Jandir Gratieri, o Rei do Inhame. Foto Breno Ribeiro
Jandir Gratieri, o Rei do Inhame. Foto Breno Ribeiro

IdentidadES

Inhame de São Bento: tradição centenária fortalece famílias do ES

Com o selo de IG, o tubérculo cultivado no Sul do ES se transforma em símbolo de identidade, sustento e orgulho

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O coração da zona rural de Alfredo Chaves guarda um tesouro cultivado há mais de um século. É em São Bento de Urânia que o inhame, tubérculo de sabor único e valor nutritivo elevado, virou sinônimo de história, cultura e identidade capixaba. Agora, esse legado ganha ainda mais força com o selo de Indicação Geográfica (IG), que reconhece a região como origem de um produto diferenciado e autêntico.

A IG, concedida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), garante que o inhame cultivado em São Bento carrega características únicas, fruto do clima ameno, do solo arenoso e do trabalho das famílias que, geração após geração, transformaram a comunidade na verdadeira capital do inhame.

Uma história que começou em 1893

Jandir Gratieri e Alessandro Eller. Foto: Breno Ribeiro

À frente dessa tradição está o agricultor Jandir Gratieri, conhecido como o Rei do Inhame e presidente da Associação dos Produtores de Inhame de São Bento do Espírito Santo (Abispes). A relação da sua família com o tubérculo remonta a 1893, quando seu bisavô, Franchesco Eugênio Gratieri, chegou à região pelo Rio Benevente.

“Já existia inhame aqui antes da gente plantar, os inhames primitivos. Um deles chegou a ser batizado em homenagem à chegada da família, o chamado ‘893’”, conta Jandir. Desde então, o cultivo atravessa gerações e se tornou parte essencial da vida em São Bento.

Foi nessa terra que surgiu a variedade cultivar São Bento, genuinamente capixaba, e mais recentemente a cultivar Rochon. Hoje, o Banco de Germoplasma mantido na propriedade da família Gratieri preserva mais de 20 cultivares, em um espaço considerado único.

Para Jandir, a IG é um divisor de águas. “A associação nasceu para dar notoriedade ao produto e valorizar os produtores e a região. O selo é uma forma de proteger nosso trabalho, atrair políticas públicas e mostrar ao Brasil e ao mundo que o inhame de São Bento tem identidade”, afirma.

Ele ainda destaca o valor nutricional do tubérculo. “O inhame não é só alimento, é um superalimento. Está no Brasil desde 1600. Aqui em São Bento, a gente vive o inhame de dia e de noite”, brinca.

O preço da luta na roça

Elson De Nadai, produtor de inhame. Foto: Breno Ribeiro

Se a IG garante reconhecimento, a vida no campo ainda exige coragem e persistência. O produtor Elson De Nadai, herdeiro de uma tradição de mais de 60 anos no cultivo do inhame, conhece bem os desafios.

“Eu fui uma das pessoas que escreveu a Indicação Geográfica”, lembra, com orgulho. Para ele, o selo representa a continuidade de uma história que atravessa três gerações em São Bento de Urânia e dá visibilidade ao trabalho das famílias locais.

Elson conta que o inhame sempre esteve presente na vida da comunidade. “É o que comanda a coisa por aqui”, resume. Apesar de ver no reconhecimento da IG um passo importante para fortalecer a produção, ele reconhece que os produtores ainda enfrentam dificuldades com a comercialização.

“Hoje a gente vende o quilo por R$ 1,50 na propriedade, e no supermercado tem lugar que chega a R$ 10 ou R$ 12”, relata. Mesmo assim, ele mantém a esperança de que, com o selo da IG chegando até o consumidor, o valor do produto seja reconhecido. “Com a IG, o consumidor vai saber que o inhame é de São Bento. Isso pode fazer a diferença”, afirma.

Uma região marcada pela identidade do inhame

Plantação de inhame. Foto: Breno Ribeiro

O reconhecimento do inhame de São Bento como Indicação Geográfica aconteceu em setembro de 2016. A área delimitada da Indicação de Procedência Região São Bento de Urânia para inhame abrange os municípios de Alfredo Chaves, Castelo, Domingos Martins, Marechal Floriano, Venda Nova do Imigrante e Vargem Alta.

São Bento de Urânia é responsável por cerca de 80% de toda a produção de inhame de Alfredo Chaves, município que carrega o título de Capital Nacional do Inhame. O clima ameno e o solo arenoso da região garantem qualidade e produtividade superiores, características que ajudaram a conquistar o registro junto ao INPI.

Originário do sudeste asiático, o inhame é cultivado no Brasil desde o século XVII. Em São Bento de Urânia, começou a ser plantado em brejos, mas os produtores logo perceberam que os terrenos secos eram mais favoráveis.

Com temperaturas que variam de 2ºC no inverno a 30ºC no verão, a região se tornou referência nacional no cultivo.

Festa, cultura e sustento

Mais do que alimento, o inhame é símbolo de pertencimento. Desde 2007, a comunidade celebra todos os anos a Festa do Inhame, evento que marca o início da colheita e movimenta a economia local.

Jandir Gratieri, o Rei do Inhame. Foto Breno Ribeiro

A atividade garante emprego e renda para centenas de famílias, que veem no tubérculo não apenas um produto agrícola, mas a base de sua identidade cultural. “O inhame de São Bento é nossa vida. Ele nos sustenta e nos dá orgulho”, resume Jandir.

Indicação Geográfica

A Indicação Geográfica (IG) é concedida pelo INPI a produtos ou serviços que possuem reputação, qualidades e características ligadas a sua origem.

  • Indicação de Procedência (IP): reconhece a notoriedade de um local na produção de determinado produto
  • Denominação de Origem (DO): comprova que as qualidades do produto estão diretamente ligadas aos fatores naturais e humanos do território.

O reconhecimento do inhame de São Bento como Indicação de Procedência (IP), em 2016, se tornou um marco para a agricultura capixaba e para o futuro dos pequenos produtores da região.

Um sabor com identidade

As histórias de Jandir, Elson e de tantas outras famílias de São Bento estão no novo episódio da websérie especial IdentidadES, uma produção da Rede Vitória em parceria com o Sebrae/ES. A websérie mostra como o inhame, reconhecido com Indicação Geográfica, transformou a vida de uma comunidade e virou símbolo de resistência, qualidade e identidade.

Sobre a webserie

IdentidadES é uma websérie de reportagens e vídeos produzidos pela Rede Vitória em parceria com o Sebrae/ES. A cada episódio, uma história inspiradora revela como produtos com Indicação Geográfica estão transformando vidas, territórios e economias no Espírito Santo.
Breno Ribeiro

Reporter

Jornalista há 9 anos, formado pelo Centro Universitário Faesa, com especializações em Marketing, Administração de Empresas e Gestão de Vendas.

Jornalista há 9 anos, formado pelo Centro Universitário Faesa, com especializações em Marketing, Administração de Empresas e Gestão de Vendas.