Por Bruno Calheiros e Thiago Cardoso – respectivamente coordenadores de Obras do Trecho Norte e de Sustentabilidade da Ecovias Capixaba
A gestão de uma rodovia federal como a BR-101, com seus 478 km sob responsabilidade da Ecovias Capixaba, exige mais do que excelência técnica. Exige visão de futuro. E essa visão passa, necessariamente, pela integração entre engenharia e sustentabilidade — duas áreas que, historicamente vistas como paralelas, hoje caminham lado a lado, construindo soluções que respeitam o meio ambiente e promovem o desenvolvimento social.
Ao longo dos últimos anos, a engenharia rodoviária deixou de ser apenas uma disciplina voltada à infraestrutura. Ela passou a incorporar princípios de sustentabilidade em todas as etapas dos projetos: do planejamento à execução, da manutenção à operação. Essa transformação é visível nas ações da Ecovias Capixaba, que conciliam a expansão da malha viária com a preservação dos ecossistemas e o cuidado com as comunidades lindeiras. A sustentabilidade, por sua vez, ganhou protagonismo. Hoje, a área participa ativamente da definição de traçados, da escolha de materiais, da gestão de resíduos e da mitigação de impactos ambientais e sociais. A presença de fauna silvestre, a proteção de áreas de vegetação nativa e o respeito às comunidades tradicionais são fatores considerados desde o início de qualquer intervenção regional.
Passagens de Fauna reduzem atropelamentos de animais
Essa convergência se materializa em iniciativas como a criação de passagens de fauna que interligam um lado ao outro da BR-101, permitindo a conectividade ecológica entre fragmentos de Mata Atlântica. A Ecovias Capixaba já possui nove instrumentos instalados em Sooretama e prevê mais 34 para a rodovia. Do mesmo modo, o monitoramento ambiental é contínuo, orientando decisões técnicas com base em dados reais, além de iniciativas voltadas para a mitigação da crise climática e uma relação mais estreita com a academia, a fim de co-criar soluções inéditas e inovadoras. O apoio a programas sociais, ambientais e educativos amplia o alcance das ações, envolvendo as comunidades e estimulando seu potencial, de modo que o desenvolvimento da infraestrutura viária também se reflita na qualidade de vida daqueles que vivem ao redor da rodovia.
Do ponto de vista da engenharia, um exemplo concreto dessa prática pode ser observado nas obras realizadas. A concessionária reaproveita o fresado, material resultante da remoção de partes de pavimento asfáltico danificado, que é reincorporado em novas camadas de pavimentação, substituindo parte dos agregados pétreos, reduzindo a necessidade de extração de novos recursos.
Pneu reciclado para constituição de asfalto
Somente em 2024, foram utilizadas 85 mil toneladas de massa asfáltica em obras de expansão e reabilitação de 168 quilômetros de pavimento. No mesmo período, mais de 41 mil toneladas de fresado foram aplicadas em intervenções estratégicas, como a ampliação do trecho sul, a execução do dispositivo de retorno no quilômetro 293, em Cariacica, e a restauração do pavimento entre os municípios de João Neiva e Serra.
A mesma estratégia será adotada nas obras em curso, tanto no Sul quanto no Norte do estado, assim como a utilização do asfalto borracha, que possui em sua composição o pó de borracha de pneu reciclado. Somente em 2024, 85 mil pneus foram retirados da natureza.
Além de sustentável, a medida vai ao encontro de um outro pilar do negócio: a segurança viária, já que garante mais aderência dos pneus dos veículos que trafegam pela rodovia.
São inúmeros os exemplos que comprovam que o diálogo entre engenharia e sustentabilidade – que no passado sequer era pensado – é capaz de gerar resultados concretos e multidimensionais, que vão desde a preservação dos ecossistemas até a garantia de mais segurança para as pessoas, sem falar na viabilidade econômica a longo prazo, com redução de custos operacionais e abertura de novos mercados e empregos.
A BR-101 é mais do que uma rodovia. É um corredor de desenvolvimento que conecta paisagens, histórias e modos de vida. E é nosso dever garantir que esse desenvolvimento seja sustentável, seguro e inclusivo. Por isso, áreas de conhecimento distintas não devem mais ser vistas como forças opostas, mas como complementares. Juntas, elas constroem pontes, não apenas físicas, mas também entre o progresso e a preservação, entre o presente e o futuro.