sobre direção defensiva: manter distância segura do carro à frente, usar a seta antes de mudar de faixa. A cidade educa e a criança aprende, tanto por histórias quanto por exemplo.

Os conteúdos escolares estão espalhados por toda a cidade: as ciências da natureza nas montanhas, mares e céus; as artes nas fachadas e ruas; a música nos restaurantes e performances de artistas de rua; os esportes nas quadras e praias; as línguas nas placas e outdoors; as ciências sociais nas histórias dos bairros e monumentos; a matemática nos relógios, nas pontes e até nas brincadeiras com placas de carros. 

Da próxima vez que estiver passando de carro pela Reta da Penha com seu filho, pergunte se ele sabe por que ela recebe esse nome. 

Se ele não souber, você terá uma excelente oportunidade para uma aula improvisada de história e geografia, além de fortalecer os laços familiares de maneira significativa.

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Cristiano Carvalho

CEO da Escola Americana de Vitória. Educador há mais de 30 anos, professor de Inglês com especialização em linguística aplicada. Coordenou projetos bilíngues e de educação internacional em escolas de educação básica, construindo e gerindo currículos e equipes docentes.