
“Parece que tudo volta de novo quando fecho os olho”. Após três semanas de internação, o jovem, de 20 anos, que teve 25% do corpo queimado após um ataque a ônibus, registrado Roda D’água, zona rural de Cariacica, falou pela primeira vez sobre as marcas físicas e emocionais que carrega do dia 25 de agosto de 2025.
Na data, cinco coletivos foram incendiados em retaliação à morte do suspeito de roubo e tráfico de drogas David Pereira de Jesus, de 21 anos.
O jovem retornava do trabalho e dormia em um dos bancos do coletivo, quando o veículo foi cercado por bandidos. Os criminosos entraram no ônibus e obrigaram os passageiros a descerem. Em seguida, atearam fogo no veículo ainda com o passageiro ainda dentro e ele acabou tendo parte do corpo queimado. Veja o momento:
Após receber alta do hospital, o jovem se recupera em casa e conversou com a reportagem da TV Vitória. O rapaz prefere não mostrar o rosto por medo, mas as cicatrizes nos braços, na barriga e nas pernas contam uma história de violência e sobrevivência.
Além das marcas, a memória também recorda o momento em que, mesmo sonolento, viu quando dois criminosos entraram no ônibus e começaram a incendiar o coletivo.
O primeiro estava com uma arma, pensei que fosse assalto e levantei os braços dizendo: ‘pode levar’. Mas ele só mandava descer, foi quando o outro jogou gasolina. Eu não acreditava no que estava acontecendo.
Jovem vítima de ataque a ônibus
A ação foi registrada por uma câmera de videomonitoramento que flagrou quando os criminosos, usando capacetes, passam com um galão e incendeiam o coletivo. Depois, eles retornam, se juntam a comparsas e fogem em motocicletas. Veja a ação:
Durante o ataque, o jovem narra que o braço pegou fogo dentro do ônibus. Ele ainda tentou correr para a porta traseira, entretanto, encontrou a rota de fuga travada.
Eu tentei correr para a porta de trás, mas estava trancada. Só a do meio estava aberta. Quando fui descer, escorreguei na gasolina. Queimei o lado direito do corpo, mas consegui levantar e descer.
Vítima de ataque a ônibus
Passageiro foi entubado
Diante da extensão das queimaduras, o jovem foi socorrido e entubado ainda na ambulância a caminho do hospital.
“Cheguei entubado, porque não estava aguentando de dor. No décimo dia, já consegui sentir menos dor, mas ainda doía muito porque raspavam para limpar”.
Trabalhador, o jovem, que havia conseguido emprego em um supermercado há menos de três meses, enfrenta o desafio da readaptação física, emocional e social.
Não consigo me sentir seguro em sair na rua. É muita coisa na cabeça junto. Parece que tudo volta de novo quando fecho os olhos.
Vítima de ataque a ônibus
Mãe fez oração após ver luz de ambulância
Muito emocionada, a mãe da vítima revelou que durante a noite, estranhando a demora do filho, viu uma luz vermelha na rua. Sem entender, fez uma oração e foi dormir.
Apenas no dia seguinte, a técnica de enfermagem descobriu: aquela luz era a ambulância que socorria o filho dela. Desde então, ela tem se dedicado integralmente à recuperação.
Por enquanto, o curativo dele é feito no hospital, de dois em dois dias. Depois, com o tempo, vai ser em casa. A recuperação ainda vai demorar, mas estou firme com ele.
Mãe do jovem ferido em ônibus
Apesar dos traumas, mãe e filho encontram forças na fé e na esperança em que Deus deu uma nova chance. “Hoje só agradeço por ter meu filho de volta em casa. O resto, a gente supera juntos.”
*Com informações da repórter Suellen Araújo, da TV VItória/ Record