A partir desta edição, a coluna Saúde em Fórum passa a contar com a contribuição de Milton José F. B. Jr., cofundador do Instituto de Medicina Reprodutiva e especialista em Transformação Digital pelo Hospital Albert Einstein. Ele é colunista convidado para análises do setor. Suas análises irão acompanhar os principais movimentos da área, sempre a partir do encontro entre tecnologia, consciência e propósito.
Neste artigo, confira a análise que ele fez do último Rede Saúde Summit:
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Por que o futuro da saúde não será definido pelos algoritmos mais rápidos, mas pelos ecossistemas que honram a vida. Uma leitura viva do Rede Saúde Summit 2025 pelo olhar de quem acredita que a tecnologia diz mais sobre nós do que imaginamos.
O Chamado do Maestro
O auditório estava tomado pela expectativa típica dos grandes eventos de inovação: IAs, dados, algoritmos, dashboards, startups e promessas de eficiência. Gente de todo ecossistema de saúde capixaba, com o brilho no olhar “típico de quem ao olhar a floresta não perde a visão da árvore” e que, portanto, acredita na promessa da inovação.
O ambiente vibrava com a energia das novas tecnologias, apresentadas pelas startups capixabas, cujas ideias irradiavam ousadia e vontade de resolver a dor do próximo.
E eis que um capixaba sobe ao palco: Victor Piana Andrade, CEO do A.C. Camargo/SP — de raízes profundas e visão global — não trouxe números, gráficos ou slogans futuristas. Ele trouxe uma verdade: “Se cada player usar IA apenas para maximizar o próprio resultado, vamos secar o reservatório antes mesmo de encontrarmos a solução.”
Um silêncio toma conta do Rede Saúde Summit 2025. Não um silêncio de dúvida, mas aquele tipo de silêncio que acontece quando todos entendem, ao mesmo tempo, que existe algo maior precisando ser visto.
Ali percebi:
a crise da saúde não é tecnológica, é humana.
O que falta não é IA.
É inteligência ampliada.
Inteligência Ampliada e o futuro da Saúde
A Nota de Virada
O Rede Saúde Summit 2025 ampliou o ponto de vista de que estamos vivendo um ponto de inflexão:
• O Brasil está envelhecendo rápido demais.
• A demografia desaba silenciosamente.
• A economia não acompanha a curva de dependência.
• A saúde se vê sufocada, setorizada, reativa.
Mas há forças que só o Brasil tem:
uma criatividade que brota da adversidade,
uma esperança que insiste,
uma capacidade de reconstrução que surpreende.
Essa força precisa de uma nova lente. E essa lente é a Inteligência Ampliada.
A Crise de Fertilidade e o Futuro da Humanidade
Enquanto as temáticas discorriam sobre tecnologia de ponta e as startups apresentavam soluções inovadoras, um tema se infiltrava nas conversas de corredor:
Estamos vivendo a maior crise de fertilidade da história moderna.
E não é exagero:
• Coreia do Sul atingiu 0,72 de taxa de fertilidade — mesmo com incentivos altíssimos.
• Itália, Espanha, Japão vivem cenários demográficos irreversíveis.
• França paga bônus para tentar equilibrar a balança.
• Portugal já não repõe a sua própria população.
Falar de fertilidade não é falar de um nicho, é falar do futuro da humanidade.
E saúde, sem futuro, é só tratamento. Não propósito.
Há vida após o câncer — e essa vida pode ser fértil
Hoje, graças à ciência, milhares de brasileiros sobrevivem ao câncer e isso é extraordinário.
Mas precisamos fazer uma pergunta simples e profunda:
“O que vem depois da cura?”
A Inteligência Ampliada nos conduz a enxergar que saúde não é apenas sobre vencer doenças — é sobre devolver futuros.
E devolver futuro envolve fertilidade, acolhimento, dignidade, reconstrução e propósito.
Saúde não é destino.
É caminho.
O Espelho 3I Atlas — Uma consciência em Emergência
Existe um conceito ainda pouco difundido, mas profundamente simbólico: o 3I Atlas.
Não é método nosso.
Não é criação individual.
É um espelho — uma forma de interpretar a transição que estamos vivendo no mundo.
Inspirado em reflexões contemporâneas, ecoando Jung e o mito de Atlas, o 3I Atlas se organiza em três eixos:
• Inteligência — dados que calculam.
• Inovação — processos que conectam.
• Integração — consciência que desperta.
Atlas acreditava carregar o céu, até perceber que o firmamento nunca precisou ser sustentado — ele sempre esteve dentro.
Assim também acontece conosco: a IA não carrega a saúde. A consciência é que sustenta a IA.
Dessa percepção nasce, inevitavelmente, a Inteligência Ampliada — a tecnologia que revela o humano, não que o substitui.
ES: Território-Semente da nova consciência em Saúde
Não é coincidência que essa conversa esteja emergindo a partir do Espírito Santo. Aqui, onde as marés ensinam sobre ritmo, onde a terra ensina sobre resiliência, e onde as pessoas aprendem, desde cedo, que tudo é possível quando se vive “com propósito e presença”.
Na bandeira, uma frase antiga guarda um código para o futuro: “Trabalha e Confia.”
A Inteligência Ampliada nasce disso:
• do trabalho humano,
• e da confiança no invisível que nos orienta.
A tecnologia serve quando está a serviço da vida e seca quando se afasta dela.
E se o Brasil for o berço da Saúde do Futuro?
Por que não?
Temos tudo que o mundo não tem mais:
• biodiversidade,
• criatividade social,
• calor humano,
• espiritualidade discreta e sólida,
• capacidade de regenerar,
• e um senso de comunidade único.
Talvez, como Jung sugeria, a consciência coletiva esteja dando um próximo passo. E esse passo, embora muitos esperem que surja nos grandes centros tecnológicos, já floresce aqui em terras capixabas por meio de iniciativas que convergem, como a Rede Saúde — no território onde se trabalha e confia.
O Código da Inteligência Ampliada
A saúde do futuro não será:
• a mais robotizada,
• nem a mais digital,
• nem a mais veloz.
Será a mais humana.
Será aquela que souber unir:
• tecnologia + propósito,
• dados + significado,
• eficiência + compaixão,
• ciência + consciência.
Essa é a Inteligência Ampliada. Essa é a ponte entre o visível e o invisível.
Essa é a fase que começamos a assinar em Vitória do Espírito Santo. E estamos apenas começando.
Não escrevo para explicar a tecnologia. Escrevo para revelar o que ela está nos dizendo sobre nós mesmos.
Porque, no fim, a vida é a métrica final.
Tudo que não serve à vida, seca.
Tudo que serve à vida, floresce.
Milton José F. B. Jr é:
- Empreendedor capixaba e colunista convidado do Rede Saúde.
- Anjo-investidor no ecossistema Bossa Nova, cofundador do Instituto de Medicina Reprodutiva e especialista em Transformação Digital pelo Hospital Albert Einstein.
- Certificado em Experiência do Paciente pelo Disney Institute, atua na integração entre inovação, cuidado e inteligência ampliada na saúde.
Dra. Alice Sarcinelli é professora doutora da UFES, empresária e Head de Saúde da Rede Vitória de Comunicação
