Dia do Orgulho LGBTQIA+

“Resistência e coragem”: guarda-vidas trans de Vitória relata luta contra preconceito

Nathan da Silva Meireles enfrenta uma trajetória de luta contra o preconceito ao buscar o direito de se afirmar

Foto: Acervo pessoal
Foto: Acervo pessoal

Identificado como menina ao nascer, o guarda-vidas de Vitória, Nathan da Silva Meireles, de 27 anos, enfrentou uma trajetória de luta contra o preconceito e buscou o direito de se afirmar perante a sociedade como homem. Durante anos, ele lutou para vencer estigmas e se diz grato em saber que “fez a sua parte na sociedade do Espírito Santo”.

No Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, comemorado neste sábado (28), que marca a luta pelo reconhecimento das liberdades sexuais e contra o preconceito, Nathan compartilha parte de sua jornada de vida com o Folha Vitória.

Nathan conta que começou a se reconhecer como uma pessoa trans durante a pré-adolescência, ao assistir a um programa na televisão que falava sobre transição de gênero. Mas antes disso, já sentia “um não pertencimento” diante do próprio reflexo no espelho de casa.

Me via completamente diferente do que era e sempre me questionava o que estava acontecendo. Meu nome não fazia sentido, as roupas, o corpo… era tudo muito confuso na minha cabeça. Assistindo ao programa, parece que algo floresceu e tudo começou a fazer sentido. No fundo, eu já sabia que era uma pessoa trans.

Nathan iniciou a terapia hormonal em junho de 2018. Além disso, também realizou o processo de mudança de gênero, com a inclusão do nome na certidão de nascimento, no início de 2019, em um mutirão realizado em Vitória.

Entretanto, após essa etapa, esbarrou com o preconceito diante da sociedade, dificuldade na inserção do mercado de trabalho, desafios com o acesso à saúde pública e transfobia.

Nathan relata que antes de se tornar guarda-vidas foi complicado conseguir um emprego fixo. E com as dificuldades, se dedicava a trabalhos como motoboy, motorista de aplicativo e empregos freelancers em restaurantes e lanchonetes.

“Um dos meus primeiros trabalhos depois da transição foi como embalador em um supermercado. Foi complicada a convivência com as outras pessoas, pois ouvia muitos comentários e recebia olhares. A partir daí que percebi que eu sempre seria visto de forma diferente por ser quem eu sou”.

Durante a trajetória, Nathan também foi o primeiro Mister Trans Brasil, representando o Espírito Santo na primeira edição do concurso. “Acabei ficando no Top 3 em 2021 e 2022. Em 2023, fui representar o Estado no primeiro Campeonato para Pessoas Trans de MMA”.

“Ser guarda-vidas significa resistência e coragem”

“Ser guarda vidas, antes, era apenas uma vontade de poder cuidar de pessoas nas praias. Hoje, significa mais do que isso: significa resistência e coragem”, com essa frase, Nathan descreve o sentimento de ser salva-vidas, profissão que abraçou por meio de um processo seletivo.

“O processo de inscrição foi bem tranquilo. Após as inscrições, foi feito o chamado para fazer o TAF (teste de aptidão física). Depois do TAF, foi feito um curso de preparação com o Corpo de Bombeiros durante 1 mês”.

Depois que passou no teste de aptidão física, Nathan entrou em contato com a sargento para saber se teria que fazer exame ou passar por outros requisitos pelo fato de ser trans. “Ela respondeu formar pessoas com comprometimento e a vontade de poder ajudar outras pessoas com a profissão”.

“Mostrar que ‘não padrões’ estão juntos”

Nathan também afirma que ocupar o espaço em uma profissão historicamente marcada por padrões tradicionais de masculinidade é mostrar que muitos “não-padrão estão juntos”, pelo menos no Espírito Santo.

É claro que ser trans é um diferencial, mas ser diferente não torna eles padrão, assim como não me torna exceção. É que ser o primeiro não significa ‘ser exceção’. Que bom que eu e meu corpo também podem fazer parte dessa rede de homens possíveis na profissão. Sempre que nós, pessoas trans, vemos alguém num lugar que é nosso sonho, isso motiva e se torna incentivo.

Repórter do Folha Vitória, Maria Clara de Mello Leitão
Maria Clara Leitão

Produtora Web

Formada em jornalismo pelo Centro Universitário Faesa e, desde 2022, atua no jornal online Folha Vitória

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