Sabe aquele café que só tem sua qualidade atestada por ser cultivado em determinada altitude, com umidade e sol na medida certa? Ou aquela panela de barro que só é considerada legítima se for moldada pelas mãos das paneleiras de Goiabeiras? Quando a produção de um alimento ou utensílio está ligada ao território, ao saber-fazer de uma comunidade e à qualidade final do produto, estamos falando de Indicação Geográfica (IG).
As IGs são registros concedidos pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) a produtos ou serviços que possuem características e qualidades ligadas ao local onde são produzidos, garantindo ao consumidor a procedência e a história do que está sendo adquirido.
Existem dois tipos de Indicação Geográfica no Brasil: a Indicação de Procedência (IP), que reconhece o nome geográfico de uma região conhecida pela produção ou extração de determinado produto, considerando fatores culturais, históricos e humanos, e a Denominação de Origem (DO), que atesta que as qualidades do produto dependem essencialmente do meio geográfico, como solo, relevo, clima e flora, influenciando diretamente suas características.
No Espírito Santo, são 11 Indicações Geográficas reconhecidas, sendo nove de Indicação de Procedência (IP) e duas de Denominação de Origem (DO). São produtos como cafés especiais, pimentas, cacau, panelas de barro, socol e beiju, que contam histórias de comunidades que mantêm vivas tradições centenárias. São elas:
- Panelas de barro de Goiabeiras (IP)
- Mármore de Cachoeiro de Itapemirim (IP)
- Cacau em amêndoas de Linhares (IP)
- Inhame de São Bento de Urânia (IP)
- Socol de Venda Nova do Imigrante (IP)
- Café do Caparaó (DO)
- Café das Montanhas do Espírito Santo (DO)
- Café Conilon do Espírito Santo (IP)
- Pimenta-do-reino do Espírito Santo (IP)
- Pimenta rosa de São Mateus (IP)
- Beiju do Sapê do Norte (IP)
Para o diretor-superintendente do Sebrae/ES, Pedro Rigo, as IGs representam mais que um selo: são sinônimo de identidade, valor agregado e diferencial competitivo.
“Esses produtos são únicos, com maneira de fazer e terroir únicos, o que garante originalidade e valor. A certificação agrega competitividade, notoriedade e diferenciação no mercado, refletindo no preço e no reconhecimento do Espírito Santo como um território rico em IGs”, afirma.
A diversidade do Espírito Santo também é um trunfo para o sucesso das IGs no estado, como destaca o secretário de Agricultura do Espírito Santo, Enio Bergoli:
“O Espírito Santo é abençoado pela sua diversidade. Temos aqui ambientes que lembram o Nordeste, a Amazônia, o Sul do Brasil, permitindo atividades agropecuárias em climas frios, secos e quentes. Essa variação de terroir, somada à diversidade de povos que colonizaram o Estado, faz com que tenhamos uma grande variedade de produtos, não só na agropecuária, mas em todas as áreas”, fala Bergoli.
Como se obtém o selo de IG
O caminho para conquistar o selo envolve etapas como a identificação da área geográfica, a formação de uma entidade representativa, a elaboração de um pedido detalhado ao INPI com dados sobre o produto, normas de produção e características ligadas ao território.
Após análise minuciosa e período para possíveis oposições, o INPI concede o registro e o selo, que deve ser utilizado junto ao nome da região, certificando a originalidade e a qualidade do produto.
Uma série para contar as histórias por trás das IGs
Para mostrar quem são as pessoas que mantêm vivas essas tradições, o Folha Vitória e o Sebrae/ES apresentam a série especial IdentidadES, que vai revelar as histórias das comunidades que fazem parte dessas cadeias produtivas.
Para produzir a série especial de 10 episódios, foram percorridas todas as regiões do Espírito Santo onde há Indicação Geográfica, ouvindo de perto quem planta, colhe, molda, torra, colhe o cacau ou faz o beiju no forno de barro, preservando modos de vida que atravessam gerações.
Apresentada pelo chef Alessandro Eller, a série traz relatos emocionantes de quem vive da terra e para a terra.
“Quando a gente fala de IG, a gente está falando de gente. De histórias que vêm de longe, passadas de pais para filhos, dos saberes dos avós, do orgulho estampado no rosto de quem faz. Cada produto carrega um pedaço da vida de alguém, e é isto que faz cada IG ser tão especial: ela guarda a alma e a identidade de um lugar”, destaca Eller.
Além da série especial, ao longo das próximas semanas, o Folha Vitória vai publicar reportagens especiais sobre cada IG capixaba, contando como a certificação impacta vidas, fomenta o turismo, fortalece comunidades e protege tradições. São histórias de mulheres quilombolas que transformaram o beiju em símbolo de resistência, de cafeicultores que desafiam a geografia para produzir cafés premiados, de famílias que guardam segredos de defumação trazidos por imigrantes italianos e de muitos outros personagens que constroem diariamente a identidade capixaba.
Nesta terça-feira, 29, será lançado o primeiro episódio da websérie, que estreia contando a história do Café Arábica do Caparaó, mostrando como a produção cafeeira transforma vidas, protege o meio ambiente e movimenta a economia da região.
Toda terça e quinta-feira, novas reportagens serão publicadas no Folha Vitória, sempre acompanhadas de um novo episódio da websérie, em uma jornada que revela como tradição, qualidade e identidade caminham juntas no Espírito Santo.