Cotidiano

Narrativa territorial: como estados vendem suas marcas e atraem investimentos?

Comunicação territorial vai além da divulgação de conquistas. Ela constrói uma marca que só se sustenta com bases sólidas de governança

Leitura: 4 Minutos
Avenida Reta da Penha
Vista de drone da Avenida Nossa Senhora da Penha, em Vitória. Foto: Thiago Soares/Folha Vitória

O que é comunicação territorial e por que estados investem nisso. Em um mundo cada vez mais competitivo por investimentos, talentos e reconhecimento, estados e regiões descobrem que não basta apenas ter bons indicadores econômicos ou sociais, é preciso saber comunicá-los.

A comunicação territorial surge como uma estratégia para construir e posicionar a imagem de um território, transformando dados e conquistas em narrativas atrativas que dialoguem com diferentes públicos.

Mais do que simples marketing governamental, a comunicação territorial é um conjunto de ações que visa criar uma percepção positiva sobre um estado ou região:

“ES está entre os cinco estados mais acolhedores do Brasil em 2025”

Ela envolve desde a construção de uma identidade visual até a elaboração de uma narrativa que destaca os diferenciais competitivos do território.

Na construção da estratégia se faz necessário o embasamento em fatos e indicadores mensuráveis para proporcionar consistência.

“ES lidera crescimento na geração de empregos formais em abril”

No Espírito Santo, essa estratégia ganhou contornos mais claros nos últimos anos, frente a desafios como limitações geográficas, populacionais e legislações desfavoráveis relativas a incentivos fiscais, por exemplo.

Frases como “O ES nunca vai ser o maior estado, mas pode ser o melhor” não surgem por acaso. Elas destacam qualidades como eficiência na gestão, ambiente de negócios favorável e qualidade de vida.

Tranquilizam investidores nacionais e internacionais, empresas em busca de expansão e profissionais qualificados, criando uma narrativa positiva baseada em um plano com prazo e metas definidos.

“Plano ES 500 Anos propõe transformação do Estado até 2035”

Rankings e notas são acompanhados de perto, para, quando favoráveis, serem divulgados.

“ES conquista nota A+ do Tesouro Nacional pelo segundo ano seguido”

O associativismo com empresas e empresários cria uma rede que dá fôlego à estratégia.

“Único estado nota A desde a criação do ranking”

Esses indicadores são transformados em ferramentas de comunicação que reforçam a narrativa de um estado pequeno, mas bem administrado e atrativo para investimentos.

Um dos maiores desafios neste caso é a transformação de dados técnicos em narrativas acessíveis aos públicos e outro desafio está no timing da divulgação destas notícias positivas.

A construção da imagem demanda a participação de alguns agentes de propagação, começando com as redes institucionais bem elaboradas e atualizadas. A mídia local e nacional também exerce um papel importante.

Para que funcione, a estrutura de assessoria de comunicação precisa ser ágil e organizada, com um orçamento dedicado ao fim. Mas existem também outras ferramentas úteis, como a participação em feiras, eventos de negócios, missões econômicas e diplomáticas internacionais ou até parcerias com influenciadores.

Mas comunicação territorial vai além da simples divulgação de conquistas. Ela constrói uma marca que só se sustenta com bases sólidas de governança e planejamento estratégico.

O sucesso dessa estratégia depende da capacidade de transformar dados técnicos em mensagens que conectem com investidores, empresas, talentos e a própria sociedade, gerando orgulho.

Em um cenário de intensa competição entre territórios, a comunicação deixou de ser um complemento para se tornar ferramenta essencial na atração de investimentos e desenvolvimento econômico, mas por mais elementar que pareça, muitos estados e territórios ainda não dão devida atenção ao assunto.

Maya J. Gobira Meneghelli

Colunista

Francesa, linguista pela Ufes e mestre em comunicação política pela Universidade Internacional de Valência, pesquisa sociedade e discursos de lideranças femininas. Atua em estratégias de comunicação política e corporativa, media training e posicionamento, além de ser especialista em imagem e comunicação não verbal.

Francesa, linguista pela Ufes e mestre em comunicação política pela Universidade Internacional de Valência, pesquisa sociedade e discursos de lideranças femininas. Atua em estratégias de comunicação política e corporativa, media training e posicionamento, além de ser especialista em imagem e comunicação não verbal.