Cotidiano

Maioria das possíveis vítimas de tráfico humano no ES é mulher

Painel sobre Tráfico de Pessoas de 2024 do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) revela finalidade do crime e perfil das vítimas

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Tráfico humano
Foto: Canva Pro

O tráfico humano no Brasil tem como principais objetivos viabilizar o trabalho análogo à escravidão e a exploração sexual. Para a primeira finalidade, os homens são a maioria das vítimas; já para a segunda, o foco são as mulheres.

No Espírito Santo, entretanto, o perfil majoritário das vítimas é diferente, conforme dados do Painel sobre Tráfico de Pessoas de 2024, divulgado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), no dia 4 de julho.

De 2017 a 2024, foram registradas 21 denúncias de tráfico humano no Estado, com a maior parte das possíveis vítimas sendo mulheres (pelo menos 15 delas) e crianças ou adolescentes (18 do total) – de até 18 anos. O ano com mais denúncias recebidas foi o de 2024, com 7.

As denúncias são anônimas e não representam o número total de vítimas identificadas. No país todo, ao longo dos sete anos, foram 857 denúncias recebidas pelo Disque Direitos Humanos (Disque 100).

O registro mensal de atendimentos às vítimas de tráfico humano feitos pela Assistência Social capixaba somam 189, enquanto as notificações de tráfico de pessoas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) somam 43 ao longo dos sete anos analisados.

Neste período, foram instaurados 14 inquéritos pela Polícia Federal para apurar possíveis situações de tráfico humano no Espírito Santo. Já os procedimentos investigativos instaurados pelo Ministério Público do Trabalho para investigar os casos relacionados ao trabalho escravo são 20; pelo Ministério Público Federal, 5.

Um dos pontos que merece destaque na questão do tráfico humano são as rodovias. Por mais que a Polícia Rodoviária Federal não tenha identificado vítimas do crime nas estradas federais no Estado, nelas foram contabilizados 435 pontos de vulnerabilidade – ou seja, locais em que crianças e adolescentes podem ser abusados sexualmente.

Tráfico humano e a realidade nacional

Em todo o país, no último ano, além dos casos de tráfico com o objetivo para trabalho escravo (40,9%) e exploração sexual (31,5%), também foram registrados casos para servidão (21,5%) e adoção ilegal (6%).

Em sua maioria, as vítimas, como sugerem os dados dos atendimentos pelo SUS, são pretas e pardas. Em 2024, este grupo representou 56,6% das pessoas atendidas.

O que mostram os inquéritos é que, dentro do Brasil, o tráfico para fins de trabalho escravo está mais presente nos setores da construção civil, agricultura, fazendas, indústria têxtil e trabalho doméstico.

Já no exterior, o crime tem alimentado plataformas digitais de apostas em países asiáticos, destino de mais da metade das vítimas, especialmente as Filipinas.

Para a Europa, as vítimas, maioria mulheres, são traficadas para a exploração sexual, principalmente na Itália e na Bélgica.

Formas de aliciamento

Segundo o Relatório Nacional sobre Tráfico de Pessoas de 2024 do MJSP, a internet tem se consolidado como um dos principais meios de aliciamento de vítimas de tráfico de pessoas no Brasil.

Nos casos com fins de exploração sexual, as mídias sociais foram apontadas como o principal canal de recrutamento. Elas foram mencionadas em 52% dos casos mapeados por profissionais da rede de enfrentamento.

Já no tráfico para trabalho em condições análogas à escravidão, o aliciamento por conhecidos ou amigos aparece em primeiro lugar (28%), seguido da internet (26%).

*Com informações da Agência Brasil

Julia Camim

Editora de Política

Atuou como repórter de política nos veículos Estadão e A Gazeta. Jornalista pela Universidade Federal de Viçosa, é formada no 13º Curso de Jornalismo Econômico do Estadão em parceria com a Fundação Getúlio Vargas.

Atuou como repórter de política nos veículos Estadão e A Gazeta. Jornalista pela Universidade Federal de Viçosa, é formada no 13º Curso de Jornalismo Econômico do Estadão em parceria com a Fundação Getúlio Vargas.