No norte do Espírito Santo, entre montanhas, vales e lavouras a perder de vista, o cheiro do café recém-colhido se mistura ao ar. É o conilon, fruto que se tornou sinônimo de identidade, trabalho e orgulho para milhares de famílias capixabas. Mais que uma produção agrícola, o café é uma herança que atravessa gerações e agora recebe reconhecimento oficial como produto de Indicação Geográfica (IG).
A história do conilon no Espírito Santo começou em 1912, mas foi a partir da década de 60, que ele se expandiu de forma significativa. Hoje, o estado é o maior produtor nacional e responde por mais de 20% de todo o conilon do mundo. Um protagonismo que ganhou ainda mais força em 2021, quando o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) concedeu ao produto o selo de Indicação Geográfica (IG).
A conquista inédita colocou o Espírito Santo como o primeiro território do Brasil a ter o reconhecimento da produção de conilon em todo um estado. Desde então, o Café Conilon Espírito Santo passou a ser identificado oficialmente como marca de origem, levando consigo a reputação de qualidade, sustentabilidade e tradição.
Herança que atravessa gerações
Entre os que carregam essa tradição está Fabrícia Colombi, produtora em São Gabriel da Palha. Filha de cafeicultores, ela cresceu correndo entre os cafezais que hoje cultiva ao lado do marido e dos filhos. “Produzir café é normal. Agora, produzir o Café Conilon Espírito Santo, com IG, no ponto que a gente trabalha, é especial. É uma vitória para todos nós produtores. Defendemos essa causa porque somos apaixonados pelo que fazemos”, afirma.
Na propriedade da família, o trabalho é dividido entre o café tradicional e o especial, com processos manuais e fermentação que destacam características únicas de sabor e aroma. “O café especial dá mais trabalho, mas também é gratificante. É ele que mostra o terroir, os doces, o sabor diferenciado. Hoje, cafés conilon chegam a 90 pontos, algo impensável há poucos anos”, comemora Fabrícia, lembrando da premiação recente que colocou seu produto entre os melhores do país.
Um território que respira café
A força da cafeicultura capixaba também se revela nas cooperativas. A Cooabriel, em São Gabriel da Palha, é hoje a maior cooperativa de café conilon do Brasil, reunindo mais de oito mil cooperados.
“O Espírito Santo respira café. A Fecafés surgiu com esse propósito: dar protagonismo ao conilon e ancorar a Indicação Geográfica. O produtor aprendeu a valorizar o produto e hoje temos cafés acima de 90 pontos, algo que antes era considerado impossível”, destaca o presidente da Fecafés e da Cooabriel, Luiz Carlos Bastianello.
Bastianello lembra que a mudança cultural foi essencial para alcançar esse patamar. “Antes o produtor queria colher e vender rápido. Hoje ele entende a importância do cuidado, da secagem, do processamento. Esse salto de qualidade fez com que o conilon do Espírito Santo ganhasse respeito no Brasil e no mundo.”
Orgulho capixaba que cruza fronteiras
Para o jovem produtor Lucas Venturim, os prêmios confirmam o crescimento contínuo do conilon capixaba. “Cada ano o café do Espírito Santo é mais premiado. Isso mostra consistência. Não é sorte, é qualidade. Nosso estado já é reconhecido como origem produtora no mesmo nível de países inteiros. Se fosse um país, o Espírito Santo seria o terceiro maior produtor mundial”, compara.
Lucas celebra também a chegada da IG como forma de garantir diferenciação no mercado. “O selo dá confiança ao consumidor. Ele sabe que está comprando um café rastreável, sustentável e de excelência. É um orgulho para nós produtores mostrar que esse trabalho tem origem e identidade”, diz.
Dedicação que floresce no campo
Na mesma família, a quinta geração de cafeicultores segue renovando a tradição. O produtor Isaac Venturim, irmão de Lucas, mostra com entusiasmo a lavoura recém-plantada, com apenas 18 meses. “Estamos testando 15 materiais genéticos para ver quais se adaptam melhor à região. É quase um viveiro experimental. Mas, mais do que técnica, o diferencial é o carinho e a dedicação. Produzir café exige amor, é isso que torna nosso conilon tão especial”, revela.
Força econômica e social
Com quase 300 mil hectares cultivados, o Espírito Santo produz cerca de 10 milhões de sacas de conilon por ano. O grão é o principal produto agrícola do estado, responsável por grande parte da renda e do emprego no campo.
“A cafeicultura de conilon está presente em quase metade das propriedades rurais capixabas. Produzimos três a cada quatro sacas consumidas no Brasil. Em breve, o país será o maior produtor mundial, e o Espírito Santo terá papel decisivo nisso”, destaca o secretário de Agricultura do Estado, Enio Bergoli.
Desenvolvimento territorial
Além do impacto econômico, a Indicação Geográfica fortalece o desenvolvimento regional. Para o Sebrae/ES, a valorização vai muito além do mercado. “A IG é uma grande ferramenta de desenvolvimento territorial. Ela valoriza o saber fazer, as tradições e abre portas para o turismo. Nosso trabalho é dar visibilidade a isso, para que o conilon do Espírito Santo seja reconhecido dentro e fora do país”, afirma a gestora de Indicações Geográficas do Sebrae/ES, Adriana Notaroberto.
O registro foi fruto de um esforço coletivo, que envolveu Sebrae/ES, Seag, Incaper, Embrapa Café, Ifes, Cetcaf, OCB-ES, Sicoob e a consultoria do Instituto Inovates. “Foi um trabalho de união, ciência e tradição”, resume Adriana.
Café que une passado e futuro
Da secagem em terreiros suspensos ao uso de QR Codes que permitem rastrear cada lote, o Café Conilon Espírito Santo se reinventa sem perder suas raízes. A tradição de famílias que passaram gerações cultivando o grão agora se soma à inovação tecnológica, abrindo novos caminhos no mercado global.
Mais que um produto agrícola, o conilon é símbolo de identidade capixaba. Ele conta histórias de famílias, sustenta comunidades inteiras e projeta o Espírito Santo para o mundo.
Identidade reconhecida
A Indicação Geográfica deu ao conilon capixaba o selo de qualidade e origem que chancela décadas de dedicação. “Quem chega no Espírito Santo quer conhecer nosso café, provar, levar para casa. O conilon se tornou uma marca do estado e um elo entre o produtor e o consumidor”, afirma Bastianello.
Hoje, o Café Conilon Espírito Santo é referência nacional e internacional, símbolo de uma cultura que atravessa gerações e se renova a cada safra. Uma história de amor pelo campo, de união de famílias e de identidade que segue viva e fortalecida.
Sobre a webserie
IdentidadES é uma websérie de reportagens e vídeos produzidos pela Rede Vitória em parceria com o Sebrae/ES. A cada episódio, uma história inspiradora revela como produtos com Indicação Geográfica estão transformando vidas, territórios e economias no Espírito Santo.