
O menino Felipe dos Santos Lima, de 2 anos, morreu após cair em um poço raso no quintal da casa da família, no Povoado Sapé, na zona rural de São Sebastião, interior de Alagoas. A necropsia apontou morte por afogamento.
O acidente ocorreu no último sábado (13), quando a família comemorava o aniversário da mãe de Felipe, Francielle Lima.
De acordo com a TV Pajuçara/Record, o menino estava brincando no quintal com sua irmã, Maria Heloísa, e com alguns primos, quando caiu dentro do poço raso. A família informou que a estrutura estava lacrada com uma laje, mas que, provavelmente, devido às chuvas, a proteção se danificou.
A irmã presenciou o acidente e correu para buscar ajuda. O menino chegou a ser resgatado do poço por um morador da região, e foi levado pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) até ao Hospital de Emergência do Agreste (HEA), mas não resistiu.
Carta do pai
O pai de Felipe, Willan Lima, escreveu uma carta para se despedir do filho. No texto, ele contou como foi a chegada do menino na família, seus gostos, suas felicidades e suas diversões.
Em seguida, ele revelou como foi o acidente que tirou a vida da criança, que morreu a caminho para a UTI móvel.
A carta termina com o pai agradecendo as mensagens de apoio e também afirmando que sentirá saudades do filho.
Leia a carta na íntegra
Você acredita em anjo? Pois é… ele é o nosso.
Felipe foi descoberto quando sua mãe, Francielle, já estava com três meses de gestação. Uma gravidez tranquila, amada e desejada. Tantos detalhes para a sua chegada: cores, decoração, amor e gratidão. Nossa primogênita Heloísa precisava da companhia dele e, juntos, formávamos o quarteto mais perfeito.
Sua chegada foi radiante, na madrugada de 28 de março de 2023. Seu choro abriu portas de felicidade e completou a união e a cumplicidade da nossa família. Meigo, sorridente, suas expressões traduziam leveza e paz.
Cada traço seu revelava pureza e prodígio. Rodeado de carinho e amor de todos à sua volta, Felipe tinha um sorriso aberto, um olhar cúmplice e um laço especial com a irmã — a “Lolô”, como ele a chamava. Eu não cabia em mim de tanto amor que sentia por eles. E sua mãe… ela revelava, face a face, o cuidado e a proeza de zelar por vocês.
Tios o levavam de lá para cá apaixonadamente. Padrinhos e madrinhas o embalavam com mimos e fantasias. Avós se encantavam com sua pureza. Primos compartilhavam a magia da infância cheia de doces e chocolates.
Sua escolinha revelou grande sabedoria, de números a cores. As vogais, pinturas e amizades genuínas com seus coleguinhas eram pura alegria. As tias — ah, essas sem palavras! — a Escolinha Sonho Meu multiplicou sua diversidade de aprender e fez novos parceiros de brincadeira e descobertas.
Momentos felizes se multiplicaram: suas descobertas, o dia em que me chamou de “pai” pela primeira vez, o fascínio por fazenda, animais, trator (o “Té”), a motinha Pop do avô. Ah, e aquele topete no cabelo que você tanto exibia — eu queria um igual, mas sempre fui desprovido de cabelo para copiar! Sua paixão por bois e cavalos enchia nossos dias de aventuras. E como você amava as músicas de vaquejada, principalmente a tão tocada “Casca de Bala”, que fazia seus olhinhos brilharem e os pezinhos dançarem.
Aniversários do Safari de 1 aninho ao de 2 com tema Fazendeiro Zenon… Nunca medi esforços para realizar seus sonhos — que eram também os meus.
Mas chegou o capítulo que eu jamais queria escrever. O dia 13 de setembro de 2025, um sábado especial: a mãe completava mais um ano de vida. Pela manhã comemoramos juntos, mas à tarde o destino mudou nossas vidas.
No terreiro, brincando com as primas, você passou sobre um poço antigo, totalmente lacrado. Uma fração de segundo e a laje, fragilizada pelas chuvas, cedeu. Um rapaz da comunidade, um herói sem capa, desceu e o retirou dali com coragem. Profissionais do resgate lutaram, mas no caminho para a UTI móvel, você partiu.
Eu e sua mãe só tivemos acesso a você no hospital. O choro tomou conta de todos. Clamei a Deus por um milagre: “Senhor, devolve ele para mim”. Mas o coro dos anjos foi mais alto e precisavam de você no céu.
A primeira noite no IML foi uma prova que nunca pensei enfrentar. Entre corredores frios, percebi um raio de luz sobre você — sinal do céu. Profissionais nos ampararam com humanidade.
Após a necropsia, a causa confirmada foi: morte por afogamento.
Sua partida foi precoce. Eu e sua mãe não encontramos respostas, mas confiamos que tudo tem um propósito. Você agora é uma estrela que brilha junto às constelações do Pai.
A nossa casa guarda cada lembrança sua. Seguiremos com fé, mesmo sem o doce que você trazia à vida. Os anjos o acolheram; o céu se encheu de chuva para a sua chegada triunfante.
Meu filho, eu dei tudo o que tinha: meu amor. E continuo a te amar além da vida. Agradecemos a todos pelas mensagens, ligações, abraços e palavras de conforto. Sem esse carinho, não teríamos forças para prosseguir.
Se eu pudesse deixar um recado, diria: amem muito os seus. Hoje carrego a ferida no peito, mas também a certeza de que o amei com toda intensidade. Saudades eternas do nosso pequeno Lipe, nossa estrela cadente Felipe.
Willan & Francielle Lima (pais) Maria Heloísa (irmã)
“A esperança não decepciona.” (Romanos 5:5)
*Texto sob a supervisão da editora Erika Santos