Na manhã de 10 de julho de 2025, a cotação do dólar rompeu a barreira de R$ 5,62, máxima intradiária que não se via desde o final de 2024. O gatilho foi a decisão do presidente norte‑americano Donald Trump de decretar uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros a partir de 1º de agosto, ampliando a tensão comercial entre os dois países.
Menos de 24 horas antes, o Bitcoin (BTC) já havia protagonizado outro choque. Subiu em linha reta até US$ 112.000, quebrando seu recorde anterior contra o dólar. Em poucas horas, brasileiros correram para as corretoras. O volume negociado em criptoativos no país saltou em relação ao dia anterior, até acima da média global.
Choque duplo: Dólar dispara e Bitcoin renova recorde
O anúncio das tarifas partiu diretamente da Casa Branca e foi endossado em rede social por Trump, que justificou a medida como recíproca diante de supostos subsídios brasileiros. Agentes financeiros reagiram vendendo reais. A moeda norte‑americana chegou a R$ 5,62, alta de 2,5% no pico do pregão.
Ao mesmo tempo, investidores viram o BTC superar 112.000 de dólares na tarde anterior e estabilizar‑se na faixa de 111.000 de dólares, algo atribuído a compras institucionais e ao enfraquecimento do dólar. Além de encarecer viagens e eletrônicos, a disparada cambial traz efeito dominó sobre alimentos e combustíveis.
Segundo o economista André Braz, do FGV IBRE, cada 10% de desvalorização do real pode acrescentar 0,4 ponto ao IPCA, pois boa parte da cesta básica depende de insumos cotados em dólar. Ele alerta que a tarifa de 50% agrava a pressão, pois reduz divisas vindas das exportações e amplia a percepção de risco fiscal.
Alguns analistas lembram que o Banco Central já interveio em situações parecidas, como na “mini‑corrida cambial” de março, vendendo swaps para conter a volatilidade. Do lado cripto, a arrancada até 112.000 de dólares ocorreu em meio a forte interesse aberto nos futuros da CME, sinal de entrada de hedge funds e gestores de patrimônio.
Com o real pressionado e o BTC em zona de descoberta de preço, cresce também a procura por estratégias mais ousadas. É nesse ambiente que floresce o interesse pela pré venda de criptomoedas, mecanismo que oferece tokens a preços iniciais, na expectativa de fortes valorizações quando o mercado se acalmar.
Traders experientes argumentam que a combinação dólar caro + recorde do Bitcoin cria o timing perfeito para diversificar a carteira antes da próxima onda de alta. Dados compilados pela CoinDesk mostram que o número de contratos de BTC em aberto na bolsa de Chicago superou 148 mil em 8 de julho, encostando em recorde anual.
Analistas atribuem a escalada ao “efeito reserva de valor”. Quando o dólar sobe demais ou enfrenta incertezas políticas, parte dos investidores brasileiros prefere dolarizar a carteira através de criptoativos em vez de comprar a moeda física, evitando o spread alto nas casas de câmbio.
Volume nas corretoras dobra: Por que o USDT lidera?
A consequência imediata foi sentida nas plataformas nacionais. Levantamento do MercadoCripto indica que as exchanges que operam no Brasil movimentaram R$ 1,22 bilhão em 24 horas, contra R$ 590 milhões no dia anterior.
Para o analista Felipe Moura, da Foxbit, o investidor local reagiu primeiro ao câmbio e depois à nova máxima do Bitcoin, enxergando uma oportunidade dupla de arbitragem. Boa parte desse montante veio do Tether (USDT).
O stablecoin atrelado ao dólar custa bem menos do que comprar a moeda no turismo e permite migrar para outras criptomoedas sem voltar ao real. As moedas digitais se tornaram “moedas‑ponte” para brasileiros que desejam manter reserva em dólar fora do sistema bancário tradicional.
Em seguida vieram Bitcoin e Ethereum, confirmando o apetite por ativos de maior liquidez. Quando o dólar disparou acima de R$ 5,60, muitos brasileiros passaram a converter reais em USDT apenas para manter poder de compra em moeda forte. Mas, conforme o Bitcoin furou a casa dos 110 mil dólares, o discurso de segurança cambial foi rapidamente contaminado pelo velho FOMO.
Regulação brasileira ganha contornos
O ambiente jurídico ficou mais claro depois que a Resolução 175 da CVM entrou em vigor, permitindo que fundos tradicionais aloquem até 10% do patrimônio em cripto via custodiantes autorizados. Pouco depois, a autarquia deu sinal verde para que a B3 lançasse futuros de Ethereum e Solana.
Ampliando, assim, o leque de derivativos negociados em reais. Nos bastidores, investidores monitoram três datas importantes. A votação no STF sobre a alíquota de IOF em remessas superiores a 10 mil dólares, prevista para 15 de julho. Há também a audiência pública da CVM sobre tokenização de debêntures, ainda sem data definida.
E o simpósio anual de Jackson Hole, em que o Federal Reserve costuma antecipar pistas de política monetária, algo que costuma respingar no real e, por tabela, no apetite por cripto no Brasil. Se o câmbio continuar volátil, é provável que a corrida por stablecoins se intensifique antes mesmo de o Drex sair do piloto‑regulatório do Banco Central.