
O Pastor Usiel Carneiro de Souza, da Igreja Batista da Praia do Canto, em Vitória, fez uma reflexão nas redes sociais sobre a megaoperação policial de terça-feira (28) contra o Comando Vermelho no Rio de Janeiro que deixou ao menos 121 mortos.
“Jamais morei numa favela. Sou homem e sou hétero. Tive escola, cama e pão. Não vivo sob a incerteza ou o medo. Sinto-me livre. O que devo sentir diante das mortes na favela do Rio? De que lado devo ficar?”, questionou o líder religioso.
No dia seguinte à operação que, segundo o governo, tinha resultado em 64 mortes – sendo 4 policiais -, pelo menos mais 70 corpos foram encontrados em uma área de mata na Serra da Misericórdia pela comunidade do Complexo da Penha, na zona norte do Rio, e levados a uma praça. Muitos deles estavam amarrados e com marcas de facadas.
O número de mortos nos complexos do Alemão e da Penha ultrapassou o do massacre do Carandiru – 111 vítimas -, que aconteceu em 1992, em São Paulo. Isso faz da Operação Contenção a mais letal da história do país.
Diante do cenário, o pastor reflete: “São tantas vidas! São tantos filhos! São tantas mães! É tanta coisa que não vai bem! ‘Tudo isso acontecendo e eu aqui na praça dando milho aos pombos’?”.
Quero ficar do lado dos mais fracos. Como seria bom se toda igreja e todo pastor ficasse do lado do mais fraco. […] Como seria terapêutico se toda pessoa que se reconhece cristã escolhesse o lado do mais fraco, da vítima. Nos impressionaríamos com a frequência que andaríamos lado a lado com Jesus.
Pastor Usiel Carneiro de Souza.
Para a liderança, faltam ouvidos e corações e sobram preconceitos, desconhecimento e enganos. Por isso, ele imagina um “outro lugar”, com “menos justiceiros, menos insensíveis, menos ‘santos’.”
Segundo o pastor, a sua comunidade tem dificuldade em ouvi-lo e pensa que seria melhor para a igreja se ele não se envolvesse. Mas ele se sente “calado demais”.
“O evangelho é tanto mais. É tão mais simples. É tão menos pretensioso. Há tanta fome, tanta sede, tantos precos, tantos doentes, tantos imigrantes, tantas mortes e tantos ‘nãos’. Tantos que só podem ser aceitos se deixarem de ser quem não podem deixar de ser. Será que domingo vamos nos lembrar? Será que Jesus vai se esquecer?”, finaliza o pastor Usiel.