Sobreviventes

Dois dias à deriva: bombeiro detalha resgate de empresário e piloto no mar

Maikel Araújo, criador do MacaKids, e Ronald Menezes sobreviveram com racionamento até serem resgatados

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Foto: Reprodução / Vídeo
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O empresário capixaba Maikel Araújo dos Santos, criador do projeto cultural Macakids, e o piloto de lancha Ronald Menezes foram encontrados à deriva no mar após mais de dois dias sem comunicação, alimentação e água potável.

Eles desapareceram no último domingo (28), quando saíram de Ubu, em Anchieta, para uma pescaria submarina. Uma pane elétrica na embarcação deixou o sistema de rádio inoperante, impossibilitando contato com a costa. O último registro de comunicação foi às 9h27 daquele domingo.

Só no fim da tarde de terça-feira (30) eles foram avistados por tripulantes do navio mercante Santos Supplier, que prestava serviço à Petrobras, a cerca de duas milhas náuticas do Porto do Açu, em Campos dos Goytacazes (RJ).

Como foi o resgate

Segundo o Corpo de Bombeiros Militar do Espírito Santo, o piloto do navio avistou sinais de socorro por volta das 17h30, enquanto retornava ao alto-mar. A embarcação estava sem motor e sem rádio, isolada em meio a fortes correntes marítimas que, segundo o tenente-coronel Cristiano Malacarne, fizeram com que a lancha se afastasse ainda mais da costa.

A bordo do navio, Maikel e Ronald receberam água, alimento e roupas. Ambos apresentavam sinais de desidratação, consequência do tempo sem acesso adequado a recursos.

Segundo o Cristiano Malacarne, tenente-coronel do Corpo de Bombeiros, “eles tinham suprimento de água suficiente apenas para o primeiro dia e decidiram racionar. Isso foi fundamental para a sobrevivência. Além disso, consumiram peixe cru pescado por eles mesmos, mesmo sem saber sua procedência”.

O comandante destacou ainda a importância da experiência dos dois:

O raciocínio rápido deles, manter a calma e preservar recursos foi essencial. Essa experiência aumentou a sobrevida deles. Não é fácil tomar a decisão de racionar quando se está com sede e fome, mas eles conseguiram.

Cristiano Malacarne, tenente-coronel do Corpo de Bombeiros

O retorno para casa

Após o resgate, Maikel e Ronald foram escoltados pela Marinha até o Porto do Açu, onde foram transferidos para outra embarcação e levados ao Espírito Santo. Eles chegaram ao quartel dos Bombeiros por volta das 4h15 desta quarta-feira.

Uma viatura os levou separadamente para casa: Maikel para Vila Velha e Ronald para Vitória, ambos recebendo o calor da família após dias de angústia.

O tenente-coronel explicou que, além do desafio da falta de água e comida, Maikel e Ronald enfrentaram condições adversas: insolação, frio, correntes marítimas e ausência de comunicação.

A lancha ficou à deriva por dois dias, sem saber quando ou se seriam resgatados. O vento soprava de nordeste, afastando-os ainda mais da costa, o que aumentou o risco.

Cristiano Malacarne, tenente-coronel do Corpo de Bombeiros

Eles relataram ainda ter visto luzes e embarcações próximas, sinalizando por socorro desde domingo à noite. A resposta só veio na terça-feira, quando foram finalmente encontrados pelo navio mercante.

“Agradeço a Deus por nos ter dado paciência”, declara piloto

Após o resgate, o piloto Ronald fez um relato emocionante. Ele agradeceu as orações e destacou a importância de ter tido paciência e sabedoria diante da situação.

A situação que a gente estava lá não foi fácil. Agradeço a Deus por nos ter dado paciência para termos um pouco de sabedoria para fazer o que a gente pode fazer para estar aqui hoje enviando essa mensagem para vocês.

“Não vejo a hora de ver minha esposa e minha filha que está para nascer”, diz empresário

Ao chegar em terra firme antes de viajar de volta ao Espírito Santo, Maikel fez um desabafo emocionado, agradecendo pelo apoio e ressaltando a expectativa de reencontrar a família.

Queria agradecer o carinho e a preocupação de todos vocês. Saber que a gente é querido assim. Não vejo a hora de ver minha esposa e minha filha que está para nascer. De verdade, achei que não fosse conseguir, foi muito desesperador. Só agradecer a Deus e a vocês pelo empenho em achar a gente.

Leiri Santana, repórter do Folha Vitória
Leiri Santana

Repórter

Jornalista pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e especializada em Povos Indígenas.

Jornalista pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e especializada em Povos Indígenas.