A fé foi um dos maiores fatores que mantiveram otimistas os dois amigos que ficaram mais de 50 horas à deriva no meio do mar. O montador de móveis Ronald Menezes contou que buscava força em Deus e no amigo Maikel Araújo dos Santos, o criador do Macakids.
A fé da gente é muito grande. Muitas vezes eu desanimava, ele vinha e me dava força. A gente foi se agarrando um no outro, mas foi a fé em Jesus Cristo que manteve de pé. E eu tinha certeza, eu cheguei até a falar com ele, falei, cara, pode ter certeza de que tem muita gente que tá orando pela nossa vida e Deus vai dar uma solução pra gente. Ele não vai desamparar a gente, pois Deus não desampara os seus. Ele vai tirar a gente dessa com vida, vai enviar um anjo para resgatar a gente.”
Ronald Menezes, montador de móveis
Esposas também não perderam a fé
A esposa de Maikel, a sargento do Corpo de Bombeiros Fernanda Duarte, contou que teve medo de perder o marido e ter que criar a filha do casal sozinha. Ela está grávida de 28 semanas.
“Eu o amo muito e estava muito ansiosa. Eu tinha medo e pensava como que eu ia fazer sozinha com ela. Isso foi nos momentos em que eu fraquejei, mas rapidamente o Senhor tomava conta de mim e me mostrava que isso era só por um tempo, que ele já estava chegando”, desabafou.
A auxiliar de serviços gerais Luciene Santana disse que sente gratidão pelo retorno do marido Ronald.
“Fizemos uma corrente de oração por esses dois homens, e é muito gratificante saber que tinha muita gente se movimentando por eles. Só temos a agradecer por tudo isso. Ele é uma pessoa muito especial na minha vida. Eu o amo muito”, disse.
Mãe pediu para montador não ir pescar
Ronald contou que a mãe dele chegou a pedir que não fosse pescar naquele dia. “Tenho que pedir muito perdão para minha mãe porque desobedeci uma ordem dela. Deus mesmo fala que a gente tem que honrar o nosso pai e nossa mãe, né? E eu acabei desonrando ela pela minha vontade pescar”, contou.
Entenda o caso
Resgatados após 50 horas à deriva, o empresário Maikel Araújo dos Santos e o montador de móveis Ronald Menezes contaram detalhes do drama que viveram antes do resgate em uma coletiva de imprensa na tarde desta quarta-feira (1º).
A dupla saiu para mergulhar e pescar no domingo pela manhã no barco de Maikel. O dia tinha tudo para ser perfeito. “Foi uma das pescarias mais abençoadas que eu já fiz. Tinha mais de 200 quilos, uns 250 quilos de peixe. Não cabia mais peixe no barco. Eu falei: ‘Graças a Deus, vamos embora. Que dia perfeito”, contou o empresário.
Por volta das 16 horas, os dois amigos decidiram encerrar a pescaria e voltar para casa. O barco navegou por cinco milhas (cerca de oito quilômetros) e parou de funcionar. “A lancha deu uma pane que nunca tinha dado”, relatou Maikel.
Os pescadores jogaram as quatro âncoras do barco, mas mesmo assim a ventania começou a levar a embarcação para mais longe da costa. Eles conseguiram fazer contato com quatro barcos que estavam no entorno, mas antes que os pilotos respondessem, o rádio também parou de funcionar.
“Mas aí eu sinalizei vendo se algum deles me via e eles não estavam vendo. E aí escureceu. E eu já comecei a me preparar para passar uma noite bem longa.”
Pouca comida e água
Os pescadores passaram uma noite difícil, sem dormir quase nada. Havia pouca comida e pouca água. “Normalmente levávamos muita comida. Dessa vez, levamos apenas o básico: três pães, 100 gramas de muçarela e alguns biscoitos”, detalhou Maikel. De água, os dois tinham apenas um litro e meio, que foi racionado até o resgate.
No domingo (28), o barco estava a 30 milhas da costa. Na manhã de segunda-feira (29), o vento e a correnteza levaram a embarcação a sete milhas ao Sul. De Anchieta, onde embarcaram, os dois já haviam chegado na altura de São Francisco do Itabapoana, já no Rio de Janeiro.
Vela improvisada
Uma atitude de Ronald foi crucial para reaproximar o barco da costa e aumentar as chances de resgate da dupla. Utilizando camisas, o montador de móveis improvisou uma vela e transformou a lancha num barco a vela.
“A gente teve a ideia de fazer esse veleiro, mas só o Ronald que tinha a expertise de fazer. Então, ele costurou as roupas com a habilidade dele. Se ele não tivesse feito isso, acho que nem sei até onde que a gente conseguiria chegar. Essa vela criava um balão e empurrava a gente para a direção da costa”, detalhou Maikel.
Pedidos de socorro
Ao longo do período em que os pescadores estiveram à deriva, eles avistaram três rebocadores, tentaram pedir socorro, mas não foram resgatados. “Provavelmente eles acharam que a gente estava pescando e simplesmente desviaram da gente e foram embora”, disse Maikel.
Já exaustos e com medo de nunca serem resgatados, os dois amigos avistaram mais uma esperança: o avião da Força Aérea Brasileira (FAB), que estava em busca dos pescadores desaparecidos. Mas a tripulação não viu o barco e seguiu em frente. “Foi um momento de muito desespero”, contou o empresário.
Baleia
Um dos momentos de grande tensão foi quando uma baleia passou por baixo da embarcação dos amigos. “Ela assustou a gente. O Ronald viu que baleia chegou embaixo da lancha e começou a gritar: ‘Sai, baleia! Sai, baleia!’ Só para ter ideia, teve um momento que ela jorrou a água durante a respiração”, relatou o empresário.
O resgate aconteceu na tarde desta terça-feira por um navio mercante, a cerca de duas milhas náuticas do Porto de Açu, no Rio de Janeiro.
O que é Macakids
O empresário Maikel Araújo dos Santos é criador do “Macakids”, uma história em quadrinhos sobre macaquinhos que vivem numa ilha. Composta pelos personagens Caco, Drika, Kinho e Kinha, a turma valoriza a família, sustentabilidade, a educação ambiental e músicas. Os personagens viraram bonecos e fazem shows em cidades ao redor do Espírito Santo.