Qual a importância do Planejamento previdenciário?
O tema previdenciário costuma aparecer nas conversas apenas quando a aposentadoria se aproxima, mas planejar o futuro financeiro e previdenciário é uma necessidade que começa bem antes. Em um país de profundas transformações no mercado de trabalho e com um sistema público pressionado pelo envelhecimento populacional, o planejamento previdenciário, tanto individual quanto coletivo, torna-se um instrumento estratégico de segurança e responsabilidade social.

No âmbito individual, o planejamento previdenciário é o processo de organizar e acompanhar o histórico de contribuições, vínculos empregatícios e regras aplicáveis a cada tipo de benefício, de modo a evitar surpresas no momento da aposentadoria. Cada trabalhador tem uma trajetória única: períodos em empregos formais, eventuais lacunas de contribuição, vínculos como autônomo ou microempreendedor (MEI), entre outros. O acompanhamento técnico permite identificar falhas, complementar contribuições e definir o momento mais vantajoso para requerer o benefício.

O Impacto da Reforma da Previdência

Com a Reforma da Previdência de 2019 (Emenda Constitucional nº 103), que alterou idade mínima, tempo de contribuição e regras de transição, essa organização tornou-se ainda mais importante. Pequenos ajustes, como uma contribuição complementar ou a inclusão de períodos especiais, podem significar diferenças expressivas no valor do benefício e até na data da aposentadoria.

Segundo o Anuário Estatístico da Previdência Social 2023, o Brasil contava com cerca de 38,6 milhões de beneficiários e mais de 77 milhões de contribuintes ativos. Essa proporção, que vem se estreitando com o passar dos anos, mostra que cada contribuição individual tem peso coletivo no equilíbrio do sistema.

Responsabilidade coletiva e desafios atuais

O planejamento previdenciário também é uma responsabilidade coletiva, que envolve empresas, sindicatos e o próprio Estado. Empresas, por exemplo, desempenham papel essencial ao garantir o cumprimento das obrigações trabalhistas e previdenciárias, reduzindo passivos futuros e assegurando que seus colaboradores tenham um histórico contributivo completo.

Sindicatos e entidades de classe, por sua vez, podem atuar na educação previdenciária, orientando seus associados sobre direitos, deveres e alternativas de contribuição, especialmente para categorias com maior rotatividade ou informalidade.

Em nível governamental, políticas que incentivem a formalização do trabalho e a educação financeira previdenciária são fundamentais. Segundo o IBGE, cerca de 38% dos trabalhadores brasileiros atuam na informalidade, o que significa que mais de 39 milhões de pessoas estão fora da contribuição regular ao INSS. Essa realidade ameaça o equilíbrio do sistema e reforça a urgência de um olhar coletivo sobre a previdência.

Minha visão como especialista

Mais do que um cálculo de aposentadoria, o planejamento previdenciário é uma ferramenta de cidadania. Ele ajuda o trabalhador a compreender que sua contribuição é não apenas um investimento pessoal, mas também parte de um pacto social que sustenta milhões de brasileiros.

Incentivar a cultura previdenciária nas escolas, empresas e meios de comunicação pode reduzir a desinformação e prevenir frustrações futuras. Afinal, a previdência é uma construção de longo prazo, que depende da constância, da informação correta e da participação consciente de todos.

O planejamento previdenciário é uma ponte entre o presente e o futuro, entre o direito individual de se aposentar com dignidade e a necessidade coletiva de manter um sistema sustentável. Planejar não é apenas um ato de prudência; é um compromisso com o próprio futuro e com a sociedade.

Caroline Bonacossa

Colunista

Advogada especialista em Direito Previdenciário, mestranda em Administração e Direção de Empresas e pós-graduada em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho. Fundadora e gestora de uma rede com sete escritórios localizados no Espírito Santo e no Rio de Janeiro, palestrante, professora universitária e autora do livro "Ensaios sobre Direito Constitucional: Limbo jurídico do idoso maior de 60 anos de idade" e do ebook "Coletânea Acadêmica Jurídica: A importância do parecer farmacêutico para o reconhecimento de incapacidade laboral".

Advogada especialista em Direito Previdenciário, mestranda em Administração e Direção de Empresas e pós-graduada em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho. Fundadora e gestora de uma rede com sete escritórios localizados no Espírito Santo e no Rio de Janeiro, palestrante, professora universitária e autora do livro "Ensaios sobre Direito Constitucional: Limbo jurídico do idoso maior de 60 anos de idade" e do ebook "Coletânea Acadêmica Jurídica: A importância do parecer farmacêutico para o reconhecimento de incapacidade laboral".