Quando o áudio é institucional demais, ninguém escuta.
Quando o áudio é institucional demais, ninguém escuta

Do release institucional ao podcast. A evolução parece natural. Empresas que investiam em revistas impressas agora produzem áudio. A promessa é sedutora: humanizar a marca, criar proximidade, gerar autoridade. Mas será que funciona?

Nos últimos anos, houve uma explosão de podcasts empresariais. CEOs virando hosts, áreas técnicas ganhando voz, marcas disputando atenção em plataformas de streaming. A ilusão é que basta ter um microfone e conteúdo. Mas não basta.

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Produzir podcast exige investimento. Equipamento, edição, divulgação e acima de tudo consistência. A dificuldade de manter periodicidade em meio àsdemandas corporativas é real. O custo x benefício nem sempre se justifica. Mas o maior desafio não é técnico, é de conteúdo e frequência.

A armadilha está em fazer propaganda disfarçada de conteúdo. Podcasts que ninguém ouve porque são autopromoção pura. Existe diferença entre falar “da” empresa e falar “sobre” temas relevantes. Equilibrar o institucional com o conteúdo genuinamente interessante não é simples.

Executivos lendo roteiros soam artificiais e prejudicam mais que promovem. Quando o CEO não tem perfil para ser host, o resultado é desastroso. Quantos downloads fazem um podcast corporativo ser relevante? A dificuldade de mensurar o alcance real é evidente.

Audiência fiel é difícil de ser conquistada e principalmente mantida. Não é simples fazer um podcast gerar valor. Empresas que conseguiram criar audiência real existem. Mas podcasts corporativos que viram cemitérios digitais são maioria.

O que diferencia os que funcionam dos que falham? Conteúdo real. Não fingir que é conversa quando é comercial. Não subestimar a inteligência do ouvinte.

Será que toda empresa precisa de um podcast? Participar de podcasts de terceiros pode ser mais estratégico que produzir o próprio. A questão central é: estamos produzindo porque temos algo a dizer ou porque está na moda?

Podcasts corporativos vieram para ficar ou é uma moda passageira? A fadiga do público com conteúdo corporativo disfarçado é crescente. Quando vale a pena investir e quando é melhor não fazer? Comunicação corporativa eficaz é desafiadora e não precisa estar em todos os canais. Melhor não ter podcast do que ter um ruim.

A pergunta essencial precisa ser: temos conteúdo relevante ou só queremos aparecer? Podcast como ferramenta exige estratégia, não apenas equipamento e estrutura. O maior risco não é não ter um podcast. O maior risco é produzir um conteúdo fraco que prejudique a imagem da empresa.

Maya J. Gobira Meneghelli

Colunista

Francesa, linguista pela Ufes e mestre em comunicação política pela Universidade Internacional de Valência, pesquisa sociedade e discursos de lideranças femininas. Atua em estratégias de comunicação política e corporativa, media training e posicionamento, além de ser especialista em imagem e comunicação não verbal.

Francesa, linguista pela Ufes e mestre em comunicação política pela Universidade Internacional de Valência, pesquisa sociedade e discursos de lideranças femininas. Atua em estratégias de comunicação política e corporativa, media training e posicionamento, além de ser especialista em imagem e comunicação não verbal.