O jovem Gerson de Melo Machado, de 19 anos, morreu após ser atacado por uma leoa no Parque Zoobotânico Arruda Câmara, conhecido como Bica, em João Pessoa (PB). A prefeitura da capital paraibana informou que ele escalou uma parede de seis metros de altura e grades de segurança, acessou uma árvore e invadiu o recinto dos leões.
Vídeos que circulam nas redes sociais mostram o momento em que o homem entra no recinto da leoa pela parte lateral e desce pela árvore no último domingo (30). Na sequência, ele é atacado pelo animal.
“Vaqueirinho de Mangabeira”, apelido dado a Gerson, era esquizofrênico e tinha sintomas psicóticos ativos, segundo laudos de perícias psiquiátricas determinadas pela Justiça.
Um mês antes de sua morte, a Justiça havia determinado a internação do rapaz, que acumulou 16 passagens por crimes de furto e dano.
Nesta terça-feira (02), o Instituto Médico Legal (IML) declarou que a causa da morte do jovem foi um choque hemorrágico, causado pela mordida da leoa, que atingiu vasos importantes da região cervical. O documento também indica que o animal não chegou a ingerir partes do corpo.

Esquizofrenia e abandono
A morte do jovem foi comentada nas redes sociais pela conselheira tutelar de Mangabeira, Verônica Silva de Oliveira, que atendia o rapaz quando ele era menor de idade. Segundo o relato, ele teve uma vida marcada por abandono, violações e sofrimento.
“Gerson, meu menino sem juízo… Quantas vezes, na sala do Conselho Tutelar, você dizia que ia pegar um avião para ir a um safári na África cuidar de leões. Você ainda tentou. E eu agradeci a Deus quando o aeroporto me avisou que você tinha cortado a cerca e entrado no trem de pouso de um avião da Gol. Graças a Deus, observaram pelas câmeras antes que uma tragédia acontecesse”, afirmou a conselheira.
Ela também relatou que acompanhou o jovem por oito anos, brigando e lutando por seus direitos. Além disso, ela relembra o momento em que Gerson entrou em sua sala pela primeira vez, com 10 anos. Ele havia sido encontrado sozinho em uma rodovia federal.
A conselheira disse que o jovem sempre quis “voltar a ser filho da sua mãe”, que também é esquizofrênica.
Eu conheci a criança destituída do poder familiar da mãe, impedido de ser adotado como os outros quatro irmãos. Você só queria voltar a ser filho da sua mãe, que é esquizofrênica e não tinha condições de cuidado. Sua avó, também com transtornos mentais. Mas a sociedade, sem conhecer sua história, preferiu te jogar na jaula dos leões.
Conselheira tutelar
Além da mãe, os avós do garoto também tiveram diagnósticos de esquizofrenia. O nome do pai não constava em seus documentos.
“Quando a gente foi levar o Vaqueirinho para a família, a avó disse que não tinha condições de ficar com ele. Ninguém da família queria. A avó não queria, o pai não queria, ninguém queria”, contou Edmilson Alves, o Selva, diretor da Penitenciária Desembargador Flósculo da Nóbrega (Presídio do Róger), em um vídeo publicado em suas redes sociais.
O chefe de disciplina do Presídio do Róger, Ivison Lira, que também acompanhou o garoto, contou que o fato de Gerson não receber tratamento era uma “tragédia anunciada”.
“Vaqueirinho sem o devido tratamento, na rua, está aí o resultado. Infelizmente, a gente via que o raciocínio dele era de uma criança de cinco anos”.
Em um vídeo publicado em suas redes sociais, Lira destacou que dava bombons e outros produtos para que o garoto não se rebelasse. Ele e o diretor do presídio concordaram que o lugar de Vaqueirinho não era na prisão.
Apreensão e prisão
Gerson passou por diferentes tratamentos psiquiátricos ao menos dos 7 aos 18 anos. Ele foi apreendido e viveu em espaços de ressocialização para adolescentes. De acordo com o diretor da penitenciária, “Vaqueirinho” tinha 16 passagens, sendo dez no presídio de menores e seis no presídio de maior.
Ele não conheceu outra vida senão a prisão.
Edmilson Alves.
O jovem foi preso e apreendido por diversos delitos. Na semana passada, ele foi preso duas vezes no intervalo de duas horas, primeiramente por danificar dois caixas eletrônicos e depois por arremessar paralelepípedo e quebrar parte do vidro de uma viatura policial. No dia seguinte, ele foi solto.
Nesta ocasião, a juíza Michelini de Oliveira Dantas Jatobá, da 1ª Vara Regional do Juízo de Garantias de João Pessoa, reforçou a necessidade de urgência no encaminhamento dele para tratamento psiquiátrico. Ela também requereu a viabilização da aposentadoria do jovem por incapacidade.
Um mês antes de sua morte, o juiz Rodrigo Marques Silva Lima, da 6ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça da Paraíba, indicou o Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico como local adequado para o tratamento “médico-psiquiátrico intensivo e supervisionado de que necessita”.
“Vaqueirinho” também já havia danificado o portão do Centro Educacional de Adolescentes (CEA), onde já ficou internado. Ele foi contido por policiais com spray de pimenta. O juiz responsável pelo caso afirmou que o laudo de Gerson constata que ele era inteiramente incapaz de compreender o caráter criminoso do ato.
Como foi a invasão?
De acordo com a prefeitura, em comunicado, o jovem invadiu o parque rapidamente e as equipes de segurança tentaram impedir a ação, sem sucesso.
O caso está sendo investigado pela polícia e internamente pela Secretaria de Meio Ambiente de João Pessoa.
Leoa que atacou Gerson está em observação
Conforme informado pelo Parque Arruda Câmara, a leoa que atacou Gerson se chama Leona. O animal está bem e segue recebendo os cuidados necessários. Após o incidente, Leona foi avaliada e continua em observação devido ao elevado nível de estresse que passou.
O parque informou que não foi considerada a possibilidade de eutanásia.
“A Leona está saudável, não apresenta comportamento agressivo fora do contexto do ocorrido e não será sacrificada. O protocolo em situações como essa prevê exatamente o que está sendo feito: monitoramento, avaliação comportamental e cuidados especializados.”
O parque foi fechado imediatamente após o ocorrido para a remoção do corpo e outros procedimentos de segurança. Em comunicado, foi informado que o local seguirá fechado para visitação até a conclusão das investigações e dos procedimentos oficiais.
*Texto sob a supervisão da editora Erika Santos, com informações dos portais Estadão, Metrópoles e UOL