* Artigo escrito por Tania Mara Machado, enfermeira, mestre em Enfermagem e professora do curso de Medicina da Faesa; Elizabeth Santos Madeira, médica sanitarista e professora do curso de Medicina da Faesa, e Marcello Dala Bernardina Dalla, médico de família e comunidade e professor do curso de Medicina da Faesa.
Problemas de visão em crianças pequenas podem parecer simples, mas têm impacto profundo no aprendizado, na autoestima e até na permanência na escola. Em Cariacica, na Grande Vitória, o projeto de extensão “Ver para Aprender”, do curso de Medicina da Faesa, está enfrentando esse desafio com seriedade e sensibilidade.
Com ações que conectam saúde, educação e inclusão, o projeto transforma a realidade de muitas crianças, ajudando a enxergar melhor o mundo e o futuro.
Um levantamento nacional realizado pelo projeto social “Em um piscar de olhos”, com mais de 110 mil crianças e adolescentes de seis meses a 15 anos, mostrou que 19% apresentavam algum problema oftalmológico.
Muitos desses estudantes até já utilizavam óculos, com lentes inadequadas, o que prejudicava diretamente o aprendizado, a permanência na escola, a autoestima e a convivência social e em família.
O Conselho Brasileiro de Oftalmologia estima que cerca de 23 milhões de crianças em idade escolar no Brasil tenham erros de refração, como miopia, hipermetropia e astigmatismo.
Apesar de serem facilmente corrigidos com o uso de óculos, esses problemas muitas vezes passam despercebidos ou não recebem o tratamento adequado, impactando diretamente o desempenho escolar e a qualidade de vida dessas crianças.
Documentos oficiais e estudos ligados ao Programa Saúde na Escola (PSE) indicam que até 30% das crianças em idade escolar podem apresentar algum tipo de problema visual, reforçando a necessidade de ações preventivas e diagnósticas no ambiente escolar.
O projeto “Ver para Aprender” surgiu a partir de uma realidade preocupante: muitas crianças chegam ao Ensino Fundamental com dificuldades visuais não diagnosticadas.
Esses problemas afetam diretamente a alfabetização, causam cansaço, dores de cabeça e, em muitos casos, contribuem para a evasão escolar.
A proposta do projeto é simples e transformadora: realizar triagens visuais em alunos da Educação Infantil 5, identificar os que precisam de atendimento oftalmológico e garantir o acesso gratuito aos óculos corretivos. Tudo isso com o envolvimento direto dos estudantes de Medicina.
A iniciativa segue as recomendações da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica e do Ministério da Saúde, que destacam a importância da realização de exames oftalmológicos em crianças entre três e cinco anos de idade.
Em Cariacica, quatro Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) participam do projeto, envolvendo cerca de 312 crianças. As unidades estão localizadas em bairros atendidos pelas unidades de saúde onde os estudantes de Medicina da Faesa desenvolvem suas atividades de integração comunitária.
A expectativa é que, desse total, pelo menos 63 crianças necessitem de encaminhamento para avaliação oftalmológica especializada.
Além da triagem, o projeto inclui ações educativas sobre saúde ocular, alimentação saudável e uso consciente de telas.
Os estudantes de Medicina, supervisionados por professores, desenvolvem materiais informativos e promovem atividades com alunos, pais e professores. O objetivo é criar, desde cedo, uma cultura de cuidado com a visão.
A saúde visual é amplamente reconhecida por órgãos de saúde como um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento físico e cognitivo da criança.
Quando negligenciada, pode comprometer não apenas o desempenho escolar, mas também a qualidade de vida e a interação social. É por isso que o projeto aposta na prevenção e no diagnóstico precoce como ferramentas poderosas de transformação.
A parceria entre escolas, unidades de saúde e instituições de ensino superior comprova que é possível construir soluções conjuntas para desafios antigos.
Iniciativas como o “Ver para Aprender” reforçam uma ideia essencial: a saúde deve – e pode – estar onde as crianças estão: nas salas de aula, aprendendo, crescendo e se desenvolvendo em todo o seu potencial.