Era manhã de sol em Jardim Camburi quando um grupo de crianças da Moinho de Invento começou a transformar o quintal da escola. Com baldes, conchas e muita imaginação, o chão virou rio, o vento virou história e as folhas secas se tornaram barcos navegando. Aos olhos de um adulto, parecia apenas brincadeira. Mas ali acontecia algo maior: um mergulho no que a escola entende como o verdadeiro tempo da infância, o tempo de descobrir.

Quando o quintal vira floresta ou o chão se transforma em rio, o que vemos é a infância em sua potência. É o pensamento acontecendo em forma de corpo, gesto e imaginação”, explica a pedagoga e coordenadora da escola, Camilla Vazzoler.

O brincar como eixo pedagógico: o tempo Aión em ação

Foto: Reprodução / Moinho de Invento

Na Moinho de Invento, o brincar livre é tratado como método — e não como pausa. É no gesto espontâneo, no movimento do corpo e nas fabulações infantis que o pensamento ganha forma.

Camilla explica que a criança vive em outra temporalidade, distinta do tempo cronológico adulto (Chronos). “O brincar se dá no tempo Aión, o tempo do acontecimento, da intensidade e do sentido. É o tempo da infância, um tempo que não corre, mas habita o instante.”

Para os adultos, Chronos organiza relógios, tarefas e metas. Para as crianças, Aión abre espaço para o inesperado, para a invenção e para a descoberta que acontece no agora — um “tempo que se expande nas experiências e se reinventa em cada gesto”.

O que é o tempo Aión?
Enquanto o tempo adulto (Chronos) é linear, mensurável e marcado pelo relógio, Aión é o tempo da experiência intensa. É quando a criança mergulha na brincadeira e o instante se prolonga: ideias amadurecem, hipóteses surgem e as aprendizagens acontecem com profundidade.

Onde a imaginação encontra o planejamento pedagógico

Foto: Reprodução / Moinho de Invento

Para a Moinho de Invento, brincar é produzir conhecimento. “Brincar livremente não é um intervalo entre aprendizagens, mas um processo ativo de criação e investigação, em que corpo, afeto, imaginação e pensamento se entrelaçam em movimento”, reforça Camilla.

Na prática, isso significa que o brincar alimenta o trabalho docente.

O brincar não é apenas observado: ele estrutura o planejamento. Segundo Camilla, “as professoras observam os gestos, as falas e as interações das crianças, buscando se afetar pelo que está em jogo em cada ação”. A partir dessa escuta sensível, elas planejam provocações — materiais, cenários, tempos e espaços — documentam os movimentos das crianças (com fotos, áudios e portfólios) e analisam esses registros em grupo. Esse ciclo transforma o brincar em motor de pesquisa e criação pedagógica.

Na Moinho, a professora atua como pesquisadora da infância. Ela investiga o que as crianças anunciam em seus gestos, constrói hipóteses e elabora propostas que não impõem roteiro, mas provocam novas perguntas. “O brincar é planejado e intencional, mas nunca controlado. É um espaço de liberdade com sentido pedagógico”, sintetiza Camilla.

A semana do brincar: celebração do cotidiano

Foto: Reprodução / Moinho de Invento

A Semana do Brincar é um reflexo da prática diária. Em 2025, o tema “O brincar como tesouro da infância” convidou toda a escola a olhar com mais atenção para a potência de Aión.

As crianças experimentaram diferentes linguagens — argila, água, música, literatura, teatro e natureza. Não se tratou de um projeto isolado, mas da ampliação do que já acontece todos os dias.

As cenas mais marcantes surgem nos encontros espontâneos entre as crianças e o ambiente: quando o quintal vira floresta, o vento sopra histórias, o chão se transforma em rio e o corpo se mistura à natureza”, descreve Camilla.

Nessas experiências, a criança exercita autonomia, cria hipóteses, resolve problemas, inventa narrativas e se vincula afetivamente ao mundo.

Mudanças visíveis: quando a liberdade transforma

Segundo a equipe pedagógica, os efeitos do brincar livre aparecem rapidamente.

Quando as crianças têm liberdade para brincar, algo nelas se transforma profundamente. O corpo ganha leveza, o olhar se enche de brilho e a fala se torna mais expressiva”, diz Camilla.

Essa liberdade gera:

  • Mais segurança emocional
  • Maior autonomia
  • Criatividade refinada
  • Estratégias para lidar com frustrações
  • Vínculos afetivos mais sólidos
  • Alegria de existir

No brincar livre, a criança experimenta o mundo sem medo de errar. “É um modo de aprender que nasce da liberdade e se sustenta na alegria”, resume a coordenadora.

Um projeto de sociedade: aprender é viver em estado de criação

A escola acredita que brincar é uma forma completa e verdadeira de aprender. “Queremos que as famílias reconheçam que, quando uma criança brinca, ela está criando cultura, exercitando a imaginação e tecendo as bases do pensamento criativo”, afirma Camilla.

Ao valorizar o brincar, a Moinho convida também os adultos a se reencantarem pela infância, abrindo espaço para o inesperado e para a invenção cotidiana — um gesto pedagógico e social.

Quer ver isso de perto?

A Semana do Brincar foi o espelho de uma prática diária: uma aposta institucional em dar espaço, materiais e tempo para que a infância aconteça. Para a Moinho de Invento, essa escolha é um projeto de sociedade: formar crianças que sabem imaginar, criar e colaborar.

Agende uma visita e conheça de perto o espaço onde o brincar é o centro do aprender.

Moinho de Invento – Educação Infantil
Jardim Camburi, Vitória/ES
(27) 3019-2072 | (27) 99266-8887