Centro Pop de Vitória (Foto/reprodução: Instagram)
Centro Pop de Vitória (Foto/reprodução: Instagram)

Em Vitória, a política de assistência social tem avançado para muito além do atendimento emergencial. A capital capixaba se tornou referência nacional em cuidados com a população em situação de rua ao adotar um modelo que integra acolhimento, saúde, educação, moradia, trabalho e acompanhamento contínuo. O resultado é um processo mais efetivo de reconstrução de vidas — baseado em vínculo, presença e oportunidade.

A cidade, que nos últimos anos ampliou a rede de proteção social e diversificou os serviços destinados a quem vive as consequências da extrema vulnerabilidade, agora colhe os efeitos de uma estratégia que combina ações imediatas com projetos de longo prazo. A proposta é reduzir danos, garantir dignidade e abrir caminhos reais para autonomia.

Uma política pública que começa pelo vínculo

Segundo a subsecretária de Proteção Social Especial de Vitória, Carla Mognato Scardua Shalders, todo o trabalho parte de um princípio fundamental: reconhecer a pessoa antes do problema. Ela explica que o atendimento não é padronizado, é construído junto, caso a caso.

O primeiro passo é estabelecer vínculo. É olhar no olho, ouvir a história, entender os motivos que levaram aquela pessoa até ali. A partir disso, construímos um plano individual, porque ninguém chega na rua pelo mesmo motivo e ninguém sai dela do mesmo jeito.

Carla Shalders, subsecretária de Proteção Social Especial de Vitória

Essa construção leva em conta histórico familiar, saúde física e mental, dependência química, escolaridade, renda, rede de apoio e trajetória de vida. A equipe multidisciplinar é formada por assistentes sociais, psicólogos, educadores e nutricionistas que atuam de forma integrada.

Centro Pop e serviços especializados: a porta de entrada para recomeçar

A rede de proteção conta com o Centro Pop como principal equipamento especializado. Ali, as pessoas em situação de rua recebem atendimento social, alimentação, acesso à higiene, guarda de pertences, serviços de documentação e orientação individualizada.

É também no Centro Pop que começam as articulações para encaminhamentos a abrigos, unidades de acolhimento, vagas de emprego, cursos de capacitação, serviços de saúde e programas de educação. De acordo com a subsecretária, muitos casos exigem acompanhamento próximo e de longo prazo.

Muita gente imagina que basta oferecer abrigo, mas a realidade é mais complexa. A saída das ruas envolve saúde mental, segurança, pertencimento e oportunidades reais. O poder público precisa garantir tudo isso de forma contínua.

Carla Shalders, subsecretária de Proteção Social Especial de Vitória

Nos abrigos e unidades de acolhimento de Vitória, o trabalho não se limita a garantir segurança e estadia. O atendimento inclui acompanhamento psicossocial, reinserção familiar quando possível, construção de rotinas e preparação para a independência.

Há vagas específicas para adultos, mulheres, famílias e idosos. Carla destaca que o modelo multidisciplinar evita que a pessoa volte às ruas sem suporte.

O objetivo não é só tirar da rua — é não deixar voltar. Isso só acontece quando existe acompanhamento, cuidado e projeto de vida. Nosso compromisso é com autonomia, não apenas com acolhimento”, explica.

Moradia, renda e educação

Vitória também aposta em programas voltados para trabalho e renda, capacitação profissional e acesso à moradia. A prefeitura mantém ações de qualificação, parcerias com empresas, benefícios de aluguel social e iniciativas para reinserção comunitária.

Segundo a subsecretária, as histórias de recomeço vêm justamente dessa combinação entre proteção social e oportunidade concreta. Muitas pessoas voltaram a trabalhar, reencontraram a família ou conseguiram retomar um projeto de vida que parecia perdido. Isso acontece quando a cidade oferece suporte completo, e não apenas ações pontuais.

As equipes de abordagem social circulam diariamente pela cidade, conversando, orientando e convidando pessoas a acessarem os serviços. Em casos de resistência, o trabalho é persistente e respeitoso, reforçando o princípio de que ninguém é obrigado a aceitar ajuda, mas todos têm direito ao cuidado.

Vitória como referência no cuidado

O trabalho integrado da prefeitura posiciona Vitória entre as capitais brasileiras que mais estruturaram serviços permanentes para a população em situação de rua. A política pública consolidada combina:

  • acolhimento especializado
  • saúde mental e redução de danos
  • retomada de vínculos familiares e comunitários
  • acesso à documentação, trabalho e educação
  • programas de moradia e acompanhamento continuado
  • equipes de abordagem e suporte 24h

O resultado é um modelo que não trata a rua como destino final, mas como ponto de partida para transformação.

“Nosso compromisso é com vidas. Quando o poder público se organiza, investe e escuta, histórias mudam. Acolhimento não é caridade — é política pública, é direito, é dignidade”, conclui a subsecretária.

Vitória conta com dois Centros de Referência para Pessoa em Situação de Rua (Centro Pop), com uma unidade no território Centro e outra no território Continental, que funcionam todos os dias, das 7 às 17 horas.

Além das equipes do Serviço Especializado em Abordagem Social, a rede é composta ainda por sete serviços de acolhimento: Abrigo para Pessoas em Situação de Rua, Abrigo Institucional para Adultos e Famílias (Abrigo 1), inaugurado nesta gestão, Abrigo II e Abrigo III, Hospedagem Noturna e Abrigo para Migrantes, além da Casa República.

O acesso pode ser feito por meio do Fala Vitória 156.