Um casarão de mais de 100 anos pode ser demolido por conta das obras do Contorno da BR-101, em Ibiraçu, município da região Norte do Espírito Santo. No imóvel, vivem 13 pessoas de quatro gerações da família Perut, incluindo a matriarca da família, Aurora Perut Barbosa, de 100 anos, e o patriarca, Pedro Barbosa, de 96.
O casarão abriga as obras do artista plástico capixaba José Paulo Dileta, filho do casal de idosos, que também mora no local, o que reforça o valor cultural e histórico do imóvel. O empresário Daniel Perut Barbosa Melo, neto do casal de idosos, contou que o imóvel foi construído pelo tataravô dele, Ângelo Perut.
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Não há registro exato da data em que o casarão foi construído, mas registros fotográficos de 1907 já mostram a casa de pé. Daniel defende que o imóvel seja reconhecido como patrimônio histórico e busca o tombamento junto ao município.
“O casarão está em perfeito estado de conservação, com praticamente tudo original da época. A arquitetura está toda preservada. Ele tem um valor histórico e cultural muito grande para o município”, afirma o empresário.
Daniel conta que faz cerca de uma semana que a família ficou sabendo da possibilidade de demolição do casarão, quando dois engenheiros da Ecovias Capixaba, concessionária que administra a BR-101 no ES, estiveram no sítio onde está localizada a residência.
O pessoal da Eco foi lá já para fazer a vistoria. Só que a família nunca tinha participado de nenhuma reunião com a empresa. E, quando procuramos saber como seria, eles mostraram mapas de onde vai passar a via, e vai tomar simplesmente todo o sítio do meu avô, inclusive o casarão. Provavelmente, a família vai ser despejada.
Daniel Perut Barbosa Melo
Durante a visita, os engenheiros teriam dito que a vistoria tinha o objetivo de calcular a indenização que ia ser paga à família pelo imóvel, mas nenhum comunicado oficial foi feito aos proprietários.
Daniel garante que valor de indenização não tem importância para a família. A preocupação da família é com a saúde física e emocional do casal de idosos que mora lá.
A gente não sabe ainda valores de indenização, mas a preocupação para a maior parte da família não é essa. Retirar um casal de 100 anos de idade, de dentro do lugar que eles nasceram, viveram e criaram os filhos é uma preocupação emocional com o estado deles. Não se sabe se vão comprar outra casa, se vão dar outra casa, onde vão colocar meus avós. Então, essa é a primeira preocupação: a saúde dos dois.
Daniel Perut Barbosa Melo
O projeto
No local, deve passar o Contorno Urbano de Ibiraçu, obra prevista pela Ecovias. O objetivo da obra é desafogar o tráfego pesado de veículos de dentro da cidade, passando por fora do perímetro urbano.
Empresa diz que projeto está em fase de estudos técnicos
Procurada pela reportagem, a Ecovias Capixaba não respondeu especificamente sobre a situação do casarão da família Perut.
Por meio de nota, a empresa disse que o tema em questão está relacionado à obra de implantação do Contorno Urbano de Ibiraçu, empreendimento que atualmente encontra-se em fase de conclusão do projeto executivo, com o processo de licenciamento ambiental em andamento e o início dos cadastros necessários aos processos de desapropriação.
“Neste momento, as atividades concentram-se na coleta de informações e na realização de estudos técnicos que subsidiarão as próximas etapas do projeto, não havendo ainda qualquer intervenção física na área”, diz o texto.
O projeto, de acordo com a Ecovias, está sendo desenvolvido com o objetivo de minimizar os impactos sociais e ambientais, observando rigorosamente as normas legais e os critérios estabelecidos pelos órgãos competentes.
“Todos os impactos identificados serão devidamente tratados no âmbito do projeto. O Contorno Urbano de Ibiraçu é uma obra planejada para melhorar a mobilidade e a segurança viária da região, melhorando o tráfego de longa distância no perímetro urbano e promovendo benefícios diretos à população local”, explica a concessionária.
“A Ecovias Capixaba reafirma seu compromisso com a transparência, o diálogo permanente com a comunidade e o respeito ao patrimônio histórico, cultural e ambiental, conduzindo todas as etapas do projeto com responsabilidade técnica e social”, finaliza o texto.
Iphan
Procurado pela reportagem, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) informou que o imóvel citado não é tombado pela autarquia. “O Instituto só se pronuncia sobre assuntos relacionados a patrimônios tombados e registrados em nível federal”, esclareceu o órgão.
A Prefeitura de Ibiraçu também foi procurada. Assim que houver retorno, o texto será atualizado.
Repórter
Jornalista formada em 2011, com experiência nas principais empresas de comunicação do Espírito Santo. Também atuou como assessora de comunicação e social media.
