Belo Horizonte

Mulher diz que trabalhou 33 anos em casa de advogados sem receber salário

Maria Aparecida da Silva, de 57 anos, conta que sofria maus-tratos na casa do casal de advogados, que agora estão sendo processados

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Maria Aparecida da Silva
Foto: Reprodução/Record TV (Balanço Geral Minas Gerais)

Um casal de advogados de Belo Horizonte está sendo processado por uma ex-funcionária. A mulher, de 57 anos, diz que trabalhou na casa deles, em regime análogo à escravidão, durante 33 anos. Segundo a denúncia, Maria Aparecida da Silva nunca recebeu salário, férias ou outros direitos trabalhistas.

Maria Aparecida chegou à capital mineira em 1994, acompanhada da sobrinha, para trabalhar com a família. Segundo os parentes, a promessa era de um trabalho com carteira assinada, mas não foi isso que aconteceu. Ela teria recebido apenas alimentação e moradia.

Na denúncia, Maria conta que ela sofria maus-tratos dos patrões, quando não sabia fazer algum tipo de serviço doméstico. Ela diz também que não tinha folgas ou intervalos de descanso e que não podia ter contato com os seus familiares.

Maria Aparecida da Silva sentada em uma cadeira e sendo cuidada pela sobrinha
Maria Aparecida da Silva é cuidada hoje pela sobrinha Marilene. Foto: Reprodução/Record TV (Balanço Geral Minas Gerais)

Depois de AVC, doméstica foi entregue para a sobrinha

A sobrinha dela, Marilene Silva, de 56 anos, conta que elas perderam contato durante todo o período em que a tia trabalhou. Elas se reencontraram quando a assistente social do Hospital das Clínicas procurou os parentes depois que a mulher sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral). Atualmente, a sobrinha cuida da vítima, que depende de ajuda após os problemas de saúde.

Em 2024, de fevereiro para cá, ela já começou a ter mais AVCs. Em fevereiro, ela teve alta, voltou em abril. Em abril, ela ganhou alta, voltou em maio. Aí, quando foi em maio, ela teve outro AVC, e voltou em junho. A partir de junho, ela não voltou mais para a casa deles. Café, remédio, banho, fralda, tudo apertado. Na verdade, eu não tenho tempo nem de cuidar mais de mim mesma, porque você não posso deixá-la sozinha.

Marilene Silva, sobrinha de Maria

Maria Aparecida fala muito pouco, mas menciona o casal, dois filhos e uma neta dos patrões, que de vez em quando estava lá e diz que sente saudade das crianças que praticamente ajudou a criar. “Muita saudade.” “Nossa, meu Deus.”

O advogado Alexandre de Oliveira, que representa a família, diz que vai buscar na Justiça os direitos trabalhistas de Maria Aparecida.

“Ela trabalhou em jornada extensa, sem salário, sem hora extra, sem carteira assinada, sem férias, sem 13º. Infelizmente, nós temos a prescrição quinquenal na Justiça do Trabalho, mas vamos buscar todas as verbas trabalhistas dos últimos cinco anos dela. Iremos buscar uma indenização cível na Justiça comum, porque entendemos que a juventude dela foi roubada, ceifada. E, na esfera criminal, iremos acompanhar as investigações, porque estamos diante de um crime também.”

Uma vizinha dos advogados, que preferiu não se identificar, confirma a história contada por Maria Aparecida e diz que já suspeitava do trabalho análogo à escravidão. “Ela quebrava o galho de todo mundo. Como ela não saía de casa, praticamente, só se fosse a mando deles (patrões), todo mundo do prédio só mandava entregar as coisas lá, porque a Cida recebia. Super gentil, super bacana…A gente queria visitá-la depois que ela passou mal, mas eles não deram o endereço. Tomara que ela consiga o que está pedindo porque é mais do que merecido.”

A vizinha afirma também que os patrões de Maria Aparecida costumam causar problemas no prédio, além de não pagarem o condomínio. Os antigos patrões de Maria foram procurados pela reportagem, mas não atenderam.

*Com informações de Túlio Lopes, do R7 Minas.

Redação Folha Vitória

Equipe de Jornalismo

Redação Folha Vitória é a assinatura coletiva que representa a equipe de jornalistas, editores e profissionais responsáveis pela produção diária de conteúdo do Folha Vitória. Comprometida com a excelência jornalística, a equipe atua de forma integrada para garantir informações precisas, atualizadas e relevantes, sempre alinhada à missão de informar com ética, democratizar o acesso à informação e fortalecer o diálogo com a comunidade capixaba. O trabalho do grupo reflete o padrão de qualidade da Rede Vitória de Comunicação, consolidando o veículo como referência em jornalismo digital no Espírito Santo.

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