Foto: Divulgação/Setur
Foto: Divulgação/Setur

Uma aluna do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) campus Vitória afirma ter sido vítima de racismo por parte de um professor da instituição, que “não queria aprová-la no curso, mesmo ela possuindo nota suficiente para a aprovação”.

O Folha Vitória entrou em contato com a estudante, de 20 anos, que informou que os problemas com o docente do curso técnico de Estradas começaram em outubro deste ano, quando ela teve um desentendimento com ele em sala de aula.

De acordo com ela, o professor iria aplicar uma prova e utilizava de um “discurso opressor para amedrontar e causar pânico nos alunos”. Indignada com a situação, a jovem perguntou porque o docente agia dessa forma e ele afirmou que a encaminharia para um setor de coordenação para resolver o problema.

Ela destacou que o acadêmico avaliaria os alunos utilizando três notas e que ela havia tirado a nota máxima em duas avaliações, o que já a impedia de reprovar na disciplina, uma vez que, segundo ela, a média para conclusão é de seis pontos.

Porém, quando as notas foram lançadas no sistema, a estudante havia sido reprovada, com nota zero. Ao confrontar o professor, ele disse que ela havia zerado as duas provas.

“No Ifes, há duas formas de aplicar as avaliações, presencialmente ou pelo ambiente virtual de aprendizagem, onde as notas já ficam registradas. Minha nota estava registrada e ele (professor) não queria aceitar. Eu automaticamente reportei para a pedagoga do meu curso, que informou que naquele momento não poderia fazer nada e que eu deveria esperar o Conselho de Classe”, afirmou a estudante.

Ela acredita que, a partir dessa situação, estaria sofrendo racismo e discriminação.

A aluna abriu um protocolo acadêmico na instituição contra o professor, com todos os documentos que comprovavam que ela havia sido aprovada na disciplina.

Apesar de não ter participado do Conselho de Classe, outros acadêmicos relataram para ela que houve voto por unanimidade pela aprovação da jovem, porém o docente ainda se recusou a aprová-la.

O professor tentou explicar no Conselho a situação que ocorreu comigo em sala de aula em outubro, só que ele não conseguiu. Ele utilizava um discurso e afirmava que não aceitava que um aluno zerasse a prova dele e que eu faltei com respeito com ele. E que eu sendo uma aluna preta e pobre deveria aproveitar aquela oportunidade de estar no Ifes, que o mundo para mim seria muito difícil e que ele fazia questão de dar aula para mim no próximo ano, porque ele queria me ver definhar, sofrer mesmo para eu poder aprender.

Estudante do Ifes que foi reprovada

Nesse momento, segundo conta a estudante, outros professores se manifestaram contra o acadêmico e, posteriormente, um deles teria registrado boletim de ocorrência contra o denunciado.

Procurada pelo Folha Vitória, a Polícia Civil informou que não foi localizada nenhuma ocorrência com essas características na 1ª Delegacia Regional de Vitória, e que em situações em que não há detidos em flagrante, é essencial que a vítima registre o ocorrido junto às autoridades para que investigações possam ser realizadas.

O que disse o Ifes?

Em nota, o Ifes manifestou seu repúdio a quaisquer formas de discriminação e manifestou solidariedade às pessoas envolvidas. A instituição também destacou que todos os “encaminhamentos institucionais indispensáveis ao ocorrido já estão sendo feitos”.

Veja a nota completa:

O Instituto Federal do Espírito Santo – Campus Vitória manifesta seu repúdio a quaisquer formas de discriminação. A gestão do campus manifesta solidariedade às pessoas envolvidas diante do relato de situação de discriminação racial, ocorrido em reunião pedagógica envolvendo membros da comunidade acadêmica. Informa que todos os encaminhamentos institucionais indispensáveis ao ocorrido já estão sendo feitos, de acordo com a Resolução CONSUP/IFES nº 334/2025, que regulamenta os procedimentos para acolhimento de vítimas de assédios e de discriminação.

O Ifes – Campus Vitória condena, de forma veemente, quaisquer atos de preconceito, discriminação ou violência que atentem contra a dignidade humana e os valores que norteiam a instituição. A instituição não compactua com atitudes que contrariem os princípios institucionais e reforça que seguirá empenhada na promoção de ações educativas, preventivas e de enfrentamento a todas as formas de preconceito e discriminação.

Cabe lembrar que o campus possui ainda canais disponíveis para que servidores e servidoras possam registrar denúncias, inicialmente, junto ao Fala BR. A Ouvidoria também constitui canal oficial adicional, disponível para servidores, estudantes e colaboradores, garantindo escuta qualificada, sigilo das informações e encaminhamento adequado.

A Diretoria do Ifes – Campus Vitória reafirma, por fim, seu compromisso institucional com a inclusão, a formação e a qualificação de profissionais, empreendendo esforços contínuos para o desenvolvimento das pessoas que integram a comunidade acadêmica e contribuem para a missão educativa da instituição.

Nota da Instituição Federal do Espírito Santo.

Outras manifestações

O Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe Ifes) também manifestou sua indignação com o caso, afirmando que “o racismo é uma forma de violência estrutural, que produz exclusão, sofrimento e negação de direitos.”

O sindicato reivindicou uma apuração célere, rigorosa e transparente dos fatos, com a adoção de providências institucionais efetivas para evitar a recorrência de episódios dessa natureza.

Veja a nota:

O Sinasefe Ifes vem a público manifestar seu repúdio absoluto ao grave episódio de racismo ocorrido no IFES – Campus Vitória.

O racismo é uma forma de violência estrutural que produz exclusão, sofrimento e negação de direitos. Em um espaço educacional, esse tipo de prática assume gravidade ainda maior, pois compromete o ambiente de trabalho, o processo pedagógico e a formação humana, além de reforçar desigualdades históricas.

O Sinasefe Ifes reafirma que racismo não é opinião, é crime, conforme a legislação brasileira, e não pode ser tolerado, relativizado ou silenciado dentro das instituições federais de ensino.

Reivindicamos a apuração célere, rigorosa e transparente dos fatos, com a adoção de providências institucionais efetivas para evitar a recorrência de episódios dessa natureza. O sindicato seguirá acompanhando atentamente o caso e não admitirá qualquer forma de omissão, leniência ou conivência por parte da gestão.

O Sinasefe Ifes reforça que o enfrentamento ao racismo e a prevenção de situações como essa devem ser prioridade da gestão institucional, por meio de políticas claras, ações formativas permanentes e respostas firmes diante de violações.

Não cabe aos servidores, estudantes ou às vítimas assumirem a responsabilidade de lidar com a omissão institucional ou com a falta de protocolos eficazes. A gestão tem o dever legal, ético e político de garantir ambientes seguros, respeitosos e livres de discriminação.

Manifestamos nossa solidariedade irrestrita aos estudantes e profissionais da educação atingidos, reafirmando o compromisso histórico do Sinasefe Ifes com a luta antirracista, com a defesa dos direitos humanos e com a construção de um ambiente educacional baseado no respeito, na diversidade e na justiça social.

Seguiremos vigilantes e atuantes na defesa de uma educação pública que seja, de fato, antirracista, inclusiva e comprometida com a transformação social.

RACISTAS NÃO PASSARÃO!

Nota da Sinasefe Ifes.

O Grêmio Rui Barbosa, que representa os estudantes do instituto, prestou solidariedade à aluna e aos servidores que não se omitiram ao caso, afirmando que esse tipo de comportamento não pode ser aceito.

Veio a nossa atenção na noite desta quinta-feira 18/12, uma situação ocorrida durante o conselho de classe do último ano do curso de Estradas, na qual um docente componente do conselho fez colocações de cunho racista e preconceituoso ao se referir a uma aluna negra.

A aluna, que vinha questionando o professor acerca de comentários relatados como machistas, racistas e homofóbicos reproduzidos em sala de aula, havia atingido a pontuação necessária para a aprovação na disciplina, entretanto, o docente em questão tentou pela reprovação da estudante por “motivos pedagógicos”, tecendo comentários de cunho racista e dizendo como a discente em questão “merecia sofrer” a experiência da reprovação, mesmo tendo atingido o requisito de pontuação necessário.

O episódio é bruto e escancara o fato de que situações de racismo e de pleno preconceito ainda ocorrem em nossa instituição, mesmo nos dias de hoje.

Neste momento prestamos nossa completa solidariedade à vítima e aos servidores que não se omitiram perante as falas preconceituosas reproduzidas durante o conselho. Esse tipo de comportamento não pode ser aceito em uma instituição pública que preza pelo ensino de qualidade de maneira indiscriminada. Continuaremos a apurar todos os fatos e contamos com um posicionamento oficial da direção geral do Ifes Campus Vitória a fim da responsabilização do perpetrador.

Nota do Grêmio Rui Barbosa.

*Texto sob a supervisão da editora Erika Santos

Ana Piontkowski *

Estagiária

Graduanda em jornalismo pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e estagiária do Jornal Folha Vitória.

Graduanda em jornalismo pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e estagiária do Jornal Folha Vitória.