Crianças nas escolas
Foto: Canva

Qual é a imagem que vem à sua mente quando você ouve as palavras sala de aula? Quais
são as características físicas desse lugar?

De forma direta, fiz essa pergunta ao Google, mas acrescentei dois marcadores temporais:
escrevi na primeira caixa de busca “sala de aula 1900” e, na segunda, “sala de aula 2025”.

Eis que, tiradas as diferenças na qualidade das fotos e nas roupas de alunos e professoras,
a estrutura básica era praticamente a mesma: carteiras enfileiradas, alunos copiando e o
professor à frente, escrevendo ou falando para todos. Infelizmente, não me surpreendi. E
me perguntei: como essa estrutura ainda afeta a educação?

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Em educação, existe um conceito chamado Terceiro Educador. Ele se refere ao ambiente
físico — salas de aula, áreas de convivência, espaços comuns e à própria arquitetura
escolar — que, junto com o segundo educador (os professores), exerce papel ativo na
formação das crianças e jovens.

Assim como os pais — os primeiros educadores — cuidam de prover um ambiente
favorável ao desenvolvimento dos filhos em casa, as escolas também devem fazê-lo e
acompanhar a evolução do tempo.

Se fizermos uma busca semelhante no Google para “carros de 1900” e “carros 2025”, ficaremos surpresos com o quão evidentes são as transformações estruturais — sobretudo quando as comparamos com os tímidos “avanços” nas estruturas físicas das escolas.

O Terceiro Educador comunica a forma de pensar e de conceber educação que rege uma
instituição. Entramos na escola. Toca o sinal. Todos na sala. Após tempos marcados, novos sinais tocam. Alunos saem e voltam ao ouvir os sinais. Qualquer semelhança com uma unidade prisional não é mera coincidência. Internamente, o cérebro lê isso como luta ou fuga.

Basta observar os movimentos dos alunos: salas monocromáticas e idênticas umas às outras,
onde se passa horas a fio, pouco favorecem o movimento do pensar. Ainda que haja
silêncio e um aparente estado de atenção, o que se tem, muitas vezes, é dispersão e tédio.

Há pouco estímulo à curiosidade e ao protagonismo. E esse é um dos grandes gaps entre a
escola de hoje e o que o mundo — muito além do mercado de trabalho — espera dos
adultos em suas carreiras.

Difícil imaginar atitudes empreendedoras e promotoras de mudança em um modelo que, pela estrutura, comunica que o professor detém todo o conhecimento e o “transfere” aos alunos, que depois precisam “devolver” o que lembram. Mas será que aprenderam? Ou apenas lembraram?

E quanto à saúde mental dos alunos que entram em uma sala, sentam em seu lugar e lá
permanecem por um ou dois turnos inteiros, saindo apenas para lanchar e almoçar? De
nada adianta adotar currículos e programas de desenvolvimento socioemocional se o aluno
pouco interfere em seu entorno e passa o dia obedecendo comandos, confinado por 200
dias letivos ao ano.

Uma das boas práticas para a promoção da saúde mental nas escolas é justamente a
alocação de tempo e espaço para a construção da confiança — entre os alunos e entre
estes e os adultos. Salas lotadas, em configurações que não favorecem a interação entre
pares, pouco contribuem para o estabelecimento de vínculos saudáveis.

Apesar da predominância de ambientes escolares ainda muito similares aos do início do
século passado, há várias escolas ao redor do mundo que adotam arquiteturas mais contemporâneas e intencionais.

O que essas instituições têm em comum?

● Salas temáticas e flexíveis, com espaços de descompressão ou leitura, e decoradas com produções dos próprios alunos.

Uma sala de matemática em que o aluno visualiza fórmulas, teorias e suas relações com o mundo fora da escola tem alto potencial de aproximá-lo da disciplina e de suas aplicações práticas. Além disso, trocar de sala entre uma aula e outra gera movimento — no corpo, nas relações e na forma de aprender.

● Ambientes de estudo individuais e colaborativos, na biblioteca ou espalhados pelo campus, fomentam autonomia e trabalho em equipe.

Num mundo em que, segundo o Fórum Econômico Mundial, o profissional de 2030
precisará mais do que nunca cultivar curiosidade e aprender continuamente, exercitar autonomia e colaboração desde a educação básica é fundamental.

● Espaços amplos e contato com a natureza.

A prática japonesa conhecida como banho de floresta (ou forest bathing) — hoje difundida no mundo inteiro — encoraja a imersão na natureza como forma de promover bem-estar físico e mental e reduzir o estresse.

Muitas escolas já se apropriam dessa sabedoria milenar, investindo na criação e ampliação de áreas verdes para que suas comunidades possam se reconectar com a natureza — e consigo mesmas.

● Infraestrutura esportiva acessível e diversificada.

Alunos em tempo integral passam cerca de sete horas por dia na escola. É essencial que a arquitetura escolar contemple espaços adequados para a prática esportiva, durante e após o horário de aula.

Estimular a conexão corpo-mente é condição para o desenvolvimento integral do ser humano, e o esporte contribui não apenas para a saúde física e mental, mas também para o fortalecimento de competências como liderança, colaboração, disciplina e respeito.

Há muitas outras boas ideias para a criação de ambientes inteligentes e inspiradores em
escolas e universidades. Mas é importante lembrar: qualquer intervenção arquitetônica só
produz resultados reais quando nasce de uma concepção pedagógica coerente.

Não adianta uma sala moderna se a prática pedagógica é a mesma de cem anos atrás — um
professor substituindo o quadro por um PowerPoint. Ainda que estejamos longe de alcançar, na arquitetura escolar, os avanços da indústria automobilística, já existem boas referências que nos inspiram a aprimorar nossos espaços de aprendizagem.

Afinal, o Terceiro Educador pode — e deve — ser um grande aliado na complexa e
fascinante missão de educar.

Cristiano Carvalho

Professor especializado em Linguística Aplicada

CEO da Escola Americana de Vitória. Educador há mais de 30 anos, professor de Inglês com especialização em linguística aplicada. Coordenou projetos bilíngues e de educação internacional em escolas de educação básica, construindo e gerindo currículos e equipes docentes.

CEO da Escola Americana de Vitória. Educador há mais de 30 anos, professor de Inglês com especialização em linguística aplicada. Coordenou projetos bilíngues e de educação internacional em escolas de educação básica, construindo e gerindo currículos e equipes docentes.