O CEO Imperfeito: por que líderes que assumem falhas criam organizações mais fortes

A liderança contemporânea tem revelado um paradoxo: quanto mais os executivos tentam sustentar a imagem da perfeição, mais frágeis se tornam suas organizações. Em ambientes de alta complexidade, não é a rigidez que inspira, mas a capacidade de humanizar as relações de trabalho. A vulnerabilidade, longe de ser um sinal de fraqueza, é uma demonstração de coragem. Reconhecer equívocos, admitir limites e compartilhar incertezas gera vínculos autênticos, aumenta a confiança e prepara equipes para enfrentar o inesperado. Em vez de corroer a autoridade, essa postura a fortalece, pois comunica integridade e maturidade. 

Estudos recentes da Deloitte (2025) confirmam que organizações que cultivam culturas de “aprendizado com falhas” têm 33% mais chances de inovar em setores de alta competitividade. A Harvard Business Review reforça que equipes lideradas por executivos que reconhecem imperfeições apresentam até 19% mais engajamento do que aquelas comandadas por líderes que insistem em transmitir uma imagem de perfeição.

Jim Collins, em Vencedoras por Opção, identificou que as empresas que prosperam em cenários imprevisíveis compartilham disciplina fanática e paranoia produtiva. Essas virtudes só se consolidam em contextos que transformam inconsistências inevitáveis em aprendizado coletivo. Essa transparência consciente abre espaço para autenticidade, criatividade e confiança mútua.

O caso de Satya Nadella à frente da Microsoft ilustra essa tese. Ao assumir a liderança, reconheceu erros estratégicos do passado e reposicionou a companhia com foco em nuvem e inteligência artificial. O resultado foi a valorização de mercado de trilhões de dólares em menos de uma década. A decisão de não mascarar as fragilidades, mas de integrá-las à mudança, fez da vulnerabilidade o motor da transformação.

A Essência do CEO Imperfeito

O CEO imperfeito não é definido pelas fragilidades que carrega, mas pela consciência de que liderar é assumir responsabilidade diante de suas próprias limitações. Ao fazê-lo, ensina equipes que responsabilidade não é ausência de erros, mas coragem de enfrentá-los. Organizações que internalizam essa lógica não apenas crescem: tornam-se mais humanas, mais adaptáveis e mais preparadas para prosperar em tempos incertos. 

Ser imperfeito não significa fragilizar a posição que ocupa. Significa reconhecer limitações de forma estratégica, vinculando-as a aprendizados e ações corretivas. Quando um líder mantém clareza de propósito e consistência entre discurso e prática, a vulnerabilidade não enfraquece: reforça a imagem de força. O verdadeiro poder não está em parecer perfeito, mas em inspirar confiança ao mostrar que é humano e, ainda assim, capaz de conduzir a organização com firmeza.

Rayane Fernandes Goncalves Borges

Colunista

Diretora Geral da SkillsMapping e Mentora de Carreira e Gestão de Pessoas [RH] na Ementor. Neurocientista Comportamental, e Bacharel em Administração, com MBA em Gestão e Liderança de Pessoas pela UFRJ.

Diretora Geral da SkillsMapping e Mentora de Carreira e Gestão de Pessoas [RH] na Ementor. Neurocientista Comportamental, e Bacharel em Administração, com MBA em Gestão e Liderança de Pessoas pela UFRJ.