Praias da Curva da Jurema, Guarderia e Praia do Canto. Foto: Jansen Lube/PMV
Praias da Curva da Jurema, Guarderia e Praia do Canto. Foto: Jansen Lube/PMV

Quando uma multinacional instala operações em uma cidade litorânea, ou quando um profissional de São Paulo assume um cargo executivo em Vitória surgem inevitavelmente tensões relacionais.

Não se trata apenas de variações climáticas ou do cenário, mas de códigos culturais que impactam desde a comunicação não verbal até as estratégias de comunicação institucionais.

O discurso profissional em municípios do litoral enfrenta um desafio, adaptar-se às normas culturais locais ou replicar padrões dos grandes centros. O dilema é manter a credibilidade inserindo-se na informalidade local.

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Os obstáculos não são os mesmos em todas as cidades, pois deve-se levar em conta as características da economia local. Por exemplo a turística Balneário Camboriú não pode ser comparada com a portuária Santos. Isso abre espaço para estratégias distintas.

Dialogar em um ambiente industrial não é o mesmo que comunicar em um cenário turístico. As estações também influenciam. Durante o verão em cidades praianas a vida se volta para o mar, empresas e governos podem adaptar sua narrativa oficial, tornando-a próxima e acessível. É mais provável ver um prefeito de chinelo em Vitória que em São Paulo onde a atitude talvez criaria um ruido.

A vantagem é que o contexto informal aproxima as pessoas tronando mais simples e descontraído falar de negócios em um restaurante à beira mar. O ambiente com brisa estreita as relações interpessoais favorecendo conexões.

A proximidade ao mar pode ser um ativo, organizações usam características regionais com sucesso, no entanto, a armadilha é não parecer um negócio voltado ao turismo. Escritórios de serviços tendem a evitar essas referências quando necessitam impregnar autoridade e formalidade à marca.

Nem sempre destacar a praia fortalece a reputação. Às vezes, pode enfraquecer a percepção das reais competências. O discurso corporativo nestas localidades não é aquele que nega ou exagera características regionais, mas aquela que as incorpora estrategicamente.

Executivos e empresários destas cidades frequentemente relatam maior necessidade de comprovar credibilidade em negociações com clientes de grandes centros. Isso impacta desde a escolha do vestuário até o discurso verbal e a escrita.

Um executivo que chega de São Paulo e impõe códigos metropolitanos pode ser tão ineficaz quanto o executivo local que usa informalidade de forma inadequada. Regiões litorâneas não enfrentam desvantagem narrativa, mas necessidades de ajustes.

Profissionais bem-sucedidos nestes contextos não copiam metrópoles nem se acomodam em estereótipos regionais. Desenvolvem códigos próprios que equilibram características locais. A pergunta não é como competir com grandes centros, mas como usar nossa identidade a favor.

Maya J. Gobira Meneghelli

Colunista

Francesa, linguista pela Ufes e mestre em comunicação política pela Universidade Internacional de Valência, pesquisa sociedade e discursos de lideranças femininas. Atua em estratégias de comunicação política e corporativa, media training e posicionamento, além de ser especialista em imagem e comunicação não verbal.

Francesa, linguista pela Ufes e mestre em comunicação política pela Universidade Internacional de Valência, pesquisa sociedade e discursos de lideranças femininas. Atua em estratégias de comunicação política e corporativa, media training e posicionamento, além de ser especialista em imagem e comunicação não verbal.