
O desejo por um cabelo mais liso, alinhado e com brilho de salão continua a movimentar salões, perfis de beleza e buscas na internet.
Ao mesmo tempo, cresce a preocupação com os danos causados pelo uso frequente de chapinha e de alisamentos químicos à base de formol ou substâncias semelhantes. Nesse cenário, receitas naturais aparecem como uma alternativa caseira para quem busca resultados mais suaves e de baixo custo.
Uma dessas propostas foi destacada pelo portal TV Foco, que reproduziu uma dica divulgada pelo Folha Vitória: uma mistura simples, feita em casa, com clara de ovo e farinha de arroz, aplicada diretamente nos fios limpos, sem necessidade de chapinha.
Segundo essas publicações, a receita poderia ajudar a deixar o cabelo mais alinhado ao longo do tempo, com menos frizz e aspecto mais liso, sobretudo em quem já tem fios pouco ondulados.
Esta matéria organiza as informações presentes nesses portais e acrescenta explicações gerais sobre o uso de receitas caseiras e sobre os riscos do formol. O conteúdo tem caráter informativo e não substitui orientação médica, dermatológica ou de profissionais de estética.
O QUE VAI NA RECEITA DE CLARA DE OVO E FARINHA DE ARROZ
De acordo com o TV Foco, citando o Folha Vitória, a receita utiliza apenas dois ingredientes que costumam estar disponíveis em casa: uma clara de ovo e cinco colheres de farinha de arroz. A preparação é descrita de forma direta:
- Separar a clara da gema, reservando somente a parte branca do ovo.
- Colocar a clara em um recipiente limpo.
- Adicionar cinco colheres de farinha de arroz.
- Misturar com colher ou espátula até formar uma pasta homogênea, com consistência firme o suficiente para aderir aos fios sem escorrer.
Com o cabelo limpo e seco, a pasta é aplicada no comprimento e nas pontas, evitando o couro cabeludo. Em seguida, a mistura deve agir entre 30 minutos e uma hora. Depois desse tempo, recomenda-se enxaguar com água fria e usar shampoo para retirar os resíduos com mais facilidade.
As publicações ressaltam que se trata de uma receita natural e que o resultado tende a ser progressivo. Ou seja, não há promessa de alisamento imediato. O efeito esperado é de fios mais domados, com aparência mais lisa ao longo de algumas aplicações, e não de uma mudança permanente na estrutura do cabelo.
COMO ESSA MISTURA PODE AGIR NOS FIOS
Embora não existam estudos clínicos consolidados sobre essa combinação específica, é possível entender por que clara de ovo e derivados de arroz são usados com frequência em receitas caseiras.
A clara de ovo é rica em proteínas e, quando seca sobre o fio, forma uma película rígida. Essa película pode deixar o cabelo mais esticado temporariamente, principalmente em fios pouco ondulados, criando sensação de maior alinhamento. No entanto, especialistas em cosmética lembram que ovos crus não foram desenvolvidos para uso capilar e não contam com o mesmo controle de segurança de máscaras formuladas pela indústria.
Já o arroz é citado em diversas tradições de cuidado com os cabelos, especialmente na forma de água de arroz, que pode conter amido, pequenas quantidades de vitaminas e antioxidantes. Em alguns relatos, a aplicação de água de arroz ou farinha diluída deixa o fio com toque mais liso e brilho suave, devido à película que se forma sobre a cutícula capilar.
Na prática, a mistura de clara e farinha de arroz tende a funcionar como um “revestimento” temporário. Ela não altera a forma interna do fio, apenas cria uma superfície mais uniforme, o que pode reduzir o volume aparente e o frizz, sobretudo em cabelos ondulados ou levemente armados. Em cabelos cacheados e crespos, o efeito de alisamento costuma ser discreto.
POR QUE TANTAS PESSOAS BUSCAM ALTERNATIVAS À CHAPINHA
A chapinha continua sendo um dos instrumentos mais usados para alisar os fios de forma rápida. Porém, o uso repetido em temperaturas elevadas está ligado a danos estruturais. Estudos e análises laboratoriais apontam que o calor excessivo aumenta a porosidade do fio, danifica a cutícula e pode comprometer o córtex, parte interna responsável pela resistência capilar. Com o tempo, isso se traduz em ressecamento, perda de brilho e maior tendência à quebra.
Os prejuízos são potencializados quando o cabelo já passou por outras químicas, como descoloração, tintura ou progressivas. Nessa situação, o fio fica mais frágil e sensível ao calor. Por isso, muitos profissionais recomendam limitar o uso da chapinha, sempre com protetor térmico e em temperaturas moderadas.
Em paralelo, cresce o receio em relação ao formol, substância historicamente associada a alisamentos de longa duração, embora seu uso seja restrito em cosméticos. Relatórios de órgãos de saúde, como a Organização Mundial da Saúde, classificam o formaldeído como carcinogênico para humanos, com associação a tumores em regiões como nasofaringe e alguns tipos de leucemia, quando a exposição ocorre de forma intensa e prolongada.
No Brasil, a Anvisa proíbe o uso de formol como alisante em produtos para cabelo, permitindo apenas concentrações muito baixas como conservante. Quando usado em concentrações acima do permitido, em ambientes pouco ventilados, o produto pode causar irritação nos olhos, nariz e garganta, falta de ar, reações alérgicas e problemas dermatológicos.
Diante desses riscos e do desgaste provocado pelo calor, receitas naturais, mesmo sem comprovação robusta, acabam atraindo quem busca uma opção considerada mais suave.
LIMITES E CUIDADOS DA RECEITA CASEIRA
Apesar do apelo natural, a mistura de clara de ovo e farinha de arroz não é isenta de riscos. O ovo cru, por exemplo, pode estar contaminado por bactérias como Salmonella. Reportagens sobre o uso de máscaras capilares com ovo destacam que essa prática pode causar irritações no couro cabeludo e, em casos extremos, infecções locais, especialmente em pessoas com pele sensível ou lesões na região.
Além disso, pessoas com alergia a ovo não devem utilizar esse tipo de receita. Mesmo sem alergia conhecida, recomenda-se fazer um teste de contato em uma pequena mecha e em uma área limitada do couro cabeludo, observando por 24 horas se há coceira, ardor, vermelhidão ou aumento da descamação.
Outro ponto importante é a ausência de padronização. Cada pessoa prepara a mistura em casa, com variações de medida, tempo de pausa e forma de enxágue. Se a pasta não for completamente removida, pode deixar resíduos, deixar o fios rígidos demais ou até favorecer quebra mecânica durante a escovação.
Por fim, a receita não substitui tratamentos indicados para quem tem queda intensa, dermatite seborreica, psoríase, alergias de contato ou outras doenças no couro cabeludo. Nesses casos, o acompanhamento com dermatologista é fundamental.
COMO USAR A RECEITA COM MAIS SEGURANÇA
Para quem optar por testar a mistura, algumas precauções tornam o uso mais responsável:
- Utilizar ingredientes frescos, em recipiente limpo e utensílios bem higienizados.
- Evitar o contato direto com o couro cabeludo, concentrando a aplicação no comprimento e nas pontas.
- Respeitar o tempo de pausa mencionado nas receitas originais, entre 30 minutos e uma hora, sem ultrapassar esse limite.
- Enxaguar com bastante água fria ou levemente fria, até sentir que não há mais resíduo nos fios.
- Utilizar um shampoo suave após o enxágue, para garantir a limpeza completa.
- Interromper o uso caso surjam sinais de irritação, coceira intensa, descamação ou piora do ressecamento.
Também é recomendável não combinar essa receita com outros procedimentos agressivos no mesmo dia, como descoloração ou alisamentos químicos. Um intervalo entre processos ajuda o cabelo a suportar melhor qualquer novo experimento.
QUANDO BUSCAR UM PROFISSIONAL
Receitas naturais podem funcionar como complemento de rotina para quem tem fios saudáveis e sem queixas específicas. Entretanto, quando há sinais de alerta, a orientação profissional é indispensável. Alguns exemplos são:
- queda de cabelo acentuada e persistente
- falhas ou áreas com rarefação visível
- coceira intensa, dor, ardência ou feridas no couro cabeludo
- quebra em grande quantidade após químicas ou calor excessivo
Nesses casos, a avaliação com dermatologista ajuda a identificar causas e definir um plano de tratamento. Já em relação a alisamentos, cabeleireiros que trabalham com produtos regularizados e técnicas atualizadas podem sugerir alternativas mais seguras para cada tipo de fio.
RECEITA NATURAL NÃO SUBSTITUI CUIDADO PROFISSIONAL
A receita com clara de ovo e farinha de arroz, destacada em portais como TV Foco e Folha Vitória, reflete um movimento comum na beleza atual: a busca por soluções simples, baratas e com ingredientes conhecidos. Ela pode oferecer sensação de alinhamento e brilho leve, sobretudo em cabelos pouco ondulados, desde que usada com consciência e atenção aos sinais do couro cabeludo e da fibra capilar.
Ainda assim, continua valendo uma regra importante. Seja na escolha entre chapinha, alisamento químico ou receitas caseiras, o equilíbrio entre resultado estético e saúde dos fios é o que deve guiar as decisões. Informação de qualidade, atenção às normas de órgãos reguladores e acompanhamento profissional são ferramentas essenciais para que a vontade de ver o cabelo mais liso não se transforme em problema para a saúde.