Foto: Moinho de invento
Foto: Moinho de invento

Na sombra do pé de manga, duas crianças criam ritmos com potes metálicos enquanto outras pintam espirais coloridos no papel estendido sobre o chão. A cena, comum na Moinho de Invento, sintetiza a forma como a escola entende a infância: um tempo em que corpo, afeto e imaginação são inseparáveis. Por lá, arte e música não são atividades isoladas, mas linguagens que estruturam o pensamento, a expressão e o encontro entre as crianças.

Logo na entrada da escola, placas poéticas contornam o chão. Nos espaços internos, nomes como Rubem Alves, Cora Coralina e Adélia Prado reforçam que a arte é parte do projeto pedagógico. Essa intencionalidade aparece nas rotinas, nos materiais, nos ambientes e, sobretudo, no modo como os professores se relacionam com as crianças.

A arte como eixo pedagógico

Foto: Moinho de Invento

A coordenadora e pedagoga da escola, Camilla Vazzoler, explica que, na Moinho, a arte ocupa um lugar central porque estrutura a forma como as crianças aprendem e se relacionam com o mundo.

Na Moinho de Invento, as linguagens artísticas ocupam um lugar central porque são compreendidas como forças que fazem viver, pensar e criar. A arte mobiliza o corpo e o pensamento das crianças em movimentos de afeto, invenção e experimentação.

Essa perspectiva recusa a ideia de arte como produto final ou como habilidade técnica a ser reproduzida. Para a escola, o valor está no processo, no gesto espontâneo, no traço que escapa da forma, nas cores que revelam invenção — sinais da potência criadora que cada criança carrega.

Mais do que uma área de conhecimento, a arte é uma maneira de estar no mundo. Ela atravessa a escola como um sopro criador, fazendo do aprender uma experiência estética e ética.

Linguagem, memória e criatividade em movimento

Foto: Moinho de Invento

A Moinho trabalha com a ideia de que a linguagem nasce do corpo e do encontro. Música, poesia e parlendas fazem parte da rotina diária e são tratadas como espaços de invenção.

Cada experiência artística é um convite para que as crianças se deixem atravessar pela força do sensível. A arte não é apenas expressão, mas um modo de existir em que o pensamento nasce do corpo, do som, do ritmo e da imaginação.

Um dos projetos que expressa essa abordagem é Águas de Março, inspirado na canção de Tom Jobim. As crianças observam o clima, escutam o som da chuva, imitam movimentos do vento e criam versos e melodias próprias. A experiência envolve escuta, corpo, paisagem e poesia e amplia naturalmente vocabulário, atenção e expressão.

As parlendas e cantigas, por sua vez, ativam memórias afetivas e favorecem a expansão da linguagem.

A linguagem se expande porque brota do movimento e das sensações; a memória se torna viva porque se tece nos afetos compartilhados, e a criatividade floresce porque cada criança inventa novas formas de existir e de dizer o mundo.

Projetos que revelam a expressão infantil

Turma Jardim assistindo à projeção da obra “A noite estrelada”, de Van Gogh / Foto: Moinho de Invento

A arte na Moinho não acontece apenas em salas específicas. Ela atravessa corredores, jardins e áreas externas. Um exemplo é o projeto A Banda, inspirado na canção de Chico Buarque. Ao longo de semanas, as crianças exploram instrumentos, ritmos e movimentos.

No projeto A Banda, as crianças exploram instrumentos, sons e movimentos, compondo ritmos que nascem dos encontros entre corpos, espaços e afetos.

O auge acontece quando a fanfarra percorre a escola acompanhada pelas famílias. Não se trata de espetáculo, mas de celebração coletiva: a música vivida como alegria compartilhada.

Outro destaque é o projeto O Céu e o Tempo, inspirado em Van Gogh e em Caetano Veloso. As crianças observam o céu, plantam girassóis e experimentam cores e traços.

Foto: Moinho de Invento

Cada cor, cada traço, cada movimento do pincel se torna signo: não um signo que representa algo fixo, mas um que convida à descoberta, ao desvio, à criação de sentido.

O papel do professor

Foto: Moinho de Invento

A formação docente na Moinho rompe com o modelo tradicional de mediação. Aqui, o educador participa da criação, não conduz de fora. Camilla resume:

Talvez não se trate de favorecer nem de mediar, mas de estar com. As professoras entram nas criações como corpos porosos, disponíveis ao encontro, à escuta e à invenção.

O conceito de devir-criança, inspirado em Deleuze, orienta o trabalho: o professor se abre à sensibilidade infantil, experimenta, sente e cria junto. Dessa relação emergem autonomia e afeto, que não são ensinados, mas vividos.

Famílias que já percebem a transformação

Aluno Lucca Corsini / Foto: Moinho de invento

A força do brincar também chega em casa. A mãe do pequeno Lucca, Fernanda Corsini, observa diariamente os efeitos das experiências artísticas e inventivas da escola.

“A arte tem papel essencial no desenvolvimento do Lucca, pois é por meio dela que ele aprende a se expressar, imaginar, criar, se reconhecer e sentir o mundo. A forma como a Moinho explora a arte, de maneira lúdica e profunda, foi uma das principais razões da minha escolha pela escola.”

Ela relata que projetos como “O céu e o tempo”, em que as crianças exploraram obras de Van Gogh, despertaram encantamento e reflexão.

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“Fico feliz em ver como o Lucca evolui em sua essência através da arte. Saber que ele é respeitado em sua individualidade faz meu coração ficar quentinho. A Moinho foi a melhor escolha.”

Foto: Moinho de Invento

A participação da família não é acessória, ela fortalece vínculos e amplia a experiência estética.

Quando as famílias se envolvem nas experiências artísticas, os afetos se multiplicam e o espaço da escola se expande para além dos muros.

Na fanfarra de A Banda, pais e avós caminham ao lado das crianças. A rua vira palco. A escola, corpo coletivo.

Foto: Moinho de Invento

Essa integração continua em casa, com playlists criadas pela escola e vivências compartilhadas, reforçando a ideia de comunidade sensível.

Na Moinho de Invento, a arte não é atividade complementar: é o coração do projeto pedagógico. Ela atravessa o cotidiano como força criadora que acolhe o gesto, a palavra, o som e o afeto. E, nesse encontro entre crianças, professores e famílias, a infância se faz potência — inventando mundos possíveis, todos os dias.

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