
Depois de anos sem sair da casa de acolhimento onde vivem, idosos do Centro de Acolhida Monsenhor Alonso, no Centro de Vitória, tiveram um dia inesquecível: um passeio pela Grande Vitória que devolveu sorrisos, memórias e a sensação de reencontrar o mundo lá fora. A reportagem do Folha Vitória acompanhou de perto cada momento dessa experiência emocionante.
Do trajeto de ônibus até a Praça do Papa ao embarque no aquaviário, o passeio foi marcado por música e diversão, tudo sob o olhar atento das fisioterapeutas que conduziram o grupo nessa jornada tão aguardada. Ao chegar no aquaviário, a viagem, apesar de rápida, foi para lá de emocionante.

A iniciativa foi do projeto de extensão Paliativa, do curso de fisioterapia da Emescam, que realiza atendimentos fisioterapêuticos para os pacientes no lar de idosos. A professora responsável pelo projeto, Luísa Pedrada, foi quem teve a ideia de levá-los até o local.
Eu fiz esse passeio e pensei que seria incrível se eles também tivessem a oportunidade de ver o quanto a nossa cidade é linda. Sabemos que, para nós, pode parecer algo comum, mas para eles isso pode transformar tudo, mudar o rumo da vida e permitir que vivam de uma forma muito mais positiva.
Luísa Pedrada.
Ao viajar no aquaviário, os idosos olhavam para a vista e conversavam com as alunas que participam do projeto, que, com muito carinho, cuidam dos pacientes.
No trajeto, eles ficaram silenciosos, mas era perceptível as emoções e os sentimentos de felicidade. Não só deles, mas das alunas, da professora e da assistente social, que em nenhum momento tiraram o sorriso do rosto.
O desembarque foi na Prainha, em Vila Velha, onde puderam ver uma bela vista do Convento da Penha e do mar, além da preparação de enfeites para o Natal.
Uma das alunas de fisioterapia, Daiane Kelly Kuster, detalhou a importância do projeto no dia a dia dos idosos, mas também para elas que podem ver a felicidade no olhar dos pacientes.
Acho que para a gente, está sendo um sonho realizado, porque vemos o sorriso neles. Poder tirá-los de lá, eu acho que é muito importante para eles verem esse sol que está aqui. O dia que está lindo. Deixa a gente muito realizado mesmo.
Daiane Kelly Kuster, aluna de fisioterapia

E o passeio surtiu o efeito desejado: no final da “viagem”, todos responderam que se divertiram muito e que querem fazer novos trajetos logo.
Idosos foram abandonados pelas famílias
Os idosos que residem no Centro de Acolhida Monsenhor Alonso foram abandonados pela família ou possuem vínculo fragilizado. De acordo com a assistente social do lar, Vânia Cardoso, são quatro idosos com vínculo fragilizado e dez sem nenhum vínculo.
“Eles eram realmente de situação de rua. E são munícipes de Vitória. Foram feitas todas as buscas possíveis para tentar o vínculo familiar, porém sem êxito.”
Portanto, o único contato que os residentes da casa de acolhimento tem são com as alunas de fisioterapia, com a assistente social e com demais funcionários. Daí a importância do projeto não ser focado apenas na saúde física, mas também emocional e em prol da qualidade de vida.

Projeto Paliativa
Segundo a professora Luísa, é de extrema importância ajudar os idosos no processo de mobilidade física e, ao mesmo tempo, ensinar as alunas valores importantes.
“Quando trazemos essa ação de promover fisioterapia para quem nunca teve acesso, é um privilégio muito grande. Para nós, também é um benefício enorme para os alunos, que são beneficiados desde o quinto período a ter uma prática com pacientes que são fragilizados, que precisam se locomover para promover qualidade de vida durante toda a vida e também na finitude, que é onde eles estão agora. Muitos deles têm dificuldades cognitivas, motoras, doenças ameaçadoras de vida, que é o que caracteriza o cuidado paliativo”, explica.
A assistente social informou que, após os atendimentos fisioterapêuticos, os pacientes tiveram uma melhora significativa nas questões de mobilidade, na redução do número de quedas e na socialização.
Além disso, Daiane explicou como funcionam os atendimentos que começaram há cerca de um ano. As alunas atendem todos os idosos, porém de forma individual, ou seja, elas realizam um rodízio semestralmente, para atender um paciente por vez.
“Esse projeto é voltado para o cuidado paliativo, então nós olhamos esses pacientes como um todo. Nós conseguimos ver o sorriso neles; eles mesmos estão aqui muito felizes e, para mim, é muito importante essa experiência.”

O nome do projeto, Paliativa, pode gerar confusão e ser associado à morte, mas não se trata disso segundo a professora.
Queremos promover qualidade de vida e também qualidade de finitude, para que as pessoas vivam tão bem, mas também consigam morrer sem sofrimento, próximas, com amor, carinho e empatia.
Luísa Pedrada.