Imagem de Franciny Ehlke - Reprodução/Instagram
Imagem de Franciny Ehlke - Reprodução/Instagram

“SER MADRASTA TÃO NOVA NÃO TE DÁ MEDO”? Essa pergunta foi feita à influenciadora Franciny Ehlke, de 26 anos, e a resposta dela começou a ocupar os debates nas redes sociais. Inicialmente, ela afirma:

“Primeiramente, acho madrasta um nome muito feio, eu prefiro me considerar uma tia do que madrasta. Mas sim, eu tenho um enteado, meu marido já tem um filho”.

E continua a responder, explicando sua resistência:

Confesso para vocês que eu tinha muito preconceito com madrasta, até porque os meus pais foram até agora, a vida inteira juntos. Cresci com os meus dois pais, meu pai e minha mãe presentes em tudo. Então, confesso que eu tinha um preconceito com essa palavra“.

E a influencer finaliza afirmando: Tenho certeza que estou trazendo muitas memórias boas para ele, porque sou tipo uma irmã mais velha. Brinco de tudo com ele“.

No video, ela fixa uma questão para que suas seguidoras se manifestem:

vocês também não acham Madrasta um nome muito feio“?

A resposta da Franciny é bem interessante porque apresenta alguns aspectos importantes para serem abordados. O primeiro deles é que, muito embora a pergunta seja sobre o medo que ela poderia ter de assumir o lugar de madrasta tão jovem, a questão da idade acabou não sendo abordada.

O que se revela de forma mais evidente, é o temor que ela tem de ser identificada com os estereótipos associados à figura da Madrasta. Ou seja: uma mulher egoísta, cruel e vingativa. Por “SER MADRASTA TÃO NOVA NÃO TE DÁ MEDO”? isso ela rejeita o nome, que acredita derivar de “Má”, e assume ter experimentado certa dificuldade em relação ao papel da “mulher do pai”, pois cresceu em uma família nuclear na qual seus pais se mantém juntos até hoje.

Há, ainda, uma preocupação da influencer em se colocar como parceira do enteado, tipo uma irmã mais velha“, a que brinca junto, a que cria boas memórias, a que revela sentir amor por uma criança que não é filho dela.

As inquietações contidas nessa caixinha de perguntas da rede social da Franciny são muito mais comuns do que parecem. No meu livro “Conversas de uma Madrasta com seu Espelho Mágico”, eu trato das principais angústias que as madrastas experimentam em sua jornada dentro de uma família recomposta.

O interessante é perceber a sutileza de que essas questões surgem de lugares diferentes. Alguém de fora se pergunta: como uma mulher ainda tão jovem pode optar por se relacionar com um homem que já tem um filho, ao invés de escolher alguém com quem ela possa construir “na planta”? Mas essa questão não está no radar da madrasta. Tanto que Franciny sequer a responde.

A escolha do parceiro não obedece a critérios racionais e quem costuma definir o eleito é o nosso inconsciente. Buscamos motivos que confirmem o nosso processo de seleção interna, mas a verdade é que, não importa a idade, a candidata a madrasta não consegue ter dimensão prática do que a aguarda em seu papel.

As aflições da madrasta são de ordem afetiva e ela busca essa validação constantemente. Basicamente ela se pergunta se o companheiro vai lhe dar um lugar ao seu lado, se vai ser amada pelo enteado, se a família do companheiro vai aceitá-la e se a mãe do enteado vai reconhecer seu empenho. De forma geral as preocupações da madrasta giram em torno desses temas.

Talvez Franciny ainda não tenha se dado conta, mas sua resposta, ainda que ingênua, apresenta todos esses desconfortos. A necessidade de se sentir amada e pertencente, em uma dinâmica familiar diversa da sua, a necessidade de mostrar seu amor e sua dedicação pelo enteado, a rejeição do título de madrasta por achar que ele carrega mau agouro…

Querida Franciny, o nome “Madrasta” deriva da palavra latina “Mater”, que significa Mãe. Ele é bonito, mas não representa a realidade da sua função com seu enteado. Você não será “como uma mãe”, ou “tipo uma irmã mais velha”. Você vai construir uma relação única com seu enteado, vai encontrar o seu lugar especial, de ser uma referência, ao lado do pai dele.

A vantagem de ser madrasta tão nova é descobrir muito cedo que a gente não tem garantia de reciprocidade no amor pelo enteado, e mesmo assim insiste em cuidar de quem não precisa de verdade de nós. E isso, minha querida, dá medo. Mas a gente vai com medo mesmo.

Virgínia Luna Smith

Colunista

Advogada, professora universitária, mestre e doutora em direito. Autora do livro "Conversas de uma Madrasta com seu Espelho Mágico" e host no podcast "Laços entre Nós" onde trabalha temas que envolvem as famílias.

Advogada, professora universitária, mestre e doutora em direito. Autora do livro "Conversas de uma Madrasta com seu Espelho Mágico" e host no podcast "Laços entre Nós" onde trabalha temas que envolvem as famílias.